Se tivéssemos que promover o debate sobre o uso de armas pelos cidadãos em um país dividido pela esgotamento da paciência de grande parte da população com a questão da segurança, seria prudente esclarecer que, na vida civil, em qualquer circunstância, uma arma só pode ser utilizada para a defesa da integridade física das pessoas, e em último caso. Portanto, seu uso só deve se efetivar em situações absolutamente críticas, em que não resta qualquer outra ação para evitar o dano fatal. Analogamente, as eleições 2018 exigem reviver o clichê de que o voto é a arma da cidadania.
Em momentos de instabilidade crescente, é absolutamente razoável e ponderado pôr em prática a possibilidade real de evitar o desastre político – principalmente quando as outras opções, no caso de não se fazer nada, levam a cenários caóticos e em que os direitos de participação são restringidos e a democracia desidrata por dentro. As regras do jogo não somente permitem, como indicam o remédio amargo. Tão bom seria que pudéssemos todos escolher o que achamos melhor de verdade, sem outras condicionantes. Não é o caso do Brasil de hoje.
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O triunfalismo que passou a vocalizar o sentimento generalizado de aversão ao sistema não deixará intactas até as instituições que funcionam bem e preservam princípios constitucionais. Ele opera como uma revolução silenciosa, permitindo que coisas que não eram ditas, e até envergonhavam seus defensores, comecem a ser normalizadas e aparecer publicamente nos discursos políticos.
O candidato oportunista recolheu os anseios dessa comoção de parte da sociedade, inconformada por não ter seus gritos ouvidos, e a potencializou como uma narrativa de confrontação aberta, auto-estimulante. Essa figura pós-populista não é líder dessas massas, aquele que indica caminhos. Elas é que procuravam um canal qualquer para se manifestar e ele se apresentou como recipiente. Como um fantoche, repete aquilo que os outros falam, só que usando palavras ainda mais ácidas.
E como reagiram os adversários diretos na tentativa de deter essa onda fascista? Atuaram para desmontar essa farsa grotesca, esclarecendo as classes médias, já saturadas por anos de pretenso desprestígio? Pregaram não haver caminho possível ou sustentável baseado no ódio social e na divisão do povo? Buscaram evidências para demonstrar os riscos que corremos ao flertar com esse mundo? Infelizmente, não.
A ausência de autocrítica com os escândalos de corrupção, inflada pelo determinismo histórico de considerar-se sempre o lado correto na busca dos fins redentores, não permitiu. Em geral, a prática usual foi a de menosprezar o senso crítico, quando não a capacidade intelectual dos eleitores do lado oposto do espectro ideológico. Acirrou-se ainda mais a polarização, promovida pela desumanização do outro, e produzida a título de defender para uns, direitos de coexistência que se negavam àqueles. A estratégia não foi compreender, mas calar.
Em um ambiente tão virulento, como já afirmei em artigo anteriores (“Em 2019, vai ser golpe ou impeachment?” e “O medo venceu a esperança?”), não importa quem ganhe, todos perdemos. Não haverá tecido social capaz de suportar tamanho esgarçamento. Estamos a ponto de jogar fora décadas de consolidação democrática, de esforço civilizatório e de construção da nação brasileira.
No grupo de whatsapp, o amigo alagoano cita Charles Mackay, que em seu livro Ilusões Populares e a Loucura das Massas, advoga que “o homem pensa em bandos, e se verá que ele enlouquece em bandos. Ao passo que só recobra a lucidez lentamente e um a um”. Se a frase explica em parte a irracionalidade do que temos assistido, também indica que há esperança e tempo de recobrar a consciência e evitar que o pior aconteça.
É crucial, portanto, votar no terceiro colocado nas pesquisas finais para a corrida presidencial, como única alternativa para evitarmos essa catástrofe. É imperativo admitir nosso fracasso até aqui e incluir um candidato moderado no segundo turno, absolutamente comprometido com a democracia e que expresse o desejo da maioria dos brasileiros de seguirmos todos juntos e em paz.
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Já antevejo o debate eleitoral do segundo turno, caso se concretize o que apontam as pesquisas. Como nosso parlamento – tão pouco representativo – perdeu as condições objetivas de cumprir essa missão, discursos raivosos incitarão a população a resolver as tensões sociais nas ruas, e a consolidar impensadamente a polarização que os eterniza no poder.
Um dos candidatos conclamará os eleitores a “dar um não definitivo à bagunça, à baderna, ao caos, à intolerância, à intransigência, ao totalitarismo, à bandeira vermelha”. Vai apontar para o broche no peito e dizer “sim à nossa bandeira, essa que está aqui, a bandeira do Brasil, a bandeira verde, amarela, azul e branca; vamos cantar o nosso hino nacional, e não a Internacional Socialista”.
O oponente vai dizer que o “adversário traz, dentro de si, um ranço do regime militar” e “sequer espera a pessoa ser julgada para tentar prejulgar as pessoas e incriminar as pessoas, mas isso faz parte de um aprendizado do regime militar”. As acusações de “autoritarismo e exploração das necessidades do mais pobres” e da “defesa das elites e daqueles que sempre ganharam nesse país às custas do sacrifício da classe trabalhadora” vão se multiplicar durante o embate.
A desqualificação do outro será a tônica desse momento histórico. O hipotético confronto, no entanto, já ocorreu. Era 1989, e um pool de emissoras de televisão transmitia o último debate eleitoral do segundo turno entre Lula e Collor. Lá se vão quase trinta anos. Trinta anos! Até quando vamos cordialmente permitir, sem reagir democraticamente, que radicalismos continuem nos impedindo de ser o país que queremos?
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O problema meu caro, é que o terceiro colocado, no caso do PDT e do Ciro, são apenas uma casta do segundo, e estão agindo imoralmente igualmente às suas palavras neste texto, e inexoravelmente igual ao PT, literalmente, então, suas palavras são meras falácias de um cabo eleitoral fazendo panfletagem eleitoral barata.
Quando leio coisas assim só consigo pensar na decadência da mídia e nos absurdos que diziam contra Trump, lembram? Segundo a imprensa americana, se eleito, Trump representaria uma catástrofe, mas na prática ele calou os críticos e tem proporcionado uma prosperidade econômica sem precedentes. Para um país fadado a um crescimento medíocre com Obama, o desenvolvimento com Trump é algo que tem encantado os americanos e já assegura sua reeleição.
Aqui se dá o mesmo com Bolsonaro: a mídia, viciada na velha política esquerdista e em sua patologia ideológica socialista, vê no capitão um candidato ruim, afrontando a escolha popular. Ora, ruim seria eleger a chapa do presídio, o Haddad com seus 32 processos nas costas, o partido do petrolão, da maior recessão econômica da história, com seu plano de governo assustadoramente totalitário. Querem enganar a quem? É Bolsonaro ou o caos petralha. E ele será um bom presidente, dará um choque liberal em nossa economia e calará os críticos, incluindo o catastrofista que assinou este artigo.
Bolsonaro é a resistência democrática contra a cleptocracia petista.