Pesquisadores de linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Observatório de Sexualidade e Política publicaram nesta terça-feira (5) a segunda edição de um dicionário político que integra a iniciativa “Pequeno Dicionário”. A publicação analisa e se aprofunda nas raízes de expressões usadas no debate público – como “politicamente correto”, por exemplo. Na nova edição, mais seis verbetes foram adicionados: linguagem neutra, identitarismo, família, cidadão de bem, globalismo e liberdade.
Além destes termos, a primeira edição do dicionário intitulado “Termos ambíguos do debate político atual: pequeno dicionário que você não sabia que existia”, lançado em 2022, já contava com oito verbetes. “Cristofobia”, “politicamente correto”, “marxismo cultural” e “identidade de gênero” são alguns dos termos em evidência no debate político nacional que foram explicados no documento.
Segundo os organizadores, o projeto surgiu de uma “insatisfação e autocrítica” com objetivo de apresentar a história dos termos, a fim de que o leitor decida se usar tais expressões faz sentido no cotidiano e em conversas. Dessa forma, o dicionário questiona, nesta edição, o que é identitarismo, pergunta se linguagem neutra “fere” a língua portuguesa e assim por diante, suscitando o debate dos termos e de seus usos.
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“Esses termos geralmente têm a função de categorias de acusação – e não apenas as figuras políticas têm dificuldade de responder a essas acusações sem fúria e sem deboche. Conversas entre familiares, colegas de trabalho, amigas e amigos, nas quais esses termos aparecem, se transformam em brigas nas quais todo mundo perde. Daí vem nossa insatisfação”, aponta o documento.
Um termo relevante no dicionário que ganhou amplo destaque e uma conotação diferente da literal é “cidadão de bem”. Para a doutora em Antropologia na Universidade de São Paulo (USP) Isabela Kalil, a expressão surgiu inicialmente durante os anos 1970 em programas policiais para diferenciá-los dos bandidos. A autora do verbete explica que a partir de 2013, começou a ser um termo político.
“A figura do ‘cidadão de bem’ ganhou centralidade e novos contornos no cenário político brasileiro a partir de 2013. Tal como na ditadura, a dicotomia ‘cidadão de bem’ versus ‘bandidos’ seria usada para opor ‘direita’ à ‘esquerda’ com objetivo de criminalizar a atividade política”, explica Isabela. “Assim, o ‘cidadão de bem’ é como um repositório que agrega um conjunto de visões excludentes sobre como o poder e a política se organizam no Brasil”.
Duas versões
Além da segunda edição completa do dicionário “Termos ambíguos do debate político atual: pequeno dicionário que você não sabia que existia”, há uma outra versão. São dois livros eletrônicos ilustrados e que podem ser baixados gratuitamente. As ilustrações da artista Carol Ito antecedem os artigos nos dois livros, sintetizando as principais ideias contidas e debatidas no texto.
A primeira versão, mais completa, é voltada para o nível acadêmico e tem 121 páginas. A outra versão, por sua vez, é mais simplificada, uma vez que mira o conhecimento médio e estudantil. Por essa razão, aparece na capa o termo “jovem”. Tem 65 páginas no total, pouco mais da metade da outra versão.
“Na edição jovem, todos os verbetes ficaram ainda mais curtos e descomplicados, em um processo de condensação e simplificação textual realizado através de uma ferramenta que avalia o nível de dificuldade de um texto. Este é um processo chamado de ‘tradução intralinguística’, isto é, a tradução de um texto dentro da mesma língua, orientada por metas e públicos diferentes”, diz Janine Pimentel, associada ao Núcleo de Estudos da Tradução da UFRJ. (Por Pedro Sales)
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