Gilson Omar Fochesato *
Em visita cultural ao país caribenho constata-se que o país-símbolo da Revolução Cubana se depara com transformações. A pequena ilha está inquieta. A abertura econômica está mudando um país pequeno em território, mas grande em importância no cenário político internacional.
Quais os anseios desse povo que sabe que a igualdade é condição para o exercício pleno da liberdade? Quais seus desejos? Não pensem os incautos que o povo cubano é submisso, desgostoso com a vida, inimigo de seu governo ou infeliz. Ao contrário, é sabedor de sua história, de seus valores e suas conquistas. Lá há ausência de gente de feitio servil, subserviente.
Nota da redação: este artigo é um contraponto ao texto “O insólito encontro entre Chico e Francisco”, em que o escritor Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, critica a postura do artista Chico Buarque em relação ao regime castrista. O texto foi veiculado ontem (sexta, 14) pelo Congresso em Foco.
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Estigmatizar Cuba como um país miserável é uma falácia, e de extrema ignorância. Alimentada pela grande imprensa que pouca educa, Cuba é tematizada por uma série de preconceitos.
O criminoso embargo cometido contra a sociedade cubana é injustificável. Há carestia e pobreza, sem dúvida. Mas mesmo assim a famosa frase que corre o mundo é verdadeira:“Hoje, 200 milhões de crianças vão dormir nas ruas das grandes cidades do mundo. Nenhuma delas é cubana”. Tampouco alguém passa fome. Nesse contexto, tudo é valorizado. Não se compra o que não se precisa.
PublicidadeHá defeitos e há limites. Os problemas enfrentados são muitos, principalmente nas áreas de moradia, transporte e, agora, do emprego. Entretanto, não se pode negar as grandes conquistas da Revolução, principalmente no que tange à saúde, à reforma agrária e ao sistema educacional.
Mesmo sendo um país pobre, em Cuba todos têm direitos fundamentais socialmente assegurados: alimentação, saúde e educação. Até pouco tempo atrás 93% de sua população possuía nível universitário. Agora são 87%, pois o governo está priorizando as escolas técnicas (nível médio). Não há analfabetismo em Cuba. Conseqüentemente, é um país com poucos assaltos, sem violência (inclusive a doméstica), poucas prisões, poucos presos. Um país sem armas.
Não dá para comparar um país socialista a um país capitalista. Ainda mais esse país, ilhado e bloqueado. Um novo olhar sobre a história da economia cubana demonstra que o pleno emprego não é suportável pela economia estatal, e planejar o corte de até um milhão de empregos públicos paulatinamente absorvidos nas atividades privadas que estão sendo liberadas não é tarefa fácil. Em um futuro próximo é provável que o Estado somente ficará com as grandes empresas. Mas o empreendedor privado deverá se adequar ao que o governo quer.
Mesmo com os embargos, o turismo em Cuba está aumentado. No primeiro trimestre de 2012 houve mais de 1,24 milhão de visitantes. É o setor que traz mais recursos ao país, ficando atrás dos dólares enviados pelos imigrantes em Miami. A movimentação da economia também se dá pelo câmbio negro. Nas riquezas naturais agora se sobressai o níquel.
Percebe-se a diferença entre gerações: enquanto os mais velhos estão um tanto receosos pelas mudanças, os mais jovens estão mais ávidos por elas. Por outro lado, evitar-se-á o desejo de muitos jovens em sair do país.
Cuba dificulta (não proíbe) a saída de cidadãos porque, de outra forma, sua mão-de-obra mais qualificada sairia do país em busca de melhores salários. Haveria uma fuga em massa de médicos, engenheiros, professores, já que possuem emprego em qualquer lugar do mundo, tendo em vista a excelência da saúde e educação que o governo lhes deu em toda a vida. O êxodo se dá em função da economia, e não em função de haver “democracia” de um lado e “ditadura” de outro.
Qual o socialismo possível? Isso não faz de Cuba um modelo, embora seja a prova de que o desenvolvimento é possível fora dos ditames do discurso único.
Como entender a complexidade de sua relação com os Estados Unidos? Como entender que há 26 voos diários em toda a ilha para os Estados Unidos. Que dicotomia é essa?
Que o povo possa aproveitar as mudanças para melhorar sua situação econômica e ampliar o acesso à liberdade democrática sem perder os níveis de educação, soberania e autonomia administrativa. Que não se deixe levar pelo consumismo fútil.
Aos turistas, recomenda-se o diferente. Entre Miami, Las Vegas ou Orlando (Disney), não tenha dúvida: visite CUBA.
Por fim, os cubanos deparam-se com o conceito praticamente desconhecido para eles: pagar impostos também faz parte do capitalismo.
* MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (gilsonomar@uol.com.br).
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Se você tem uma visão diferente sobre este tema e gostaria de vê-la publicada aqui, mande sua sugestão de artigo para redacao@congressoemfoco.com.br.
Por textos como esse se vê como a democracia não é um princípio para a esquerda. Adulam a ditadura mais longeva do continente, onde não há respeito à liberdade de imprensa, de expressão, onde não existem eleições livres e é impossível fazer oposição ao governo sem ser preso.
Dizer que isso se justifica por supostas conquistas sociais é muito descaso com as vítimas do regime tirânico que, sem liberdade de ir e vir, fogem há décadas da ilha-presídio em direção a nações capitalistas como os EUA, jamais se observando o contrário.
Dizer que em tal contexto há respeito aos direitos fundamentais é aviltante.
No fim, tudo se justifica para a esquerda em nome de sua patologia ideológica.
E parabéns ao CF por permitir o debate e dar espaço aos dois lados.
O leitor se equivoca na interpretação correta do texto. Quanto as eleições, em Cuba, como no Brasil ou nos EUA as mesmas se diferenciam. As votações são secretas, não são obrigatórias, mas 90% votam. Os estudantes fiscalizam as urnas e o escrutinio é público.
Gilson, que tal ir morar lá?, já que vc acha que o regime de Cuba satisfaz. Vá mas não volte, morra por lá!.
Um choque de informação talvez duro demais pra quem sempre se baseou em uma visão estereotipada e sem fundamento.
Infelizmente boa parte das pessoas se deixam emprenhar pela mídia e passam a vida a repetir chavoch
“chavões”