Vivemos um momento grave. E o primeiro passo para lidarmos corretamente com a realidade é a consciência sobre o seu potencial explosivo. A crise econômica está ainda em seus momentos iniciais. A inflação ameaça bater no incômodo patamar de 8% ou 9% ao ano. Espiral inflacionária a gente sabe como começa, mas seus desdobramentos são imprevisíveis. Ainda mais em um país com forte cultura de indexação.
O intervencionismo estatal do governo Dilma se mostrou ineficaz para reanimar a economia. A visão voluntarista de agir no balcão da Receita Federal ou do BNDES, elegendo ganhadores e perdedores, não impediu o quadro claramente recessivo que enfrentamos. Demissões em massa começam ocorrer e o desemprego bate à porta.
A falta de confiança gerada pela política econômica minou o ânimo dos investidores. O setor externo traz notícias preocupantes. Os preços internacionais dos produtos primários despencam. As vacas gordas se foram. E os movimentos combinados das economias dos EUA e da China são desfavoráveis ao Brasil. A desvalorização do real frente ao dólar deve estimular as exportações e inibir as importações. Mas o efeito colateral deverá ser mais inflação. No plano fiscal, déficits e dívida crescentes.
No front político a condução tem sido desastrosa. Base de sustentação instável. Déficit de capacidade e iniciativa da presidente Dilma e sua equipe. Conflitos permanentes com aliados, principalmente com o PMDB. Popularidade do governo Dilma ladeira abaixo, como registrou a última Datafolha, com 62% dos brasileiros considerando o governo ruim ou péssimo. Isto tudo, embalado pelo maior escândalo da nossa história com os fatos estarrecedores revelados pela Lava Jato. Renato Duque foi preso. Na mesma semana, descobrimos que José Dirceu, o segundo quadro mais importante do PT, amealhou R$ 29 milhões em oito anos como consultor.
O ministro da Educação é demitido num enredo que foi da inabilidade ao patético. Um relatório interno do governo, gerado pela Secretaria de Comunicação – cujo ministro já se demitiu –, fala em caos político e na quase impossibilidade de Dilma reverter a situação.
Diante de tudo isso, é difícil aderir àqueles que subestimam a crise e oferecem uma visão cor-de-rosa da realidade. Não, a situação é grave e delicada, e um impasse se avizinha.
Na história brasileira, tivemos vários momentos de grave instabilidade. A revolução de 30, o suicídio de Getúlio, o golpe de 64, o final do governo Figueiredo e o impeachment de Collor. Tivemos momentos melancólicos e arrastados como o último ano de Sarney. A realidade econômica é adversa. A sociedade está indignada e inquieta. A capacidade política do governo é risível.
É preciso responder a este quadro com responsabilidade e coragem. Estamos entrando num turbilhão sem luz no final do túnel. O desfecho é imprevisível. Mas não podemos perder de vista os objetivos centrais que nos obrigam, como nunca, a defender a democracia, a ética e o desenvolvimento nacional.
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