Os hospitais geridos pelas três Forças Armadas brasileiras enviaram, para a CPI da Covid, dados sobre a ocupação de seus leitos durante os quatro primeiros meses de 2021. Enquanto os sete hospitais da Marinha e as nove instalações da Força Aérea também sofreram em alguns momentos com picos de 100%, os 25 hospitais do Exército declararam picos de 678% na ocupação de seus leitos de covid-19 – o que aponta uma necessidade de leitos quase sete vezes maior que a oferta feita pelo hospital.
Os números estão em relatórios encaminhados pelo Ministério da Defesa – que gere as três pastas – ao Senado Federal. A taxa de ocupação mais alta para os leitos de UTI para covid, de 678%, teria sido registrada no Hospital de Guarnição de Tabatinga (AM), gerido pelo Exército Brasileiro na fronteira com a Colômbia.
O Hospital Geral de Juiz de Fora (MG) registrou uma taxa de 591% em janeiro. Hospitais do Exército em Manaus, Rio e Brasília registraram, em ao menos um mês entre janeiro e maio deste ano, mais de 200% de ocupação. “Para as taxas de ocupação que superam o valor de 100%”, argumenta o Exército, “significa dizer que o Sistema de Saúde do Exército foi obrigado a abrir leitos emergenciais.”
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Os valores diferem radicalmente da taxa de leitos de UTI não-covid dos mesmos hospitais. Em fevereiro, quando abria leitos emergenciais para atender os casos de covid da região do Alto Solimões, o Hospital de Guarnição de Tabatinga registrava apenas 33% de ocupação nos leitos clínicos; no mês seguinte, quando a ocupação dos leitos de covid baixou para 210%, os leitos comuns registraram 17%.
A situação apresentou mais normalidade nas unidades hospitalares das outras duas forças. Entre os hospitais geridos pela Marinha do Brasil, a ocupação chegou a 100% apenas em abril, em dois dos seus sete hospitais. A ocupação de leitos de covid, tanto de UTI quanto de enfermaria, se manteve entre 80% e 90% durante a maioria deste tempo.
A Força Aérea registrou um estresse maior de sua rede – o Hospital da Força Aérea em São Paulo (HFASP) chegou a 128% de ocupação, enquanto o Hospital Central da Aeronáutica (HCA), no Rio de Janeiro, operou no seu limite durante os quatro meses.
Há ainda um quarto relatório relativo ao Hospital das Forças Armadas (HFA), sediado em Brasília e de responsabilidade direta do Ministério. O complexo hospitalar, para onde também vai o presidente da República, não registrou taxas de ocupação superior a 100%.
Em todos os documentos, há a mesma conclusão: “Diante do exposto, depreende-se a não existência, nesse período, de leitos ociosos, por conta das peculiaridades do Sistema de Saúde Militar”. Em nenhum dos relatórios há menção de leitos dos hospitais militares aos civis.
Em maio deste ano, as suspeitas que os leitos de hospitais militares estariam ociosos e reservados a oficiais fizeram com que o Tribunal de Contas da União (TCU) se manifestasse. Em um relatório aberto por técnicos do tribunal, ficou recomendado que o Ministério da Saúde requisitasse tais leitos para tratamento dos civis, em um período em que o país ainda registrava perto de 3.000 mortes de covid-19 por dia, em situação de estresse do seu sistema de saúde. O caso, de relatoria do ministro Benjamin Zymler, ainda não foi julgado.
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