Votei no Haddad. Vossa Excelência ganhou. Cerca de 58 milhões disseram sim a Vossa Excelência e cerca de 47 milhões disseram não. Devo reconhecer sua vitória, pois é o jogo da democracia. Sou brasileiro, não desisto nunca. Amo o hino nacional. Verde e amarelo são minhas cores prediletas, embora sendo gremista e do Coxa. Desejo uma profícua gestão, para o Brasil e para nós todos.
Recomendo seguir o conselho de Ulysses Guimarães: ouvir todos os interessados no assunto, e se não tiver consenso, ir para o voto. Agora é descer do palanque, menos palavras de ordem e mais ações pelo Brasil e pelos brasileiros. Além de discursos e mídias sociais, vamos precisar de saúde, educação, segurança pública, enfrentamento da corrupção e muito mais. Vossa Excelência vai precisar de muita habilidade para compor uma equipe de alto nível. Com certeza muitos urubus vão se aproximar do senhor, como urubus atrás de carniça. A negociação com o Congresso Nacional será um desafio, porque a cultura do toma lá, dá cá, está impregnada no Congresso. Aproveite bem a lua de mel, vai ser muito curta. Vai precisar de coragem e habilidade.
Não sou daqueles que torcem para que seu governo não dê certo, que falam quanto pior, melhor. Aqui estamos no mesmo barco, e esse barco se chama Brasil. Cazuza diria, meus inimigos estão no poder. Eu diria um pouco diferente: pessoas que pensam diferente de mim estão no poder, do nosso Estado, do Estado ao qual pertenço… Todos nós temos que fazer nossa parte pelo bem do Brasil. Os governos estão eleitos, eleitos para servir o povo, e deverá haver interlocução com estes governos, até para incidir para preservar a democracia, inclusive nas instâncias de participação e controle social.
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No dia da sua eleição, o senhor falou em verdade, paz, sem extremismo, liberdade de escolhas, governo constitucional e democrático. Afinal, estamos em um Estado democrático. Que estes valores sejam respeitados e cumpridos em seu governo. A Constituição Federal deve ser o nosso livro de cabeceira. Os seus artigos 3º e 5º vedam qualquer tipo de discriminação e asseguram a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Seremos vigilantes com este mantra e o Supremo Tribunal Federal será nosso guardião.
Sobre a comunidade LGBTI+, a histórica pesquisa do Datafolha, com 9173 pessoas de 341 municípios, publicada no último dia 25, apontou que 29% das pessoas entrevistadas com orientação sexual declarada diferente da heterossexual tinham a intenção de votar no senhor. Outra pesquisa, também do Datafolha, publicada no último dia 27, indicou que para 74% dos brasileiros a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade, inclusive com 67% dos eleitores de Vossa Excelência concordando com esta afirmação. Pessoalmente, aceitar seria o ideal, mas respeitar já está muito bom.
Respeitar não somente a comunidade LGBTI+, mas toda a pluralidade existente no Brasil. O respeito a todas as configurações familiares, uma educação de qualidade com liberdade de cátedra, de ensinar e aprender. Da nossa parte, não queremos sexualizar as crianças, nem ensiná-las a fazer sexo e nem legalizar a pedofilia.
PublicidadePrecisamos ensinar as crianças a respeitar as diferenças, e não ter bullying nem violência nas escolas. O respeito às muitas religiões existentes no Brasil e também às pessoas ateias e agnósticas, à laicidade do Estado brasileiro. O respeito às regionalidades, às diversidades de etnias e raças. A igualdade entre os gêneros, um Brasil sem machismo – quero que nossa filha adolescente possa sair de casa sem medo de ser estuprada, e que quando for trabalhar tenha os mesmos salários para as mesmas funções que os homens.
Quero que nossos filhos, que são negros, não sofram racismo. Quero um Brasil em que eu e meu esposo (“o careca e o bigodudo”, citando suas palavras) não soframos homofobia, que sejamos respeitados como qualquer outro cidadão, com igualdade perante a lei. Quero o enfrentamento da violência, acompanhado de políticas sociais. Inclusive, nós da Aliança Nacional LGBTI+ já criamos uma plataforma permanente para receber denúncias de violações de direitos humanos. Quero o respeito a todas as liberdades, inclusive a liberdade de expressão, mesmo que não goste.
Que seu governo seja para 100% da população do nosso país, e não só para seus eleitores. Que seu governo estabeleça relações republicanas e respeite a autonomia dos três Poderes. Que procure unificar e pacificar o Brasil, reencontrar a solidariedade, deixar de lado as paixões e conseguir ter mais racionalidade. Temos que desarmar as bombas do ódio e da intolerância, acalmar os ânimos, descer do palanque e ir para o Palácio do Planalto para governar democrática e constitucionalmente. Moderação e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Estaremos nos comitês, conselhos, fóruns de Estado, para contribuir para um Estado brasileiro mais justo, igualitário, em que as desigualdades, as discriminações e as violências sejam superadas.
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Toni, que vergonha, hein? Onde está sua coerência? Como um defensor dos direitos humanos pode ter votado no PT que apoia ditaduras sanguinárias mundo afora? Não lhe ocorreu que o voto em Haddad era uma traição à luta dos oprimidos por governos autoritários, como aquele que existe na Venezuela? Sabia que Haddad passa pano no Stálin, maior genocida do século XX que, dentre suas vítimas, colocava os gays nos gulags porque não se encaixavam na figura tresloucada do “homus sovieticus”? A luta pelos direitos LGBTI é muito justa, mas este movimento precisa repensar seu comprometimento ideológico com a esquerda. A luta não pode estar atrelada a um grupelho como o PT, tampouco cooptada por uma reducionista tribo ideológica. Deve ser uma causa suprapartidária, não ideologizada.
Mas parabéns por esperar que Bolsonaro faça um bom governo. Agora ele será nosso presidente e seu sucesso é o de todos nós.