Em seu ensaio sobre o Poder Invisível, Norberto Bobbio, renomado cientista político italiano, diz que a democracia é idealmente o governo do poder visível, isto é, do governo cujos atos se desenrolam em público e sob o controle da opinião pública. Mais adiante, Bobbio cita Maurice Joly – que, em seu Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu, escreveu no século passado que as instituições de um país livre não podem durar por muito tempo se não agirem à luz do sol.
Digo isso, para firmar minha convicção de que a solução para a crise política que vivemos passa pela sociedade, por sua representação política. E deve ser pública, à luz do sol, por meio de um plebiscito.
O movimento do sistema político brasileiro cada vez mais aprofunda o racha social, no qual estamos imersos. A escalada dos acontecimentos da política não só contaminaram a economia, como também as relações entre amigos, vizinhos e, principalmente, familiares. E olha que não estamos em período eleitoral. Mas, na verdade, a eleição presidencial, convenhamos, nunca terminou.
Jornalistas tem perguntado minha posição em relação ao impeachment. Respondo que estamos num impasse. O problema é o que acontecerá após a aprovação ou não do impedimento. Minha avaliação é que os perdedores não aceitarão o resultado.
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Em caso de arquivamento, a oposição continuará em pé de guerra, combatendo o governo, enquanto uma parte majoritária das ruas continuará gritando pelo fim da corrupção.
Em caso de impeachment, os que hoje estão na situação vão se entrincheirar contra o novo governo, enquanto a população que foi às ruas na sexta-feira (18) exigirá a mira da Operação Lava Jato contra o governo PMDB/PSDB, cuja linha sucessória é formada por Temer-Cunha-Calheiros.
Numa coisa estamos todos de acordo. A Justiça tem dado respostas céleres e inusitadas aos processos investigatórios. Por exemplo, já condenou o empresário Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses de prisão.
Quando o juiz Sergio Moro condenou Odebrecht, condenou todos os seus financiamentos a campanhas eleitorais. A condenação da chapa vencedora também se estende, senão juridicamente, politicamente à perdedora. E, mais ainda, isto aponta também para a condenação do financiamento da atividade política. Esse deve ser o foco. O ponto futuro para o qual a sociedade deve olhar. A meu ver, se há uma saída digna dessa crise não é tão somente condenando penalmente vários empresários, burocratas e políticos, mas também o próprio financiamento do sistema político.
Gostaria de colocar em discussão se não seria a hora de encontrarmos a recomposição possível, a menos traumática. Isso para o bem da atividade política, como para o bem das relações entre cidadãos.
A última tentativa governista de debelar a crise foi trazer o ex-presidente Lula para a Casa Civil, o que representa uma renúncia branca da presidente Dilma. Considero a nomeação do ex-presidente juridicamente legal, posto que, a sua missão seria assumir politicamente o governo, tornando o ato presidencial uma renúncia chancelada pelo seu governo e pelo seu partido numa tentativa solucionar a crise política.
Por fim, considerando que da mesma forma que existe suspeita sobre a chapa Dilma/Temer, há também suspeições que atingem o candidato da oposição, vai daí, a saída mais democrática, que provocaria de fato uma renovação e daria legitimidade ao governante, seria aquela elaborada pela sociedade e pela classe política publicamente.
Pelos motivos que já expus, os conchavos que estão levando o país a um acordão, que acompanhamos pelos noticiários, não vão desmantelar o espírito bélico que encontramos nas ruas. Pelo contrário, pode gerar mais conflito e agravar a crise.
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