Pivô do esquema de jogo ilegal que envolve parlamentares, governadores e empresários com contratos com o governo federal, o contraventor Carlinhos Cachoeira será transferido nas próximas horas do Presídio de Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para a penitenciária conhecida como “Papuda”, em Brasília. Figura influente em Goiás, base de seus negócios ilícitos, Cachoeira obteve uma liminar concedida na noite desta segunda-feira (16) pelo desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região Fernando da Costa Tourinho Neto.
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Em sua decisão, o magistrado entendeu que Carlinhos Cachoeira não representa alto risco para o conjunto da sociedade. Além disso, segundo Fernando da Costa, o bicheiro não cometeu crime hediondo, critério penal que justifica a detenção de acusados de crime hediondo. Requerida pela defesa de Cachoeira, que é capitaneada pelo ex-ministro da Justiça e advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, a liminar foi obtida no dia em que morreu a mãe do contraventor, Maria José de Almeida Ramos, 79 anos, de falência múltipla de órgãos. Ela foi enterrada em Anápolis, município a 55 quilômetros de Goiânia.
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No presídio potiguar, o contraventor ficava cerca de 22 horas diárias isolado em uma cela individual, sem qualquer contato físico com detentos ou visitantes. Ao bicheiro só era permitidas conversas presenciais por meio de uma espécie de interfone, através de uma parede translúcida. Cachoeira também dispunha de duas horas de exposição ao sol, diariamente. Segundo relato de parentes, ele emagreceu 16 quilos, raspou o cabelo e sofre de depressão, tendo precisado de socorro médico.
Cachoeira de denúncias
Cachoeira foi preso em fevereiro pela Polícia Federal, durante a deflagração da Operação Monte Carlo. Como têm mostrado registros de escutas telefônicas autorizadas, divulgadas quase que diariamente pelos principais órgãos de imprensa do país, ele é o chefe de uma quadrilha que explora jogos de azar (bingo, máquinas caça-níqueis, jogo do bicho) em Goiás e na periferia de Brasília, com o respaldo político de nomes como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Além de Demóstenes, deputados do governo e da oposição e os governadores Marconi Perillo (Goiás) e Agnelo Queiroz (Distrito Federal) são suspeitos de ter algum tipo de relação com o contraventor.
Pesam sobre Cachoeira as acusações de crime de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre outros. Alvo de inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal, devido ao envolvimento de parlamentares e governadores, Cachoeira mantinha contato frequente com Demóstenes Torres, que se desfiliou do DEM em 3 de abril – partido que liderava no Senado – diante da ameaça de expulsão da legenda. Demóstenes era uma espécie de lobista do bicheiro no Parlamento e, em uma extensão de atribuições, no Executivo e no Judiciário de Goiás. Procurador-geral de Justiça do estado, Benedito Torres é citado em diversos diálogos legalmente grampeados pela PF.
As relações entre Cachoeira e os políticos deve resultar em uma comissão parlamentar mista de inquérito no Congresso, que está em fase de coleta de assinaturas de adesão ao requerimento de instalação. Para que os trabalhos da CPI sejam formalizados no Parlamento, é necessário o apoio de pelo menos 198 signatários (171 deputados e 27 senadores, um terço dos parlamentares em cada Casa legislativa).