Silvana Martani*
Manter-se virgem nos dias atuais não é nada fácil. A pressão dos namorados, amigos e dos grupos é muito forte. Até a menstruação, a vida da menina é muito parecida com a da criança e no seu universo cabe muito pouco sexo, quase não se fala desse assunto e o interesse pelos meninos existe, mas ainda é bem relativo.
Para as meninas após a menarca (primeira menstruação) e, para os meninos, início da adolescência, as conversas incluindo sexo passam a fazer parte assídua de reuniões de amigos e orientações dos pais e educadores.
Normalmente nessa fase, os meninos e meninas não estão preparados emocionalmente para reconhecer sua sexualidade. Ainda precisam brincar e se divertir como uma criança, mas sua altura e seu corpo em desenvolvimento aliado à menstruação provocam um descompasso importante para a estrutura emocional como um todo.
A menstruação é um marco social e físico importante, na qual todos reconhecem que a infância foi embora, menos quem está passando por isso. Para quem vive esse momento entre a menarca e a adolescência, existe um caminho muito mais longo do que as pessoas imaginam.
Entre os adolescentes, não existe respeito ou reservas quanto à vida sexual dos colegas. Cada conquista é pública e cada procedimento é relatado cuidadosamente, em detalhes. Atualmente, é comum a amiga ficar sabendo antes da mãe que a jovem menstruou, muitas vezes pelo constrangimento que esse acontecimento provoca – fruto do descompasso de desenvolvimento ou de como a família lida com o fato.
Há, ainda hoje, famílias em que assuntos relacionados à sexualidade são tratados de maneira inadequada. Ou seja: pouco se fala do tema ou não se fala nada.
Como podemos observar, as coisas não são nada tranqüilas nesse aspecto e as confusões estão apenas começando. Com a cabeça de criança e o corpo em plena evolução, a menina pode começar, muito mais por pressão social, a se comportar como moça, provocando um estrago na sua maturidade.
Como dissemos, o grupo tem uma influência grandiosa na vida dos adolescentes e para permanecer no grupo ou se inserir nele, o jovem é capaz de tudo, até se maltratar fazendo o que não quer.
A virgindade é tratada com desdém pelos grupos de "iniciados". Muita gozação, chacota e humilhação fazem parte da rotina dos jovens virgens. Para superar isso e se sentir mais engajado, os jovens passam a assumir uma postura sexual para a qual não estão preparados e que pode fazê-los sofrer.
Sexo anal e oral são práticas comuns entre as meninas virgens e seus "ficantes" ou namorados. Isto é: como não estão preparadas para serem desvirginadas, elas procuram ser ativas em alguma prática sexual para não serem descartadas. Não podemos ignorar que nessas condições, as jovens estão da mesma forma expostas a doenças sexualmente transmissíveis (DST).
É muito comum os grupos de adolescentes se dividirem entre os que já tiveram a primeira relação e os que não tiveram. O primeiro grupo, normalmente, faz sexo de forma precoce e se vangloria muito disso. Nesse grupo, a quantidade é a prioridade e quanto mais relações sexuais o jovem tiver, mais ele é valorizado pelos colegas, independentemente do risco físico e emocional a que está exposto.
O sexo vivido dessa maneira deixa uma sensação de vazio muito grande e isso se deve ao fato de eles não estarem prontos emocionalmente para viver a sexualidade. Acabam servindo de objetos de prazer para os parceiro(as).
Não existe uma idade correta para iniciar a vida sexual. A juventude é um ótimo momento, mas em que idade dessa fase iremos começar a viver plenamente a sexualidade depende muito e sempre da maturidade emocional.
Tanto os meninos quanto as meninas estarão prontos para ter sua primeira relação sexual quando o sexo não assustar mais. Quando puderem assumir as responsabilidades de uma vida sexual e estarem bem informados e quando o sexo for para uma decisão própria e não para provar nada ou agradar alguém.
Os jovens que se sentem à vontade para explorar seu corpo, que podem conversar com seus pais sobre suas dúvidas, que não se sentem cobrados e recebem orientação, iniciam sua vida sexual mais tarde e são mais centrados em suas necessidades e respeitam mais o próximo.
* Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo desde 1984.
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