Não era minha intenção vir a usar o espaço desta coluna para tratar de temas pessoais. Aqui, o que sempre se pretenderá é a busca de uma análise dos fatos políticos da forma mais equilibrada, desapaixonada e equidistante possível. Mas eu achei que não deveria sonegar aos leitores a narrativa da experiência terrível que tive no último fim de semana. Como um serviço aos pais e mães que me leem. Como um exercício de reflexão sobre esse mundo novo da realidade virtual em que estamos ingressando, sem muito saber dos seus limites e perigos.
No sábado pela manhã, saí de casa para me encontrar com dois colegas que estão desenvolvendo comigo um projeto de um livro que pretendemos lançar no final do ano. Estava num café na Asa Sul com eles dois quando meu celular tocou. Era minha sogra, apavorada: “Rudolfo, volte para casa que seu filho está tendo uma convulsão”. Saí desesperado para casa. Estava sem carro. Minha mulher me deixara no café. Uma colega que está no projeto me levou, correndo às vezes mais que a prudência indicava, até em casa.
Quando entrei no meu apartamento, meu filho estava deitado no chão, apavorado, com os olhos arregalados fitando duas médicas e dois enfermeiros de pé em volta dele. A convulsão já passara, mas ele não conseguia entender o que ocorria. No momento em que conseguiu ter um pouco mais de calma, perguntou: “O que está acontecendo aqui”? Num canto, minha mulher segurava o dedo polegar, gravemente machucado: para evitar que ele mordesse a língua, ela tinha colocado a mão dentro de sua boca.
Alguns minutos depois, estávamos eu e meu filho dentro de uma ambulância, rumo ao hospital. Minha mulher seguia de carro atrás, com minha sogra. Meu filho teria que ficar em observação pelo resto do dia, quando faria uma série de exames, especialmente uma tomografia computadorizada. Foram horas de tensão esperando o resultado da tomografia. No início da noite, a médica chegou e disse para nosso alívio que nada de anormal havia sido detectado pela tomografia.
Por que meu filho teve uma convulsão? Por incrível que pareça, por excesso de videogame. Na sexta-feira à tarde, depois do almoço, ele tinha ido para a casa de um de seus primos. Jogou com ele a tarde toda. À noite, voltou para casa com um jogo do primo, um jogo de guerra, do tipo Call of duty, mas com personagens de Guerra nas estrelas. Ligou o videogame e seguiu jogando até perto das 2h da manhã. Às 9h, quando eu saí para a tal reunião, ele já estava jogando novamente. Às 10h, teve a convulsão.
É bem possível que a esta altura do artigo, já existam vários leitores com os dedos coçando para escrever um comentário chamando a mim e minha mulher de irresponsáveis. Com todo o respeito, vou responder que a grande maioria dos que pensarem assim é hipócrita. Não conheço nenhuma família com filhos da geração do meu que não viva situação semelhante. Adolescentes na faixa dos 15 aos 18 anos, como meu filho, passam o dia inteiro na frente de computadores, videogames e outras parafernálias eletrônicas. E é justamente por isso que resolvi expor aqui essa situação: aconteceu com meu filho, podia ter acontecido com o seu.
Vez por outra, saem notícias de casos de convulsão de meninos que jogavam videogames. Mas são histórias distantes, absolutamente remotas. Alguém no Japão, outro em algum lugar da Suécia. É possível que uma ou outra pessoa até preste atenção ao aviso na contracapa dos jogos (geralmente em inglês) alertando para essa possibilidade. Mas sempre ficamos com a sensação de que é algo improvável, como um raro efeito colateral relatado na bula de algum medicamento. Até que acontece com a gente.
A partir da experiência com meu filho, fica a sensação de que estamos tratando como um mero brinquedo, de livre acesso hoje em dia a qualquer criança, algo que tem o potencial de uma droga perigosa. Como um psicotrópico, o videogame provoca uma estimulação cerebral em grau tão elevado que pode fazer com que o cérebro, por segurança, em determinado momento reaja como um disjuntor no caso de um curto-circuito. Não é uma simples brincadeira. E se meu filho estivesse sozinho em casa – nada muito incomum em se tratando de um jovem de 18 anos? E se, durante a crise convulsiva, tivesse batido com a cabeça, se machucado seriamente? Enquanto minha mãe esperava por notícias no saguão do hospital, ao comentar com uma senhora o que tinha acontecido, ouviu dela que seu neto já tivera quatro (quatro!) convulsões por conta de videogame.
Fazemos um imenso esforço para diminuir o consumo de cigarro, um produto que é consumido por adultos que mal ou bem já têm maturidade o suficiente para saber o mal que causam a si mesmos. Por que devemos continuar tratando como algo banal um produto com tal potencial de dano sobre nossas crianças? Essa é a questão que gostaria de colocar aqui em discussão.
Fica, a partir da minha experiência, a sugestão para algum deputado ou senador que vier a ler esta coluna. Que tal fazer uma audiência pública, na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia ou Saúde, para tratar do tema? Chamar neurologistas, engenheiros eletrônicos, responsáveis pelos jogos, para discutir uma regulamentação da comercialização desses produtos?
Primeiro, me parece que deveria ser obrigatório que a advertência sobre os riscos à saúde dos jogos aparecesse nas embalagens de forma muito destacada. E em português (porque na maioria dos casos aparece nas caixas apenas em inglês). Além disso, me parece que no caso de um produto acessível às crianças deveria ser feito algo além do que simplesmente deixar por conta dos pais a limitação do uso.
No caso do meu filho, ele tem 18 anos: por quanto tempo mais eu terei sobre ele autoridade para dizer o que ele pode ou não fazer? Em segundo lugar, qual é o limite de tempo seguro para se jogar videogame? Como saber? Como mensurar? Depende da sensibilidade de cada pessoa? Se depende, então temos aí mais um desafio.
É possível estabelecer um limite nos jogos para a possibilidade de atividade cerebral que eles provocam? Um limite para a explosão de cores e luzes? Para o nível de concentração? É possível criar algum tipo de trava nos jogos que obrigasse o usuário a fazer uma parada de pelo menos dez minutos depois de um número predeterminado de horas corridas de brincadeira?
Enfim, esse é um caso sério. Posso assegurar agora por experiência própria. O que se espera de um Congresso Nacional é justamente que esteja em sintonia com os problemas da sociedade que o elege. Fica a sugestão. Alguém tem de fazer a advertência: jogar videogame faz mal à saúde.
Bom, acho que devemos fazer algumas contas antes de sairmos falando algo que não sabemos. O filho do jornalista desta reportagem ao que da a entender jogou a tarde inteira, ou seja a partir da 1 hora até as seis, 5 horas. depois chegou em casa e voltou a jogar, suponhamos das 8 as 2 da manhã, mais 6 horas, ou seja ele jogou 11 horas em um único dia( ou 9 pois a partir da meia noite é um novo dia). Quase a metade do dia jogando. Supondo que ele faça isso todos os dias, ele joga 77 horas por semana. Videogames não fazem mal a saúde, o excesso faz, como o excesso de qualquer coisa, mas eu não vejo as pessoas falando que comida mata, mesmo a obesidade matando muito mais do que os “Videogames”. Conheço incontáveis ProPlayers (jogadores que participam de competições e trabalham com jogos) que treinam 6 ou mais horas todos os dias, sem contar fora dos treinos, mas eu não conheço nenhum que teve convulsões, epilepsias ou afins. Acho que devemos mencionar o exagero, e não falar “jogar videogame faz mal à saúde”.