Bruno Menezes*
Cabem entender que a economia funciona por meio de trocas de mercadorias, serviços, valores etc., ou seja, vive de transações, e necessita de movimentação constante. Se fizermos uma analogia, seria como nós seres humanos fôssemos uma espécie de moléculas, e para a atividade econômica é vital estarmos quase sempre em movimento, se possível, quase próximo do estado de ebulição (evaporação)! O problema é que o vírus também precisa desse estado para se propagar. Então, para que isso não acorra os países se veem obrigados a colocar as pessoas (moléculas) quase em estado de resfriamento, ou seja, com menor movimentação possível, o ideal seria em ponto de fusão (congelamento), mas seria impossível! Há outro modo? Até o presente momento não. Países que resistiram a isso tiveram que fazê- lo posteriormente por uma situação de calamidade, vide EUA e Reino Unido. Outros que não o fizeram no começo como Suécia, Singapura e Japão estão voltando atrás.
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Não entrarei nos aspectos do vírus em si, já amplamente divulgados, mas vale lembrar que só há um modo de acabar com a pandemia: imunidade em grupo seja por meio de proliferação em massa do vírus ou por meio de uma vacina. A primeira opção se demonstrou inviável, uma vez que, segundo os epidemiologistas, para se conseguir uma imunidade em grupo seria necessário algo em torno de 50% de infectados em uma determinada população. Basta observar a Itália que, com pouco mais de 2% de infectados teve seu sistema de saúde colapsado. É uma doença que exige tratamento em massa, simplesmente isso, o que torna essa opção sem cogitação. E a vacina? Há inúmeros países e empresas desenvolvendo-as, mas não há expectativa que isso ocorra antes de 1 ano ou mais. Há outra opção remota seria contar com a sorte: simplesmente o vírus perder força, foi o que ocorreu com a Sars em 2003. Até por isso o mundo se preparou mal, acreditando que ocorreria o mesmo com a covid-19. Por enquanto não há sinais disso! Enquanto isso? Seguimos em estado de quarentena com consequente paralisia (resfriamento) econômico o que certamente gerara um inverso rigoroso e logo pela frente! Por isso me senti na obrigação de escrever esse texto. Além de tudo que envolve a epidemia em si (medo, possibilidade de infecção, perdas), teremos tempos bem difíceis pela frente! Isso é algo que Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial já admitem publicamente.
Provavelmente teremos uma crise econômica sem precedentes na história. Não será algo como a crise de 29, possivelmente será mais profunda, em razão do mundo estar mais interligado. A boa notícia é que até por conta disso (integração) sairemos mais rápido dela. A questão é: quando? Ficaremos meses em quarentena ou em medidas que alternarão: ora mais restritivas, ora mais flexíveis. Eis a questão, a covid-19 nos colocou em uma espécie de xeque-mate.
Toda vez que a proliferação diminuir, estaremos tentados a flexibilizar a quarentena, fazendo com isso que a contaminação se acelere novamente, e depois, daí paramos novamente! Enquanto isso, as cadeias produtivas globais que são uma espécie de organismo vivo, nesse momento estão letárgicas (resfriadas). Já houve uma queda de demanda, e teremos uma queda de oferta com redução da produção. E óbvio, suas consequências: empresas irão a falência, desemprego em massa, redução de renda das pessoas, queda abrupta de arrecadação dos Estados. O que já se observa em vários países. E até possíveis aumentos de preços ou mesmo desabastecimentos. E a pior parte, toda a consequência política e social envolvida: aumento de miséria, pobreza, desigualdade, convulsões políticas, aumento da violência, principalmente em países em desenvolvimento. Essa situação durará meses, mas as consequências se estenderão por anos, talvez décadas.
PublicidadeApós a pandemia, será necessária a coordenação de um esforço global para reconstrução econômica jamais vista, Plano Marshall não será nada perto do que terá que ser implementado, possivelmente por meio do fortalecimento das instituições multilaterais criadas ainda no Acordo de Breton Woods (Banco Mundial, FMI, dentre outras) e de outras iniciativas que surgirão. Ponho em dúvida a capacidade dos atuais líderes mundiais em dar essas repostas, com raríssimas exceções. Apesar de tudo, sem fugir da dura realidade, há sempre que se ter esperança. Não é o apocalipse, fim do mundo, longe disso, apenas mais um inverso rigoroso e longo que se aproxima na humanidade, assim como tantos outros. Com certeza sairemos mais forte e com um mundo melhor, e acredito que mais solidários. Assim espero!
*Arquivista, jornalista, especialista em Relações Internacionais.
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