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Da esquerda para a direita: os ex-deputados Lino Rossi e Nilton Capixaba e o empresário Luiz Antônio Vedoin, denunciados à Justiça como coordenadores do esquema
Eduardo Militão
Dois anos depois de serem denunciados à Justiça, os principais acusados da máfia das ambulâncias continuam em liberdade. Só alguns tiveram seus bens bloqueados. Um deles já ocupa cargo de primeiro escalão na administração pública de Rondônia. E conversam entre si “futilidades” sobre os processos a que respondem e as eleições.
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O empresário Luiz Antônio Vedoin cursa direito numa faculdade de Cuiabá. Seu pai, Darci José, e a irmã, Alessandra, trabalham em empresas da família. O ex-deputado Lino Rossi (PP-MT) voltou a criticar políticos em seu programa de rádio e prepara uma nova volta à televisão. O ex-deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) virou assessor em Brasília, casou de novo e agora é o sub-chefe da Casa Civil do governo de Rondônia.
A Operação Sanguessuga revelou que a empresa Planam, dirigida pela família Vedoin, comandava um esquema de venda superfaturada de ambulâncias, com recursos do Ministério da Saúde, para prefeituras e ONGs do Brasil inteiro. Para viabilizar a fraude, eles contavam com a ajuda de emendas de parlamentares amigos (leia mais). Em troca, pagaram R$ 9,46 milhões em propinas a deputados e assessores.
Lino Rossi, que apresentou o “esquema” aos congressistas, recebeu 117 pagamentos que totalizaram R$ 3,037 milhões, segundo relatório da CPI dos Sanguessugas. Nilton Capixaba, com R$ 631 mil em 47 pagamentos, foi o segundo maior beneficiado com as propinas, de acordo com a comissão de investigação.
Como resultado, Luiz Antônio, Darci, Rossi e Capixaba e a Planam respondem, isoladamente ou em conjunto, a 15 processos e 39 inquéritos policiais só na Justiça Federal de Mato Grosso e de Rondônia. Basicamente, são ações penais e de improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público. Há também execuções fiscais movidas pelo governo para cobrar impostos.
As acusações são de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, crime contra a administração pública, fraude em licitações, crimes contra a ordem tributária, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Há ainda sete procedimentos administrativos no Ministério Público Federal.
“Capi”
Longe dos holofotes, Nilton Capixaba nunca deixou os cargos públicos. Depois do escândalo de 2006, o presidente estadual do PTB viu minguar sua pretensão de se tornar o senador mais votado por Rondônia. Tentou renovar o mandato na Câmara. Mas, com apenas 14 mil votos, só conseguiu a suplência para deputado federal.
Mesmo assim, foi apadrinhado pelo governador Ivo Cassol (sem partido). Tornou-se servidor da representação do governo estadual em Brasília a partir de 1º de fevereiro de 2007. “Trabalhava na área de ministérios”, conta Capixaba. No Congresso, ele circulava com o broche de parlamentar e era chamado de “Capi” por alguns parlamentares rondonienses.
O ex-deputado participou da negociação para liberar emendas suas para Rondônia, como obras no Hospital Regional de Cacoal (RO), com R$ 4,3 milhões em recursos do Ministério da Saúde.
Há 15 dias, Capixaba foi alçado ao posto de sub-chefe da Casa Civil do estado. Passou a semana passada em Cacoal e avisou colegas da repartição que assumiria nos dias seguintes. “Já assumi”, avisa o ex-deputado ao Congresso em Foco. Mas ele não sabe quais serão suas novas funções. “Eles é que vão delegar o que querem que eu faço.”
Casamento prestigiado
No início de janeiro, dois fatos importantes aconteceram na vida de Capixaba. Ele se casou com a jovem Hosana, numa cerimônia prestigiada pelo governador Cassol e pelo presidente nacional do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), cassado em meio ao escândalo do mensalão. No evento, Jefferson, que costuma cantar óperas, não fez por menos. Abrilhantou o casório de Capixaba com a bela música “Eu sei que vou te amar”, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim (veja fotos do casamento).
Capixaba diz que o fim de sua antiga relação com a ex-servidora da Câmara Lucimar Balbino nada teve a ver com o escândalo dos sanguessugas. “Eu já estava separado desde 2001, 2002”, afirma.
O fato é que, uma semana antes do casamento com Hosana, Lucimar foi à delegacia de Cacoal queixar-se de uma suposta agressão cometida pelo ex-deputado. Ela afirma que apanhou depois que reclamou por não ter sido ouvida pelo ex-marido sobre a venda de cabeças de gado do casal.
Capixaba diz que a ex-mulher só fez isso por causa da proximidade de seu novo casamento. “Isso não existe. Foi na época em que eu iria casar. Nunca fiz mal a um mosquito.” Num grampo telefônico de dezembro de 2005, a Polícia Federal flagrou um assessor de Capixaba conversando com Luiz Antônio Vedoin sobre a possibilidade de assassinar um jornalista que fazia reportagem sobre a máfia das ambulâncias.
Os bens do ex-deputado e atual sub-chefe da Casa Civil de Rondônia continuam livres. “Não tenho bens, sou de uma família pobre”, argumenta Capixaba, contrariando sua declaração de patrimônio feita em 2006 à Justiça Eleitoral. Lá, consta uma relação de bens de R$ 356 mil: uma casa e uma empresa agrícola em Cacoal, além de dinheiro depositado em conta corrente.
Pensamento eleitoral
Ele afirma que as acusações só serviram para acabar com o cenário político de sua candidatura a senador. Capixaba nega qualquer relação com a família Vedoin. “Eu nunca tive nada com esse pessoal”, garante.
O ex-deputado pensou em sair candidato a prefeito de Cacoal este ano. Lino Rossi diz que encontrou um entusiasmado Capixaba no aeroporto de Cuiabá. “Ele me disse que ia ser candidato a prefeito e que ia ganhar”, contou Rossi ao Congresso em Foco. Os dois não se entendem: Capixaba nega o encontro.
O fato é que ele desistiu da candidatura para apoiar a vereadora Glaucione Neri (PSDC), contra o petista Padre Franco. “A gente fez um acordo. Se saíssemos nós dois, íamos dar a eleição para o adversário”, afirma Capixaba, que não informa qual a contrapartida do entendimento. Ele diz que não sabe ainda se sairá candidato a deputado federal novamente nas eleições de 2010.
Absolvição
Capixaba nega o recebimento de propinas dos Vedoin para fazer emendas para a compra superfaturada de ambulâncias. “O parlamentar só coloca emendas no orçamento. Se uma empresa ganha a licitação, você não tem nada a ver com isso”, defende-se.
Para ele, o Judiciário vai provar que as acusações do Ministério Público e da Polícia Federal não procedem. “Muitos serão absolvidos. Vocês vão ver que não é bem assim. Isso só se vai saber quando forem apurados os fatos”, afirma Capixaba.
Continuação desta reportagem:
Reclusos, os Vedoin mantêm as acusações
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