Renata Camargo
O pindérico humor mundano nos vangloria a cada dia com pérolas mais ousadas. O sucesso na internet da pitoresca campanha Faça Xixi no Banho, da SOS Mata Atlântica, animou os engraçadinhos. Primeiro, surgiu a hilariante Faça Cocô no Banho, em resposta à campanha do xixi. Agora o jornalista e comediante Rafinha Bastos foi mais longe: lançou a campanha “Faça Cocô no Escuro”, segundo indica, um esforço para economizar energia elétrica.
Longe de ser algo sério, a mobilização se apresenta como mais uma empreitada humorística do comediante. Em vídeo de baixa qualidade postado no You Tube, Rafinha questiona se o internauta “está fazendo tudo o que pode para o meio ambiente”. A resposta, dada com um movimento de “não” com a cabeça, leva à escatológica sugestão ambiental: “Cague no escuro. Proteja a natureza”.
Veja o vídeo da “campanha” de Rafinha Bastos:
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A pseudo-campanha de conscientização ambiental do integrante do programa CQC revela a criatividade do público em relação às mobilizações ecológicas e influencia na discussão sobre os rumos da educação ambiental. Será que preservar a natureza e colaborar para a sustentabilidade é somente fechar as torneiras e apagar as luzes?
Algumas campanhas têm como resultado efetivo mais o humor, do que propriamente a conscientização ambiental. O cômico vídeo da campanha nonsense das baratas, por exemplo, é uma dessas produções amadoras que deixam dúvidas quanto às intenções de seu produtor. Que contribuição terá esse vídeo como proposta de conscientização ambiental? Que é engraçado, isso é inegável.
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Na realidade, considero qualquer manifesto ambiental como uma contribuição importante. Trazer o tema à tona para chamar a atenção do público sobre a necessária convivência harmônica entre homem e natureza ainda é preciso. A questão, no entanto, é até que ponto manter o foco da conscientização ambiental somente na água que pinga na pia é algo efetivo? Esse deve ser um dos focos e não o único, já que, por exemplo, o desperdício de água vem de todos os setores da economia e não apenas do consumidor final.
Leia o artigo sobre desperdício de água no Portal Ambiente Brasil
Os excelentes vídeos-campanhas do The Animals Save the Planet abordam de forma interessante as questões ambientais. Eles tratam não só da necessidade de economia de água na hora do banho, como também abordam temas polêmicos como a contribuição do pum da vaca para o aquecimento global e mudanças de hábito importantíssimas como a adoção de sacolas retornáveis e o não jogar lixo no chão.
The Animals Save the Planet from Planeta Pantanal on Vimeo.
Aliás, a contribuição do pum da vaca para o aquecimento global e o desmatamento decorrente da pecuária têm causado um rebuliço no mundo. O Brasil, como o maior exportador de carne vermelha, não tem gostado nada de campanhas como a Meat Free Monday (Segunda sem Carne), que já chegou ao país. Estrelada por figuras como o ex-Beatle Paul McCartney, a campanha propõe a redução no consumo de carne vermelha.
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Mas duvidosa mesmo é a campanha do príncipe Charles da Inglaterra e seus colegas pela preservação das florestas tropicais. No vídeo que circula o mundo, celebridades como Daniel Crag, Robin Williams, Harrison Ford e Pelé aparecem numa campanha intensiva “tentando preservar as florestas tropicais para todos nós”. “Todos os anos, a destruição das florestas tropicais emite mais dióxido de carbono para a atmosfera do que todos os carros, aviões e navios juntos”, diz Príncipe Charles no vídeo.
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O problema dessas pseudo-campanhas é que a conscientização ambiental acaba, de alguma maneira, deturpada. Alguns problemas ambientais são mais profundos e complexos do que esses ensaios querem mostrar. A destruição das florestas e a poluição de carros, por exemplo, não estão tão dissociadas assim como alguns locutores tentam transmitir. Mas, claro, que a questão não é deixar de fazer campanhas para que as pessoas evitem o desperdício de água, e sim abordar os fatores de maneira mais sistêmica, caminhando para uma mudança de paradigma.
É preciso inferir, por exemplo, que o enriquecimento da Inglaterra do passado tem tudo a ver com o processo de destruição da Amazônia no presente. Há muitos anos destruímos nossas florestas tropicais para produzir energia, alimentos e riqueza para consumidores de carros em todo o mundo. E de nada, ou em pouco, vai adiantar economizar água e energia a conta-gotas. O que precisa é mudar nosso modelo de desenvolvimento, afinal “seu consumo transforma o mundo”.
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Quer comprar mais? Muito, muito, muito mais? Então veja o resultado do seu desperdício.
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