Marcela Thaís Panke,
Especial para o SOS Concurseiro/Congresso em Foco
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É bastante comum que profissionais questionem qual a melhor opção, principalmente com o volume de oportunidades que surgem e boa remuneração na área pública e as frequentes ondas de demissões nas organizações privadas. Especialistas dos dois campos do mercado de trabalho observam que há prós e contras a serem analisar nesta escolha. Eles recomendam que, o ideal é pesar o que há de bom e de ruim em cada setor e verificar em que cenário se acredita que a adaptação será melhor.
A maioria dos cargos públicos garante vantagens que a maioria das empresas privadas não oferece: licenças remuneradas, abonos, adicionais, gratificações e aposentadoria com remuneração próxima à da ativa são alguns dos exemplos. Os salários iniciais também são mais atraentes: em geral, estão acima da média do mercado para as funções exigidas. Contudo, uma empresa privada pode reconhecer e valorizar o seu talento e dedicação com promoções e aumentos mais generosos que os recebidos pelos servidores públicos, que às vezes ganham apenas a reposição da inflação anual.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), José Roberto Marques, trabalhar na iniciativa privada pode ser mais atrativo quando se pensa em um plano de carreira. “Há possibilidade real de ascender dentro da empresa. A ascensão no setor público é muito mais lenta”. Outra vantagem é a quantidade de opções: “Existe mais liberdade para buscar novas oportunidades de trabalho dentro daquilo que se enquadra nas pretensões do profissional”. Além disso, o especialista defende que se o funcionário estiver descontente com a função e decidir abandonar o cargo ou mesmo negociar uma saída amigável com a empresa, receberá os direitos dispostos na legislação trabalhista.
Apoio na hora de escolher
Uma boa opção para quem está em dúvida entre o público e o privado é recorrer ao coaching de carreira. De acordo com o presidente do IBC, este é um processo que auxilia na reflexão sobre a missão de vida, valores e crenças do profissional e o ajuda a identificar habilidades e capacidades, e, por consequência, ter mais bagagem para decidir qual caminho seguir. É uma boa técnica para identificar o que o profissional realmente quer e o que mais se encaixa no seu perfil. “Um profissional deve sempre ter seus objetivos profissionais bem definidos. Naturalmente que é necessária alguma flexibilidade, mas a organização de objetivos é uma excelente ajuda para alcançar as suas metas de carreira. Ter um plano de carreira é ideal, saber aonde quer chegar, o que e como fará para alcançar e segui-lo”, explica o empresário e psicoterapeuta.
Outra sugestão é fazer um teste em uma ferramenta da área de gestão de carreira chamada âncora de carreira. É possível definir as áreas de carreira com que a pessoa mais se identifica ao responder um questionário que apresenta perguntas sobre valores e atitudes, semelhante aos testes vocacionais usados em pré-universitários. “Âncora de carreira pode ser definido como o conjunto de necessidades, valores e talentos aos quais a pessoa se mostra menos disposta a abdicar quando confrontada com a necessidade de escolher. Visa identificar a relação entre os objetivos de vida e valores de carreira e a predisposição para se trilhar uma carreira.”, explica a diretora de desenvolvimento da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Elaine Jinkings.
O ideal, no entanto, seria ter acesso às experiências em ambas as áreas. Para Eliane, “somente a vivência vai dizer se o profissional terá paixão pelo que faz, se o que realiza tem significado para ele, e faz sentido em se realizar, em sentir-se útil e também contribuir para a mudança para melhor nas áreas em que tem a possibilidade de atuar”.
Na contramão dos concursos
A jornalista gaúcha Janine Souza, 33 anos, teve essa oportunidade. Ela fez o caminho inverso dos concurseiros: em 2003, quando estava próxima da formatura, decidiu fazer a prova para o cargo de escriturário do Banco do Brasil, já que ainda não tinha emprego na área desejada. Em 2007, quando já nem lembrava mais do concurso, foi convocada pela instituição. Na época, trabalhava em dois lugares. Pediu demissão de um deles e assumiu o emprego público. Trabalhava das 10h às 16h em uma agência bancária e das 17h às 22h em um jornal em Porto Alegre.
“O primeiro ano foi legal, mas depois aquilo foi me cansando. Perdia muito tempo em deslocamento entre um emprego e outro. A carga horária pesou”. Além do cansaço, a função exercida no banco foi se distanciando do que ela queria. Depois de um tempo no cargo, Janine recebeu metas de vendas para cumprir, o que não a interessou. Como não tinha a perspectiva de transferência para o setor de jornalismo, decidiu que era hora de se dedicar à sua carreira de formação. Janine conta que muitas pessoas questionaram a sua decisão de abrir mão de uma situação estável e dos benefícios do emprego público, mas a vocação falou mais alto. “O que pesou é que eu gostava muito de ser jornalista, queria ser jornalista e não me adaptei ao banco, a função não era o que eu gostava de fazer”.
Janine ressalta que, antes de tentar a carreira pública, é importante observar as atribuições do cargo. “Meu erro foi fazer concurso sem saber exatamente para quê”. Ela garante não se arrepender de ter optado pela iniciativa privada. “Passei a investir mais naquilo que eu realmente quis, tive experiências muito boas, exerci outros cargos, tive promoções e hoje estou em um emprego muito melhor, o que é fruto do meu trabalho.”
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