Talvez este artigo chegue ao público quando ele já não seja mais necessário, mas, de qualquer maneira, quero divulgar algo importante sobre a liberdade de expressão no Brasil. Alguns setores políticos dizem, sem poder dar prova nenhuma, que o governo tenta evitar a expressão opositora, algo que, para quem assiste TV, lê jornais e escuta rádio, é meridianamente falso. Entretanto, há coisas piores do que a inverdade pura e simples: é a contradição, que ocorre quando os defensores dessa dita “liberdade” se opõem à liberdade dos outros.
Hoje, 10 de abril, algo antes de meio-dia, uma alta autoridade da delegação diplomática da República Italiana no Brasil comunicou-se por telefone com uma pessoa do mais alto escalão da Presidência da República para advertir contra a permissão de que Cesare Battisti fosse entrevistado pelo jornalista Mário Sérgio Conti, em seu programa Diálogos com Mário Sérgio Conti, a ser transmitido hoje às 23h por Globonews.
Não conheço o teor exato da conversa, mas os dados vazados, traduzidos perifrasticamente, seriam estes: que o Estado italiano desaconselhava que Cesare Battisti possa se expressar publicamente.
Desejo observar várias coisas. Uma delas foi repetida por mim numerosas vezes em inúmeras mídias, mas ninguém deu atenção.
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1º) Cesare é um imigrante com credenciais migratórias tão válidas como as de qualquer outro dos estrangeiros acolhidos como residentes permanentes. Ele não é atualmente refugiado. Pena que não sei como se desenha uma imagem de refugiado porque parece que as palavras não se entendem. Portanto, nenhuma das limitações marcadas para refugiados é aplicável a ele.
2º) Mário Sérgio Conti é um dos mais inteligentes, equânimes e prestigiados jornalistas não apenas do Brasil, mas dos países luso-hispânicos, e pretender censurá-lo é uma atitude que um diplomata com o mínimo de bom senso e adequada autopercepção deveria considerar impensável. Claro que o fascismo nunca respeitou o talento, mas pelo menos poderia fingir que o faz, nem que seja por etiqueta.
3º) o Brasil não é uma colônia da Itália, pelo menos não até o ponto em que devamos a ela uma vassalagem tão extrema como a que exige a Farnesina. Por acaso, os Estados mais beligerantes do planeta, como os EUA, se opõem a que a TV brasileira passe documentários sobre a guerra do Vietnã? Até nos próprios EUA esses documentários são vistos sem censura.
4º) Nem Cesare, nem Conti, nem nenhum de nós tem interesse em reviver a sanguinária perseguição de Cesare Battisti. Em meu caso, o livro que escrevi e que está sendo publicado na França, para grande pavor dos italianos, é justamente para fechar essa mentirosa e cínica fábula.
Ele não vai falar de política, nem da Itália, nem nada desse gênero. Ele vai falar de sua copiosa obra literária, que tem mais de 20 livros, alguns dos quais se publicaram nas melhores coleções europeias, de seu dia a dia junto ao povo brasileiro, de seus muitos amigos, de seus afazeres comuns e de suas filhas.
Isto ofende aos descendentes do Fascio, da Cosa Nostra e do Santo Ofício? Hum! Que pena!! É a liberdade de expressão, amigos!
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