Janete Capiberibe *
A história da luta dos “Povos da Floresta” e de todos os defensores da natureza do mundo tem um marco definitivo na sua trajetória, o dia 15 de dezembro. Nesse dia de 1944, no seio da floresta Amazônica, em Xapuri, estado do Acre, vem ao mundo aquele que iria mudar a concepção do homem conviver com a natureza, Francisco Alves Mendes Filho, que o mundo abraçou singelamente como Chico Mendes.
Sua história não é diferente do percurso de tantos homens e mulheres que não se dobraram aos ditames dos poderosos, que tem por ofício coibir a liberdade e a justiça social.
Desde a mais tenra idade Chico Mendes assimilou as dificuldades dos povos da floresta, a sina de sobreviver sob a opressão dos senhores de baraço e cutelo. Portanto, logo entendeu que só a organização consciente de homens e mulheres trabalhadores seria capaz de libertá-los dos grilhões históricos que os afligem.
Sob o lema “União dos Povos da Floresta”, em defesa da natureza Amazônica reuniu indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu, e populações ribeirinhas, em torno da criação das reservas extrativistas. Reservas essas que tinham como objetivo preservar as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento propulsor da reforma agrária. Por conseguinte, estava montada as bases para uma nova concepção de convivência harmônica entre o homem e a natureza, inovação de repercussão internacional.
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Para Chico Mendes, as reservas extrativistas, sua principal bandeira política e ecológica, são áreas pertencentes à União de usufruto de todos os trabalhadores organizados em cooperativas e associações. Para ele, funcionava como princípio a certeza de que na Amazônia não é a terra que precisa ser dividida, mas sim é a floresta que não pode ser privatizada.
Associado a isso, sua relutância em denunciar as ações predatórias e violentas dos fazendeiros contra a floresta e os trabalhadores, as ameaças de morte passaram a ser constantes.
“Cabra marcado para morrer”, a promessa se fez realidade. No dia 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado a tiros na porta de sua casa, exatamente uma semana após ter completado 44 anos.
A Lei número 12.892, de 13 de dezembro de 2013, de nossa autoria, homenageia Chico Mendes declarando-o patrono do Meio Ambiente brasileiro, da mesma forma que emprestar o nome ao Plenário da Comissão da Amazônia traz seus princípios permanentemente à reflexão no parlamento brasileiro.
A luta e a vida de Chico Mendes não foram em vão e muito menos inglórias. Precisamente na atual conjuntura, de visível retrocesso político de um governo ilegítimo e lesa pátria, que golpeia a soberania nacional, mascateia terras com estrangeiros e aliena nossa biodiversidade, o legado de Chico Mendes florescerá como a esperança símbolo de luta do povo brasileiro no resgate da dignidade nacional.
* Deputada federal do Partido Socialista Brasileiro eleita pelo Amapá.
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