Na visão dos participantes, a política ambiental do governo Bolsonaro cria grandes problemas para o agronegócio e as exportações brasileiras. Presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, Molon entende que a forma com que a questão ambiental está sendo tratada pelo governo degrada a imagem do Brasil no exterior. “Os efeitos vão para além da área agropecuária, atinge toda a economia. Com isso, o Brasil vai passar a ser o patinho feio, e isso é péssimo para a economia”, afirmou.
Segundo o líder do PSB, investidores do setor de petróleo também estão preocupados com a política ambiental do governo. “E o que aconteceria se os investidores estrangeiros começassem a vender as ações que tem ao redor do mundo?”, questionou o deputado. Ele mesmo respondeu: “Estas empresas começarão a perder valor e valer menos, perdendo riqueza. Os efeitos vão além da área agropecuária, ligadas diretamente ao desmatamento, e atingem toda a economia brasileira.”
Ex-presidente da frente ambientalista, Nilto Tatto disse que os grandes favorecidos pela política ambiental do atual governo estão fora do país: “São os agricultores da Europa e dos Estados Unidos”. O deputado fez alusão às restrições comerciais que começam a ser impostas aos produtos brasileiros por outros países devido ao desmatamento e às queimadas, por exemplo.
Para Suely Araújo, que integra o Observatório do Clima, a atual política ambiental de Bolsonaro e do ministro Ricardo Salles joga contra o Brasil economicamente. Ela rebateu o discurso do presidente de que os brasileiros que criticam a atuação do governo na área estão a serviço de interesses estrangeiros. “É um discurso bastante antiquado, da Guerra Fria, de quando o mundo não estava globalizado”, criticou.
Na avaliação da ambientalista, os avanços da política ambiental no país nos últimos 40 anos estão sendo destruídos em dois anos. “Isso é muito preocupante, tem de virar assunto da população e haver cobrança para que isso não ocorra. Cobrança de nossos produtores, exportadores. Não é possível destruir a imagem do Brasil deste jeito. E é o governo que está fazendo isso”, ressaltou.
Integrante da bancada do agronegócio, Wellington Fagundes reconheceu que está preocupado com o assunto e que o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga não exagerou ao dizer que o custo dos erros ambientais no Brasil será mais alto que o da pandemia.
O senador, que preside a comissão externa criada pelo Senado para acompanhar os incêndios no Pantanal, afirmou que o presidente se excedeu no discurso feito na Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), acusando índios e caboclos pelas queimadas florestais na Amazônia.
“O discurso do presidente deveria ser menos acusatório dos nossos problemas”, afirmou o parlamentar, que se considera um “amazônida”, já que Mato Grosso faz parte da Amazônia Legal. O foco, aponta ele, deveria ser cobrar da comunidade internacional os investimentos a serem feitos para a proteção da floresta.
O senador defendeu uma ação maior do Estado sobre pequenos produtores que ocupam essas regiões. “[O problema é] quando você deixa as pessoas abandonadas, sem uma política de Estado permanente e perene”, concluiu o parlamentar. “A pesquisa e assistência técnica para o pequeno produtor rural está abandonada há muito tempo, especialmente no Mato Grosso.”
Para Suely, o governo federal chegou tarde e atuou pouco na ajuda aos estados para o que estava ocorrendo no Pantanal e na Amazônia. A especialista em políticas públicas do Observatório do Clima definiu os incêndios florestais que atingiram o bioma no Centro-Oeste brasileiro como “uma tragédia”. Na avaliação dela, o governo deveria ter articulado infraestrutura para combater os incêndios, como o uso de aeronaves. “O Prevfogo do Ibama tem experiência para isso”, afirmou, referindo-se ao Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Instituto.
Molon considera que o Congresso precisa ser mais contundente nas cobranças ao governo. “Ou o presidente da República vai entender que ele vai precisar defender a biodiversidade, o Pantanal e a Amazônia, ou o setor que o apoia, que é o agronegócio, vai ser o maior prejudicado nesta história”.
Para o deputado, é preferível que o Parlamento resolva as questões – mas há casos, segundo ele, em que é preciso ir ao Judiciário. “O Judiciário tem sido acionado porque o Legislativo tem deixado a desejar”, disse. “Se um poder não funciona, é preciso que outro o faça funcionar. Se o Legislativo não está cobrando o Executivo a fazer o que a lei manda, é indispensável ir ao Judiciário.”
Nilto Tatto se mostrou contrário ao modelo expansionista do agronegócio brasileiro. Segundo dados apresentados pelo deputado, 60% das queimadas em Mato Grosso são provocados por médias e grandes propriedades no estado, que seriam também as mais interessadas em regularizar terras públicas adquiridas de maneira ilegal, por grilagem.
O parlamentar esteve no Pantanal no último fim de semana para acompanhar o combate aos incêndios, como parte de uma comissão externa exclusiva da Câmara dos Deputados. “O que nós vimos, lá, in loco, é uma completa inação por parte do governo”, disse .”Com certeza, o Parlamento vai dar uma resposta, aprimorando a legislação, considerando inclusive os agentes que vivem no Pantanal – sejam os grandes pecuaristas, quilombolas, indígenas e a cadeia do turismo.”
Segundo Tatto, o papel do Congresso nesta crise ambiental é o de expor a ação do governo Bolsonaro contra o patrimônio ambiental do país – e também impedir novos retrocessos. “É preciso transformar em lei e política de Estado o que estava dando certo”, disse o deputado paulista.
Dois jornalistas do Congresso em Foco dividiram a mediação da live: Sylvio Costa, fundador do site, e Íris Lucia.
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