Heitor Scalambrini Costa*
Os argumentos dos defensores da energia nuclear como fonte de energia elétrica se baseiam principalmente em minimizar os riscos da ocorrência de acidentes nas usinas nucleares. Se referenciam em informações citando cientistas, instituições e organismos pró nuclear para suas alegações, e se aliam a setores econômicos que se beneficiam diretamente ou indiretamente da expansão desta tecnologia.
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Uma das irresponsabilidades maiores dos defensores dos “negócios nucleares” é a insistência em minimizar, e mesmo de negar a possibilidade de acidentes nas usinas nucleoelétricas. Sendo o mais grave, chamado de acidente severo, que consiste na liberação de material radioativo do interior da usina para o meio ambiente.
Nas usinas nucleares existem distintas barreiras físicas para conter os gases radioativos produzidos. Desde as varetas de combustível, o vaso de pressão do reator, o envoltório de aço que abriga componentes e circuitos hidráulicos; até o invólucro de concreto que reveste a carcaça de aço, chamado edifício do reator. Apesar de todas estas proteções e cuidados para impedir que o material radioativo gerado pela reação de fissão nuclear (processo de divisão do núcleo atômico em outros núcleos, liberando grande quantidade de energia usada para produzir eletricidade), chegue ao meio ambiente, acidentes severos ocorreram em passado recente.
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E por que a radioatividade (capacidade que alguns elementos possuem de emitir energia sob forma de partículas ou radiação eletromagnética) de inúmeros elementos fabricados artificialmente no processo de fissão nuclear é tão perigosa para os seres vivos?
A radiação emitida por estes elementos provoca basicamente nos seres vivos a destruição das células com o calor, e modificações celulares, e consequentemente mutações genéticas.
Os rejeitos produzidos pelo reator nuclear podem ser classificados em três níveis de radioatividade: alta, média e baixa. Considerando somente os rejeitos de alta radioatividade (também conhecido popularmente como lixo nuclear), ainda não há no mundo um lugar seguro para o depósito definitivo do lixo nuclear. No Brasil, assim como em outros países que têm usinas nucleares, este lixo de alta radioatividade fica no interior do edifício do reator, em piscinas. São rejeitos com longa meia vida (tempo necessário para a atividade de um elemento radioativo ser reduzida a metade), podendo alguns chegar a emitir radiação por dezenas de milhares de anos.
Quando nos referimos a radiação emitida por materiais radioativos estas podem ser: alfa, beta e gama. A mais perigosa é a radiação gama (radiação eletromagnética), altamente energética e de grande frequência, com capacidade maior de penetrar na matéria mais profundamente do que a radiação do tipo alfa e beta. Devido à sua elevada energia, podem causar danos, no caso dos seres humanos, provocando graves lesões, e até a morte. Efeitos na saúde advindos da exposição à radiação são definidos como efeitos imediatos, e efeitos tardios.
Os efeitos somáticos podem ser imediatos, se a dose absorvida for muito alta, em torno de 1 Gray (unidade no Sistema Internacional de Unidades de dose absorvida), e recebida toda de uma só vez, os sintomas são náusea e vômitos, efeito conhecido como síndrome da radiação. No caso de doses absorvidas acima de 2 Grays podem levar a morte. À medida que a dose aumenta, as chances de sobrevivência diminuem.
Já os efeitos somáticos tardios são resultado de pequenas doses, mas continuadas num longo intervalo de tempo. São casos que ocorrem em pessoas ocupacionalmente expostas, como os radiologistas e os trabalhadores da mineração de urânio, por exemplo. Estes efeitos são: maior incidência de câncer, possibilidade de formação de catarata, e há evidências de que a expectativa de vida seja reduzida.
A investigação de efeitos somáticos, como por exemplo alguns tipos de câncer e a leucemia, nos leva a questionar a existência de um limiar de radiação que seja responsável pelo desencadeamento desses efeitos. A tendência atual é de não aceitar a existência de um limiar de segurança absoluta. Pelo contrário, postula-se que haja uma relação contínua entre exposição e risco.
Diante do quadro dos efeitos da radiação através de elementos químicos criado no interior de uma usina nuclear, que pode ser liberado para o meio ambiente, caso ocorra um vazamento, as consequências são dramáticas e trágicas para a vida.
Logo, para que não corramos o risco de material radioativo ser liberado pelas usinas nucleares em um acidente, a única decisão acertada seria não construir tais usinas. O Brasil não precisa de usinas nucleares.
*O autor é professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco. Físico, graduado na Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, com mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares na UFPE, e doutorado na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França.
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