Mário Coelho
Nos últimos sete dias, o ministro do Esporte, Orlando Silva, passou a mandar recados diretos para os estados e municípios que receberão os jogos da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Cobrou agilidade na execução das obras e chegou a sugerir a diminuição das cidades sedes de 12 para oito. Depois, por meio de nota oficial, afirmou que não existe plano B para a realização do evento. O ministro faz o que lhe cabe: pressiona. Apesar desse novo ímpeto, porém, parlamentares da oposição querem saber do comandante da pasta os motivos para o atraso na realização de obras de infraestrutura e de construção de estádios e que riscos eles trazem para a ralização da Copa de 2014.
A oportunidade para Orlando Silva responder era a audiência pública marcada para a manhã de ontem (29) na Câmara. Realizada pela Subcomissão de Fiscalização da Copa de 2014, tinha a presença dele e do titular da pasta das Cidades, Márcio Fortes, confirmadas. Porém, Silva não apareceu. Aos parlamentares, disse que ocorreu um imprevisto na sua agenda. No mesmo horário previsto para iniciar a audiência, o ministro do Esporte firmou um acordo de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente para elaborar e implantar uma agenda sustentável para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Entre parlamentares da oposição, a avaliação é que o sinal amarelo já está aceso. Ou seja, cada vez mais o país chega no limite dos prazos estabelecidos pela Fifa, entidade que rege o esporte mundialmente. Alguns, até já passaram. As licitações dos estádios eram para estar na praça até 31 de março. Até o momento, das nove arenas públicas previstas para construção, somente três estão com os trâmites dentro do prazo: Salvador, Manaus e Cuiabá. Nos bastidores, corre cada vez mais forte a informação de que cidades serão cortadas da Copa. Uma delas seria Natal.
“Não acho que, nesse momento, seria possível tirar qualquer cidade da Copa”, afirmou a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS). A parlamentar gaúcha esteve na terça-feira (27) na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Junto com o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT), foi entregar o caderno de encargos sobre a cidade para a direção da entidade. A intenção é que o município seja subsede de Porto Alegre e receba seleções durante o período de treinamento.
Apesar da aposta feita pela deputada, membros da oposição não entendem dessa maneira. Acreditam que a frase de Silva, também membro do PCdoB, sobre a possibilidade se diminuir o número de sedes, deve ser explicada na Câmara. Por que a frase e que riscos estão embutidos nela. “Era a pergunta que a gente queria fazer ao ministro”, afirmou o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), presidente da subcomissão de Fiscalização da Copa, ao ser questionado sobre a possibilidade de diminuição das cidades sedes.
Mesmo com o titular do Esporte negando a redução, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse na segunda-feira (26) que a ideia de diminuir o número de sedes é “sensata”. “Se tiver um lugar que não tenha estrutura, não tenha condição de fazer, nós vamos diminuir. Por que fazer de qualquer jeito? Não tem como. Parece bem sensata a possibilidade de reduzir o número de cidades”, disse, de acordo com o site do jornal Folha de S. Paulo.
Exemplo do Pan
Mesmo não admitindo publicamente, os recados de Silva demonstram, segundo parlamentares ouvidos pelo site, que o governo está preocupado com o andamento das obras. Os recados do ministro do Esporte desde a semana passada são o primeiro indicativo. Além disso, Márcio Fortes afirmou ontem, durante a audiência pública que Orlando Silva não foi, que “a gente não pode errar”. “Nós temos o exemplo de 2007. Nós colocamos os recursos à disposição, mas na ponta é a prefeitura, é o governo do Estado e as empresas particulares contratadas”, afirmou, referindo-se aos Jogos Pan-Americanos de 2007, que acabaram custando muito que o orçamento inicial.
Com orçamento inicial de aproximadamente R$ 400 milhões, os jogos custaram aos cofres públicos aproximadamente R$ 3,5 bilhões. Quase três anos após o encerramento do Pan-Americano, o Tribunal de Contas da União (TCU) ainda não terminou de fiscalizar o uso de dinheiro público para o evento. Segundo reportagem publicada pelo jornal Correio Braziliense em outubro do ano passado, as suspeitas de irregularidades levantadas pelo tribunal resultaram na abertura de 35 processos.
Aeroportos
Além dos estádios, outra área com visível atraso é da mobilidade urbana e transportes. Em especial, a estrutura aeroportuária. Boa parte dos aeroportos brasileiros está com a capacidade saturada. Alguns operam acima do limite. Para piorar, a Infraero, estatal que controla as unidades, admitiu, em reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que as obras só devem começar daqui a dois anos. Os projetos executivos para a ampliação e modernização dos terminais e pistas ficarão prontos no final de 2011, transferindo para o ano seguinte a abertura dos processos licitatórios.
“Continuo bastante preocupado. Todos os prazos que o Brasil tem que cumprir já estão furados”, disse Silvio Torres. Ele acrescenta que, durante o período eleitoral, boa parte das obras devem ser congeladas. Aquelas cujas licitações ainda não estão na praça. “Aí, caso entre um novo governo, de oposição ao anterior, vai querer fazer auditoria, examinar os contratos e a necessidade das obras”, afirmou o parlamentar tucano.
Por esse atraso, a oposição acredita que o presidente Lula deve tomar as rédeas do processo neste momento. Com a baixa capacidade de endividamento dos estados, em alguns casos até nula, restaria ao governo federal assumir o restante das obras, e não apenas o financiamento de parte dos projetos. “Ou o presidente da República adota, assume a Copa, ou chegaremos a um ponto em que a Fifa pode passar o evento para outro país”, alerta o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Impacto financeiro
Na semana passada, o ministro do Esporte divulgou um estudo sobre os impactos econômicos da realização da Copa do Mundo 2014 no Brasil. Segundo ele, entre 2010 e 2019, o Mundial vai agregar R$ 183,2 bilhões à economia brasileira. Serão investidos diretamente R$ 47,5 bilhões em infraestrutura, turismo e consumo. Os investimentos indiretos serão de R$ 135,7 bilhões, provenientes da recirculação de dinheiro com a realização do evento.
Em infraestrutura, o impacto será de R$ 33 bilhões, sendo que 78% dos investimentos virão do setor público. Desse total, R$ 5,7 bilhões serão destinados aos estádios, R$ 11,6 bilhões à mobilidade urbana e R$ 5,5 bilhões serão aplicados em portos e aeroportos. Outras áreas que receberão recursos são: telecomunicações, energia, segurança, saúde e hotelaria.
Só com o turismo, o governo tem a expectativa de que o evento gere R$ 9,4 bilhões. Durante o Mundial, nos meses de junho e julho, o governo espera 600 mil turistas estrangeiros, além dos 3,1 milhões de brasileiros que vão viajar pelo Brasil. Esse número equivale a 2/3 da população da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, serão gerados, de acordo com o estudo, 710 mil empregos. Desse total, 330 serão permanentes e 380 temporários.
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