A sucessão do republicano Donald Trump pelo democrata Joe Biden na Presidência dos Estados Unidos só aumentou as restrições no país à multinacional chinesa Huawei, que deve participar da instalação do 5G no Brasil. “Com Biden, a tendência é o cerco apertar cada vez mais”, avalia o diretor sênior de Relações Governamentais da Huawei Brasil, Atilio Rulli.
Em entrevista ao Congresso em Foco, Rulli diz que a guerra comercial e ideológica entre Estados Unidos e outros países com a China impacta indiretamente no avanço da tecnologia também no Brasil. Empresa privada, a Huawei está presente em 170 países e há 23 anos opera em território brasileiro, onde gera, entre empregos diretos e indiretos, 16 mil postos de trabalho nas unidades de Sorocaba (SP) e Manaus.
Devido à sua origem chinesa, a Huawei já foi atacada pelo então presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro. Segundo Eduardo, a participação da empresa na rede 5G poderia afetar a parceria militar entre Brasil e Estados Unidos. Desde a saída de Trump, as críticas públicas de governistas à empresa diminuíram.
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Rulli evita reclamar do posicionamento do governo brasileiro. Segundo ele, os contatos têm sido colaborativos, feitos diretamente ou por meio de consultas públicas e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O assunto também ganhou maior destaque no Congresso nos últimos meses, com a instalação de grupo de trabalho do 5G na Câmara e a criação de uma comissão no Senado. “O Congresso tem ouvido todos os fabricantes com isonomia”, diz o executivo da empresa.
As regras para o edital do leilão do 5G foram aprovadas em fevereiro e, agora, estão sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU), onde aguarda parecer. A Huawei não participará do leilão, que será dirigido às operadoras de telefonia. Sua atuação deve ser posterior, na instalação da infraestrutura para o funcionamento da nova tecnologia.
O grupo chinês projeta que o leilão de radiofrequência de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz deve ser realizado entre setembro e outubro deste ano. “Quanto mais se posterga a implantação da tecnologia, mais se perde entrada de receita direta no Brasil”, afirma Rulli.
PublicidadeO executivo acredita que será possível cumprir o cronograma previsto pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, que prevê o uso da nova tecnologia a partir de julho de 2022. “A partir dessa data, todas as grandes capitais deverão ser cobertas pelo 5G. Depois passaremos para as cidades menores”, afirma o diretor de Relações Governamentais. Pelo cronograma, a rede deve alcançar todas as cidades com mais de 30 mil habitantes até julho de 2029.
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A nova rede está dando passos iniciais em alguns países, como Estados Unidos, China, Japão e Alemanha. A conexão com velocidade ultrarrápida deve expandir o uso de robôs e outras tecnologias nas mais diversas áreas, inclusive na medicina. “O 5G é uma revolução. Não é uma evolução como foi do 3G para o 4G e para 4,5G. A velocidade da internet é 20 vezes maior em média. A grande diferença é a baixa latência, ou seja, o tempo de resposta a algum comando”, explica Rulli.
Para se ter ideia do tamanho da gigante chinesa, a empresa mantém 600 mil antenas de 5G em todo o planeta. O Brasil acumula 100 mil antenas, somadas todas as tecnologias de rede, como o 3G, o 4G e o 4,5G. “Uma antena 5G consegue alcançar 1 milhão de dispositivos por km²”, destaca Atilio Rulli.
No ano passado, antes da eleição de Biden e em meio aos ataques de filhos do presidente Jair Bolsonaro à China, ventilou-se que o governo brasileiro estava buscando uma forma legal de excluir a Huawei das redes 5G no Brasil. Essa hipótese hoje parece descartada.
O vice-presidente Hamilton Mourão já declarou publicamente que todas as empresas que fornecerem as garantias necessárias e comprovarem respeito à soberania nacional e à proteção de dados no país serão autorizadas a oferecer esse tipo de equipamento. O grupo já opera a maior parte das redes 3G, 4G e 4,5G no Brasil e oferece preços considerados mais competitivos que os concorrentes.
Os Estados Unidos alegam que a Huawei não é confiável, faz espionagem e repassa informações sigilosas para o governo chinês. Acusações veementemente refutadas pela empresa. Em junho, Stephen Anderson, um dos responsáveis pela comunicação internacional e política do Departamento de Estado americano, disse à Folha de S.Paulo que a Casa Branca deverá mudar sua relação com países que autorizarem a exploração do 5G pela Huawei.
“Vemos as redes 5G criadas com fornecedores não confiáveis como uma ameaça à segurança, e achamos importante que nossos amigos e aliados estejam cientes de quais são esses riscos. […] Esperamos que o governo brasileiro escolha fornecedores de confiança”, afirmou Anderson, sem citar o nome da companhia chinesa.
Segundo ele, não haverá investimentos em um país que escolher o que os americanos chamam de “fornecedores não seguros” para a implantação da rede 5G.
De acordo com o representante do governo dos Estados Unidos, não há confiança “onde as tecnologias e os provedores de serviços estão sujeitos a um governo autoritário, como o da China”.
Em uma manobra para agradar aos Estados Unidos, o Brasil barrou a participação da Huawei na implantação da rede privativa de órgãos oficiais federais, ao vetar a participação de empresas que tenham no quadro societário dirigentes ou donos que sejam filiados a partidos políticos. A medida foi definida como uma forma de compensar a liberação para a Huawei participar da rede privada.
A pressão americana é grande. Em junho, a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos aprovou uma lei que limita as compras de telecomunicações e videovigilância de cinco empresas da China, entre elas a Huawei, alegando que elas são uma “ameaça à segurança nacional”.
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