Atolada até o pescoço em escândalos de corrupção, com seu presidente anterior usando tornozeleira eletrônica nos EUA e o atual confinado em nosso território (trata a Pátria como um valhacouto porque corre o risco de ser preso, caso transponha as fronteiras nacionais), a Casa Bandida do Futebol não poderia continuar indo na contramão dos anseios populares quanto ao treinador da Seleção Brasileira.
Em 2012, ao fazer do Corinthians o campeão das Américas e do mundo, o técnico Tite se evidenciou como a escolha óbvia para dirigir a Seleção Brasileira no Mundial Fifa de 2014, mas o inacreditável José Maria Marin preferiu apostar todas as nossas fichas no jurássico Felipão, resgatando-o da aposentadoria para a qual o mercado futebolístico merecidamente o despachara após ter colocado o Palmeiras no rumo da segunda decisão. Consequência: sofremos a pior derrota do nosso escrete em todos os tempos, tomando um chocolate de 7×1 da Alemanha em pleno Mineirão.
Para seu lugar a Cloaca Brasileira de Funestos chamou o ex-jogador Dunga, que não mostrara aptidões para o cargo nem em sua malograda passagem anterior pelo selecionado (só chegou até as quartas-de-final no Mundial Fifa de 2010), nem como técnico do Internacional (o máximo que conseguiu foi um título estadual em 2013).
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Pior ainda era não ter sequer condições morais para exercer o cargo, já que participara de uma empresa de intermediação na compra e venda de jogadores, chegando a convocar para a Seleção Brasileira um dos jogadores por ela representados (Maicon). Aliás, o demitido coordenador de seleções Gilmar Rinaldi era outro integrante dessa máfia.
Em posição muito fragilizada, a Corja Boçal de Famigerados foi obrigada a mudar de atitude quando Dunga se tornou uma mala sem alça que não dava mais para a dita cuja continuar carregando, em função da péssima campanha nas eliminatórias para o próximo Mundial Fifa e da vacilada grotesca na Copa das Américas.
Na noite de ontem (3ª feira, 14), Tite conversou longamente com os Corruptos a serem Banidos do Futebol, mas demorou um pouquinho para bater o martelo. Por quê?
Suponho que seja por ter firmado em dezembro último um manifesto cujos signatários (dentre eles Ana Moser, Bernardinho, Chico Buarque, o Falcão do futsal, Faustão, Jô Soares, José Padilha, Luís Fernando Veríssimo, Patrícia Medrado, Tostão e Zico) exigiam “renúncia definitiva de Marco Polo Del Nero e sua diretoria, seguida da convocação de eleições livres e democráticas para o comando da CBF”.
Então, ao aconselhar-se com a família na manhã de hoje, Tite deve ter pesado os prós e contras de ajudar tais parasitas a tentarem escapar da dedetização que há muito já deveria ter sido efetuada.
Para alguém da geração e com a formação do nosso bom Adenor, dirigir a Seleção e, eventualmente, levá-la ao hexa, será a obra máxima, o ápice da carreira. Se recusasse, a chance poderia nunca mais bater à sua porta, como aconteceu com Muricy Ramalho em 2010.
E houve uma diferença importante entre os dois episódios: o Fluminense fazia questão que seu técnico cumprisse o contrato, enquanto o Corinthians liberou Tite e os profissionais que o acompanharão na nova empreitada, fazendo rasgados elogios a todos eles.
Salvador da Pátria?
Corinthiano desde criancinha, sei que a saída de Tite tende a ser desastrosa para o meu time, mas não a lamento.
Quando começava a entender as coisas ao meu redor, o Brasil venceu de forma magnífica sua primeira Copa do Mundo, que eu acompanhei em precaríssimas transmissões radiofônicas, com o som sumindo e voltando o tempo todo.
O bi no Chile me deu, e a quase toda a nossa gente, a convicção de que éramos os reis do futebol, “sambando com a bola nos pés”, pois “com o brasileiro não há quem possa”. Então, após as conquistas inesquecíveis dos anos dourados (Mundiais de 1958, 1962 e 1970), fiquei pesaroso ao ver nossos clubes e seleções perderem, pouco a pouco, sua magia, deixando de deslumbrar o mundo.
O tetra, decidido na loteria dos pênaltis, foi tão sem graça quanto dançar com a irmã; e o penta pareceu mais fruto de alguns lampejos dos craques que restavam e do mau momento das outras seleções. Desde 1970, o único escrete dos sonhos que formamos foi, paradoxalmente, o da derrota injusta de 1982.
Então, conformo-me com a perspectiva de que o Corinthians não venha a conquistar outra Libertadores e outro Mundial de Clubes nos próximos anos, pois é o preço a pagar para o futebol brasileiro sair do fundo do poço no qual Marin, Felipão, Del Nero e Dunga o mergulharam.
Por chegar ao cargo como uma quase unanimidade nacional, é bem provável que ele consiga isolar o vestiário, não deixando os repulsivos cartolas irem meter o nariz no trabalho dos profissionais.
E, pelo que já mostrou no Corinthians, Tite é o técnico ideal para montar um bom conjunto, mesmo não dispondo de talentos fulgurantes (com exceção de Neymar). Sabe incutir no grupo o espírito de equipe e, também, compensar as limitações do material humano com organização e disciplina táticas.
Carente da genialidade de um Guardiola, Tite não cria esquemas que mudem a face do futebol mundial. Mas se mantém bem atualizado sobre os que vão surgindo e costuma ser feliz na escolha do mais compatível com as características do seu elenco.
Ademais, quase sempre sua leitura do jogo é boa, tanto que o Corinthians tem se notabilizado por, a partir das substituições por ele efetuadas, aumentar seu volume de jogo e marcar gols decisivos no final das partidas. E vez por outra dá nós táticos nos outros treinadores, como fez com Rafa Benitez, do Chelsea, no Mundial de Clubes de 2012.
Enfim, é uma promessa de trabalho sério e um vislumbre de esperança. Para um selecionado que já não assustava nem o Peru, Tite poderá muito bem vir a ser um salvador da Pátria.
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