Quando eu era adolescente, adorava assistir àqueles filmes classe B de ficção científica feitos nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 60: A Bolha; Plano 9 do Espaço Sideral, e por aí afora, ou mesmo, mais recentemente, a filmes que homenageiam o gênero, tipo Marte Ataca! ou Homens de Preto. É na qualidade de velho espectador desse tipo de filmes que fico com uma ligeira desconfiança: Demóstenes Torres foi abduzido!
Levaram aquele senador meio gorduchinho de olhinhos miúdos e no lugar deixaram um clone! Reparem que bem mais magro. O primeiro era muito falante, articulado, estava sempre em evidência na tribuna, nos momentos mais disputados das sessões do Senado. Esse agora é praticamente mudo. Quando fala, apenas balbucia algumas palavras. Inclusive – me parece – com um estranho tom metálico à Darth Vader. Tem uns olhos bem mais esbugalhados, como se parecesse meio atônito consigo mesmo. Ao contrário do outro, escolhe entrar no plenário para marcar presença nos momentos em que não há ninguém. Não tem dúvida! É um clone! O outro foi abduzido!
Fico imaginando o que aconteceria se o antigo Demóstenes mais rechonchudo aparecesse para enfrentar esse novo senador carequinha, que tomou o seu lugar. Como o antigo Demóstenes comentaria as argumentações do advogado do senador carequinha para defendê-lo no Conselho de Ética?
Leia também
Imagino que o antigo senador Demóstenes Torres subiria à tribuna para criticar duramente o novo senador carequinha por permitir que seu advogado se pegue a filigranas jurídicas – e não de mérito – na sua defesa. Possivelmente, como promotor de Justiça que é, usaria uma gíria do jargão jurídico para a estratégia: jus esperniandi (ou o direito de espernear). Esculhambaria o senador carequinha por não responder sobre o mérito da questão. Que envolvimento tem com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e sua quadrilha? Como explica as conversas em que parece receber ordens do bicheiro? Os presentes ganhos? As declarações de que era homem de confiança do esquema?
Como o senador rechonchudo que defendeu que os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) se afastassem do Senado para a investigação dos seus casos reagiria diante da insistência de permanecer no Senado do senador carequinha?
O advogado do senador carequinha disse que iria invalidar as provas obtidas nas Operações Vegas e Monte Carlo alegando o foro privilegiado: o novo senador Demóstenes não poderia ser investigado. Bem, como mostra reportagem de autoria de Eduardo Militão publicada ontem (9) por este Congresso em Foco, as operações não investigaram Demóstenes, mas esbarraram nele. Separaram todo o material coletado e enviaram em 2009 para a Procuradoria-Geral da República. Bem provavelmente, o senador rechonchudo bradaria no plenário contra a suposta leniência do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em dar prosseguimento ao inquérito. Se tivesse sido diferente, as provas existentes hoje contra Demóstenes poderiam ser ainda mais contundentes.
O advogado do senador carequinha alegou cerceamento de defesa no Conselho de Ética. Disse que o senador não tivera conhecimento prévio sobre a maioria das alegações contidas no relatório do senador Humberto Costa (PT-PE). Humberto Costa não usou nada do que estava contido nos inquéritos das operações da Polícia Federal, porque não tivera acesso oficial a eles ao preparar seu relatório preliminar. Baseou sua argumentação em pronunciamentos e votos de Demóstenes no plenário, quando falou da sua relação com Cachoeira e em seus votos em questões relacionadas, por exemplo, com o jogo. O senador carequinha não tinha conhecimento sobre as coisas que disse e que fez? Como reagiria a tais argumentos o senador rechonchudo?
Só poderia haver uma explicação: o senador rechonchudo e o senador carequinha não são a mesma pessoa! Por isso o senador carequinha nada sabe sobre o que disse e fez o senador rechonchudo! O senador rechonchudo foi abduzido e substituído por esse clone carequinha! Ou então, há nisso tudo um cinismo e uma falta de coerência de pasmar!
Deixe um comentário