Luiz Gonzaga Bertelli *
Para os jovens (e pais), a proximidade do final do ensino médio traz um dos momentos mais angustiantes e estratégicos da vida: abertas as inscrições para os grandes vestibulares, que curso escolher? A opção nunca foi simples, mas em épocas de crise, como a atual, fica ainda mais difícil identificar quais os campos de atuação despontam como promissores, tanto para a realização pessoal quanto para tentar uma relativa segurança de renda futura. Aliás, a questão financeira é agravante: a família ou o jovem terão condições de sustentar mais alguns anos de estudo, até a obtenção de um sonhado diploma universitário?
Somem-se a isso a precariedade da educação brasileira – que avançou no acesso à sala de aula, mas continua patinando no quesito qualidade –, constantes greves de servidores, desmotivação de professores, falhas na gestão escolar, desvios e má aplicação de recursos, omissão de pais e está desenhado um cenário ainda mais sombrio. Cenário que indica aumento dos obstáculos que as novas gerações terão de superar para conseguir uma adequada preparação para ingresso no mercado de trabalho e, na sequência, uma bem sucedida construção de carreira.
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Até aqui, a visão se restringe ao impacto na vida do aluno, mas há outro aspecto, igualmente relevante: os reflexos negativos para o país, decorrentes de alguns anos de ensino com deficiências agravadas e de piora na formação (já insuficiente) do capital humano, fator fundamental para vencer os períodos de crise e para sustentar a retomada de crescimento que virá, cedo ou tarde. Sintomas dessa carência de qualidade são as vagas que, mesmo nos períodos de bonança e fartura de oferta de empregos, permanecem abertas longo tempo à espera de candidatos com o perfil compatível. Em períodos de dificuldades, então, a situação piora para os profissionais menos qualificados que precisam, além de tudo, enfrentar concorrentes com currículos mais alentados – num processo que penaliza principalmente os segmentos menos favorecidos da sociedade.
Assim, por qualquer viés que se examine, a educação continua sem ser a prioridade das prioridades nas políticas públicas. Isso, apesar da exaustiva repetição dos exemplos da arrancada da Coreia do Sul ou do Vietnã, países que a aposta em ensino de qualidade alçou da condição de subdesenvolvidos devastados por guerras a posições na elite dos rankings internacionais. Se, como dizem os chineses e sempre citam especialistas em administração, crise é sinônimo de oportunidade, não parece descabido sugerir que, num momento tão difícil para o país, se pense na adoção de medidas cujo êxito depende mais de criatividade e comprometimento do que de investimentos financeiros. Entre elas, a gestão responsável e a rigorosa fiscalização do destino das verbas são medidas básicas e altamente recomendáveis; a adoção de currículos condizentes com a realidade atual, tanto do aluno quanto do mundo do trabalho; a valorização da carreira do magistério com prêmios e reconhecimento público aos melhores desempenhos, e assim por diante.
Nesse conjunto de soluções, é indispensável um maior envolvimento da sociedade na verdadeira cruzada pela educação de qualidade, fator fundamental para a conquista do desenvolvimento sustentado do país – uma meta que beneficiará a todos: cidadãos, empresas e governos. Com base em uma história de meio século voltada à inclusão social e profissional dos jovens, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) tem a convicção de que o estágio e a aprendizagem são eficientes contribuições das empresas e órgãos públicos para a educação e o desenvolvimento profissional das futuras gerações. Isso porque tais programas melhoram o desempenho do aluno em sala de aula, motivam o seu desenvolvimento pessoal, aprimoram a qualificação profissional de futuros colaboradores, tornando-os aptos a atender aos modernos requisitos do mundo do trabalho e à cultura da organização. Além disso, programas de estágio e aprendizagem geram efeitos adicionais salutares e altamente positivos, em especial nos momentos de crise, pois evitam que tantos jovens abandonem prematuramente os estudos, seja para reforçar o orçamento familiar, seja para compensar o desemprego do pai.
Esse benefício decorre da obrigatoriedade legal do pagamento de bolsa-auxílio ao estagiário e salário mínimo hora ao aprendiz – investimento para o qual a empresa ou o órgão público contratante contam com incentivos governamentais. Portanto, um bom remédio para cruzar a fase crítica e chegar a uma etapa mais promissora é sempre contar com a força de uma nova geração formada para construir um futuro melhor e mais seguro para todos.
* Presidente do Conselho de Administração do CIEE/SP, do Conselho Diretor do CIEE Nacional, da Academia Paulista de História e diretor e conselheiro da FIESP-CIESP.
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