O ano vai embora. Então… é hora! Hora de afirmar a vida e lutar por ela, não só a partir de agora, mas desde já. Porque a vida tem pressa, não pode esperar. É preciso inaugurar ou renovar o amor. Não o amor fútil das canções chorosas, babentas, melosas. Mas o amor transformador, esse que impulsiona as grandes mudanças sociais, que oferece o combustível para as grandes revoluções. Sim, é preciso renovar o amor pelo ser humano, como também o amor-próprio, e principalmente o amor pelos que mais precisam… de amor. O amor que derruba ditadores, que restaura a liberdade, preserva direitos e impõe deveres a governantes e governados. Um amor que vá além do beijo e do carinho, mas que seja sinônimo de luta por dias melhores. E como a vida é pra já, o amor tem pressa.
É preciso renovar as forças para combater o mal em todas as suas manifestações. E começar já, com ações que atinjam, por exemplo, o feminicídio, que este ano, pela covardia de machos que se escondem atrás do argumento de que mataram por amor, custou o assassinato de pelo menos 1 mil e 500 mulheres. A vida é pra já. Daí a necessidade de começar pelas nossas crianças um projeto educacional que saia do bê-a-bá e do dois-mais dois e eduque não apenas para ler o Chapeuzinho Vermelho ou para aprender a contar até 10. Mas que eduque… para a vida. E para o respeito, como o que se deve às mulheres, com o fim definitivo do machismo estrutural que precisa ser encarado como um mal que mata, e não como afirmação de superioridade masculina, como cultuado ao longo de séculos.
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Toda forma de amor vale a pena
É preciso começar já, nas famílias e nas escolas, nas praças e nos escritórios, nas casas e nas ruas, a respeitar todas e as mais diversas formas de amar, sem exceção, pois exceções não há quando se trata de as pessoas serem o que são e o que querem ser. Assim, a homofobia, a bifobia e a transfobia, que desde 2019 são consideradas crimes e não doenças, precisam começar desde já a ser combatidas e homossexuais, bissexuais e transexuais precisam ser defendidos apenas como o que são: seres humanos com suas formas de ser e de amar. E protegidos com esse amor revolucionário, amor que reinventa a vida em sociedade. Uma luta que precisa começar já, porque a vida tem pressa. Muita pressa.
Este ano ficou marcado pelas reflexões sobre o racismo, a partir de atos repugnantes como o assassinato cruel daquele americano negro, sufocado pelo joelho de um policial. E, aqui, pelo assassinato covarde daquele homem negro esmurrado até a morte num supermercado de Porto Alegre. É preciso encarar o racismo como crime hediondo, porque atinge o ser humano na sua natureza mais íntima. Todo dia, ao abrir os olhos, milhões de pessoas em todo o mundo passam a mão na pele negra e sabem que, mal o dia nasce, e é hora de começar a lutar pelo direito de serem apenas o que são, pois assim vieram ao mundo. Não há razão para esperar. E não é uma luta que deva começar agora. A luta contra o racismo é pra já. Porque a vida tem pressa.
Fundamental é o respeito às crenças e à natureza
O fundamentalismo religioso, agora associado criminosamente ao fundamentalismo político fascista, não pode ter espaço numa sociedade que se pretende livre e democrática. As pessoas têm o direito de professar quaisquer credos, ou de não professar credo algum, e ninguém tem nada a ver com isso. Tal como ninguém pode ser discriminado por sua crença ou por não ter crença alguma. O nome disso é respeito pela liberdade de culto e de pensamento. Passa da hora de se lutar para que cada um possa acreditar no que quiser acreditar. E dê às suas vidas o rumo que quiser dar, desde que garanta o mesmo direito aos demais. E é preciso agir desde já, porque o pensamento precisa ser livre, maravilhosamente livre. E a vida tem pressa.
Não há mais espaço para a complacência com os que destroem e com os que permitem que se destruam as riquezas ambientais do país e do planeta. É hora de combater e punir exemplarmente os que cometem crimes ambientais. Que em última análise são o melhor exemplo do egoísmo execrável dos que ignoram que não são donos de nada, nem sequer das terras registradas em seu nome, porque são apenas inquilinos do planeta. E, se estão aqui, precisam respeitar os direitos dos outros, inclusive os que ainda estão para nascer. Porque é preciso urgentemente lutar pela vida das gentes, das árvores, dos mares e dos bichos. Uma luta que precisa do amor de todos por Gaia, a Mãe Natureza, porque a vida tem pressa, e tudo é pra já.
É preciso negar o negacionismo. E se organizar desde já para 2022
É preciso inaugurar o novo ano combatendo, cada um na sua trincheira, com o estoque de amor que dispuser, toda forma de negacionismo. Pois diante de um vírus insidioso e praticamente invencível, todas as armas são úteis, sobretudo a ciência. “Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois”. Pois vai ser preciso a união de todos para evitar que todos sucumbam. Essa disposição para a luta não pode ser para agora, porque milhares de pessoas aqui e no mundo estão morrendo. Não é possível que não tenhamos aprendido nada com a luta de Oswaldo Cruz e a Guerra da vacina, em 1918. E se o presidente não é infectologista, ele não tem nada a nos ensinar. A vida tem pressa, e essa luta não é para agora: é pra já.
Como igualmente pra já deve ser o esforço para uma grande concertação de forças democráticas capazes de barrar o aventureirismo absolutista de Bolsonaro e sua tropa de apoiadores. Não dá para esperar mais um segundo sequer. Se ainda houver alguma chance de sucesso, esse grande acordo nacional tem de começar já. Pelas pesquisas disponíveis, o entorpecimento da população não para de crescer. Neste momento, Bolsonaro venceria num eventual segundo turno. E, com a caneta na mão, esse projeto de füher tupiniquim que tem os glúteos assentados naquela cadeira ali na Praça dos Três Poderes é capaz de qualquer coisa para se garantir no poder. E não apenas por mais quatro anos, mas indefinidamente, como é da natureza dos ditadores, a quem ele cultua e copia.
Enfim, a grande reflexão que precisamos fazer nos estertores deste ano fatídico que está pra se acabar é a de que o que está em causa é a vida, é sempre a vida, em todos os aspectos. E tudo é pra já. Porque a vida tem pressa.
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