Semana passada, vendo o PowerPoint apresentado pelo procurador Deltan Dallagnol acusando o Lula de ser dono de um apartamento que não é dele, lembei-me de Colin Powell, então secretário de Estado dos Estados Unidos, do governo Bush, apresentando ao mundo uma apresentação em que acusava o Iraque. Usando um PowerPoint, Colin afirmava que havia armas químicas e biológicas escondidas no Iraque, e que tais armas colocavam a humanidade em risco.
Naquele 5 de fevereiro de 2003, dia em que Colin Powell fez tal apresentação, eu estava com outros parlamentares europeus e brasileiros no Centro de Imprensa de Bagdá. Assistimos à exposição que Powel fez na ONU com o objetivo de sair dali (centro de imprensa), junto com jornalistas, e irmos até os locais, que seriam indicados por Colin, onde estariam as armas letais.
Ele não indicou qualquer local especifico. Portanto, não havia como irmos até esses locais. Dias depois do discurso, o Iraque foi invadido militarmente pelos EUA.
Todos sabiam que o Iraque seria invadido. O discurso de Colin Powel foi uma necessidade para, com o apoio massivo da imprensa norte-americana, justificar o fato.
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O discurso feito por Deltan Dallagnol também é a busca da justificativa para prender Lula. Desde o início da Lava Jato, o foco é Lula. Desde o início, identificaram o criminoso (Lula) e precisam, agora, “encontrar” o crime. Como não há crime, precisam inventar.
Escrevo “discurso” porque é isso mesmo que tem ocorrido. Membros do Ministério Público, delegados e juízes agem por ideologia e posições político-partidárias. Por isso o discurso, já que não têm provas.
Não têm o crime. Têm o discurso que corre de boca em boca e assim vai construindo uma narrativa e um culpado. O objetivo é que o culpado, se não encontrar o crime para prendê-lo, seja moralmente condenado, impossibilitando qualquer vitória político-eleitoral em 2018. Nessa caça absurda, os doutores da Lava Jato criaram até o neologismo “propinocracia” – ou, em suas palavras, “o governo regido pela propina”. Precisam criar slogans.
O pedido de indiciamento de Lula que gerou o espetáculo “powerpointiano” (também posso criar palavras) discursivo foi assinado pelo delegado Marcio Adriano Anselmo. Quem é Marcio Adriano Anselmo?
Em 2014, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o delegado Anselmo era e continua sendo um dos principais nomes da Polícia Federal na Lava Jato. Também revelou que Anselmo, durante a campanha eleitoral de 2014, junto com outros delegados também da Lava Jato, usaram suas redes sociais para elogiar o senador Aécio Neves, então candidato do PSDB, e criticar Lula e Dilma. Segundo o Estadão, Anselmo escreveu em um grupo de Facebook: “Alguém segura essa anta, por favor”, referindo-se a Lula.O próprio Estadão, que não pode ser acusado de ser petista, informou que Anselmo, ao comentar uma noticia sobre Lula, postou: “O que é ser homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente Aécio não deve ser”. Para o Lula não sei, mas para mim Aécio não é sério. Alguém acha que esse delegado (Anselmo) é sério e tem isenção para pedir o indiciamento do Lula? Alguém acha que, se por ventura um dia tiver que investigar o Aécio, ele terá isenção?
Não tem isenção em relação a nenhum. Ele e Dallagnol condenam Lula não por terem encontrado algum crime, mas por convicção. Quanto a Aécio, nem por ventura e nem por ser necessário investigariam. Eles não investigam Aécio nem seus amigos. Por que, por exemplo, não investigaram o helicóptero com 400 quilogramas de pasta de cocaína?
Em dezembro de 2011, quando a “poeira baixou” no Iraque, tentou-se chegar aos números da guerra. A BBC Brasil, em texto de 15 de dezembro de 2011, traz alguns números. É assustador o número de mortos.
Quando a “poeira e o topete” da Lava Jato baixarem, também se chegará a alguns números. Assim como os mortos do Iraque não serão ressuscitados, não será ressuscitada a moral de muitos dos atingidos por injustiças. Talvez tenhamos algumas ações de reparação moral, e quem pagará será o (Estado) o povo brasileiro.
Não sei se, quando a “poeira e o topete baixarem”, Deltan Dallagnol virá a público, como veio Colin Powell, tempos depois, dizer que mentiu.
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