Todos comemoraram, recentemente, a boa notícia de que houve crescimento do número de pessoas ocupadas no Brasil, onde ainda restam quase vinte e sete milhões entre desocupados, subocupados e desalentados.
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Sem dúvida, nesse quadro de desperdício da capacidade produtiva das pessoas e de sofrimento pessoal para milhões, aumentar o número de ocupados é uma ótima notícia. Isso, ainda que a ocupação seja parcial ou apenas em trabalhos precários, por conta própria, sem previdência social, com poucas chances de alcançar uma remuneração suficiente para poupar visando à própria aposentadoria.
Como, então, se pode dizer essa aparente contradição, de uma boa notícia ser preocupante?
Vamos aos números. Os desocupados, desalentados e subocupados somavam, em dezembro de 2019, de acordo com o IBGE, 26,6 milhões de brasileiros. Em novembro último, a criação de empregos com carteira assinada, também conforme o IBGE, somou 99,2 mil postos de trabalho, a maior quantia para o mês desde 2010. Daí a comemoração mencionada acima. Após quase dez anos, de fato temos aí uma boa notícia! De janeiro a novembro de 2019, a criação de empregos somou 948,3 mil postos de trabalho. Arredondando, no ano teriam sido um milhão e 34 mil novas posições.
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Lembremos: eram 26,6 milhões de desocupados, subocupados e desalentados em dezembro último. À mesma taxa de criação de postos de trabalho verificada em 2019 levaremos 25,7 anos para zerar a ociosidade da força de trabalho: mais de um quarto de século!
PublicidadeDobre-se a taxa de geração de postos de trabalho e demoraremos 12,8 anos para ocupar todos os brasileiros aptos a trabalhar! Isso, sem considerar que nesse período vários milhões mais de brasileiros terão entrado na força de trabalho.
É isso que é preocupante, e muito. Mesmo com a hipótese otimista de dobrar a criação de postos de trabalho, relativamente ao observado em 2019, ainda levaremos mais de uma década para gerar os empregos necessários para dar emprego digno à esse elevado número de brasileiros.
Quais as consequências de todos esses anos com tamanha massa de desempregados, ociosos e desalentados? Quais os efeitos de se ter, durante mais de uma década, tantos milhões de pessoas carentes do principal meio de se viver uma vida digna? Que exemplos, que lições serão dadas aos filhos desses nossos compatriotas, e àqueles que com eles convivem? Que motivos terão eles para ter amor pela sua pátria? Que ações farão esses alijados do mercado de trabalho para sobreviverem?
Igualmente importante é se perguntar: quais as propostas que apresentam aqueles que se dizem líderes e construtores de um “Brasil melhor”, para abreviar o tempo e reduzir a quantidade de brasileiros nessa situação de carência?
A resposta dessas pessoas, até o momento, parece ser apenas “acelerar o crescimento da economia”. Falando sério: dá para acreditar nessa lenga-lenga? Como pensar e criar alternativas?
Claramente, encontramo-nos numa situação semelhante àquela vivida nos anos trinta do século passado: a economia ortodoxa carecia de propostas para superar a crise econômica que então se vivia. A solução veio por meio de medidas heterodoxas, inicialmente condenadas como sacrilégios ante ao Deus mercado, que supostamente tudo resolveria se deixado livre.
A semelhança, porém, acaba aí. Isso porque, atualmente, além da crise da falta de ocupação, que ameaça se agravar com o desequilíbrio entre a expansão da robotização e da inteligência artificial e a qualidade do ensino em nosso Brasil, há ainda o esgotamento da capacidade da biosfera de suprir os recursos necessários e processar os dejetos gerados por essa sociedade que não criar os meios para que grande parte dos seus membros tenha uma vida digna.
O desafio é ainda muito maior! Há que superar os mitos vigentes, teóricos ou não, e avançar rumo a novas soluções, muitas ainda a serem criadas.
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