Para a filha do ambientalista Chico Mendes e coordenadora do Comitê que leva o nome do pai, as falas de Jair Bolsonaro (sem partido) contra as organizações não governamentais que atuam em defesa dos biomas e dos povos da floresta, faz com que ambientalistas sejam assassinados. “O discurso de Bolsonaro mata os defensores e defensoras do meio ambiente, os povos da floresta, os povos vulneráveis, não só ambientalistas. O discurso de Bolsonaro hoje é um discurso pautado no ódio aos vulneráveis e as minorias”, declarou Angela Mendes em entrevista ao Congresso em Foco.
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O pai de Angela ficou conhecido internacionalmente pela defesa do meio ambiente, em especial, das Unidades de Conservação (UC). Mas, com a fama e o resultado de seu trabalho, Mendes também atraiu a ira de grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais. Ele foi brutalmente assassinado há 31 anos. Chico Mendes virou símbolo de luta pelo meio ambiente e sua filha tenta manter este legado vivo. Angela, entretanto, tem sentido que o momento tem sido de muito perigo para quem, assim como ela, defende as florestas e seus povos.
“Desde que o Bolsonaro começou a sua campanha com esse discurso de ataque às ONGs, de ataques aos movimentos, isso começou a gerar a sensação de impunidade. Não à toa, os assassinatos aumentaram, o desmatamento, as queimadas aumentaram significativamente na Amazônia”, disse a filha de Chico Mendes.
O que Angela diz tem base nos dados. Segundo um estudo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), as invasões em terras indígenas (TI) aumentou em 2019. Apenas de janeiro a setembro de 2019 foram 160 invasões em TIs, enquanto em 2018, ano da eleição de Jair Bolsonaro e da escalada do discurso violento, houveram 111 invasões e em 2017 foram 96.
O relatório do Cimi aponta que na terra indígena Munduruki, no sudeste do Pará, por exemplo, existem mais de 500 garimpeiros ilegais poluindo os rios, desmatando e levando perigo para as vidas dos indígenas e ambientalistas que atuam na região.
PublicidadeO número de indígenas assassinados também cresceu durante a gestão Bolsonaro, foram 135 casos de janeiro a setembro, contra 110 em 2018. Isso significa um aumento de 22%.
Em 11 anos, nunca se matou tantas lideranças indígenas como em 2019. Até o início de dezembro do ano passado foram sete lideranças mortas por fazendeiros e madeireiros ilegais.
No último dia 31, o presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, foi à público atacar os povos indígenas e uma das mais importantes entidades do setor. As palavras do presidente acenderam o alerta vermelho dentro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pois, segundo o secretário executivo do Cimi, Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira a “fala do presidente foi muito desrespeitosa e ao mesmo tempo ela contribui para todo esse processo de violência contra os defensores dos direitos humanos no Brasil”.
“A gente responsabiliza o governo federal, na pessoa do presidente Jair Bolsonaro, por qualquer dano que venha a ser causado aos missionários do Cimi”, disse Antônio Eduardo em entrevista ao Congresso em Foco no início de fevereiro.
O pensamento de Eduardo e de Ângela vai de encontro com o que diz uma das maiores lideranças indígenas do país, Sônia Guajajara. “O presidente deveria cumprir a Constituição Federal e garantir a proteção às nossas vidas e ao meio ambiente. Infelizmente o que vemos é o contrário, um comportamento que não condiz com o de um presidente”, afirmou a liderança em vídeo publicado recentemente na internet.
As ONGs internacionais que fazem o mapeamento de assassinatos de ambientalistas ainda não lançaram o relatório referente a 2019.
Ataques de Bolsonaro em 2020
No último dia 13, o presidente Jair Bolsonaro atacou o Greenpeace, organização internacional não governamental que defende o meio ambiente. “Quem é essa porcaria chamada Greenpeace? Isso é um lixo!”, afirmou na saída do Palácio da Alvorada.
O Greenpeace publicou uma nota em resposta aos ataques feitos pelo presidente, na saída da residência oficial. A organização afirma que o chefe do executivo desconhece a história da ONG , que está presente em 55 países e possui uma trajetória de 28 anos, no Brasil. A entidade afirmou também que a postura do mandatário não condiz como seu cargo.
O presidente também atacou, no último dia 31, organizações não governamentais, em especial as que cuidam dos povos indígenas. No final da transmissão que fez em frente ao Palácio do Alvorada, o mandatário disse que as questões indigenistas atrasam o país e disse que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) presta um desserviço para o Brasil.
O Cimi é um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Criado em 1972, no auge da Ditadura Militar, a instituição visa lutar pelos direitos dos povos indígenas.
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