Renata Camargo e Edson Sardinha
As viagens pelo interior dos estados são o principal argumento usado pelos senadores para justificar os altos gastos com combustível. Os parlamentares afirmam que é necessário se deslocar diversas vezes por mês para ouvir as reivindicações dos eleitores. A verba indenizatória tem sido usada para pagar o combustível de veículos dos próprios senadores e de seus assessores nos estados. Os senadores que responderam ao site afirmam que as despesas são para o uso exclusivo de atividades parlamentar.
Os combustíveis abastecem, na maioria dos casos, carros e jatinhos. Os campeões de gasto, por exemplo, os senadores mato-grossenses Jayme Campos (DEM) e Gilberto Goellner (DEM), são usuários de pequenos aviões para cruzar o estado. A justificativa é que as estradas de Mato Grosso “não são boas”.
Jayme Campos gastou R$ 66,72 mil em combustíveis em apenas cinco meses (de abril a agosto), antes de se licenciar para cuidar de sua pré-candidatura ao governo do estado. Goellner pagou R$ 65,22 mil para empresas de combustível. Mas, segundo seu gabinete, a locomoção foi feita também por automóvel. O gabinete não soube precisar quanto foi gasto com cada meio de transporte.
Coincidência ou não, os três parlamentares que mais gastaram com combustíveis pertencem à bancada ruralista, que defende os interesses do setor agropecuário no Congresso. O terceiro deles é o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), que gastou R$ 44,23 com combustível. Todo o valor foi para um único posto, o Auto Posto Watanabe Ltda, em Goiânia.
Entre amigos
Sexto na lista, o senador Almeida Lima (PMDB-SE) apresentou a nota fiscal de maior valor: R$ 13 mil em combustível somente no mês de setembro. O parlamentar justifica que, como “às vezes pega nota, às vezes, não”, esse valor, na verdade, é um acúmulo de gastos de dois meses. Em novembro, Almeida Lima apresentou uma nota fiscal de R$ 10 mil. Todas as despesas do senador com combustível foram pagas a um único estabelecimento, o Auto Posto MEPS Ltda.
O senador justifica que os valores são necessários para percorrer o estado. A cidade mais distante da capital de Sergipe, o município de Canindé de São Francisco, fica a 217 km de Aracaju. “Nesse período de recesso, embora não pareça, é um mês com consumo maior. Hoje, por exemplo, é um dia que tirei para visitar cinco municípios no sertão semi-árido. Não tenho jatinho, uso combustível só para automóvel. Mas viajo muito”, afirma.
Segundo o senador, o seu escritório no estado usa de dois a quatro carros por mês. Entre os carros, estão uma Toyota Hylux e dois Corollas. O senador afirma que os veículos são alugados dos “companheiros amigos” Francisco Maurício de Sá Santos, Antonio Márcio Rocha de França e Kleysse de Santos Lima, que recebem pelo aluguel R$ 3,5 mil, R$ 2,5 mil e R$ 2,5 mil por mês, respectivamente. Francisco foi assessor e secretário parlamentar do gabinete. Segundo o senador, a irmã de Kleysse também foi sua assessora.
Destino: Palácio do Planalto
O senador Mão Santa (PSC-PI) não está entre os dez que mais gastaram, mas também teve uma despesa considerável com combustíveis. Ao todo, o senador piauiense despendeu R$ 27.447 de sua verba indenizatória para o Posto União no estado. Procurado para justificar seus gastos, Mão Santa argumentou que precisa viajar muito pelo estado.
“O Piauí tem 224 cidades. Cabem 12 Sergipes no meu estado. Só quando eu governei, criei 78 novas cidades. Ele é muito grande e eu rodo muito por aqui. Viajo para tudo quanto é lugar. E quero que façam uma CPI na minha vida, se disserem que estou gastando muito. Minha vida é um livro aberto e não sou aloprado não. Os senhores estão falando com o homem mais respeitado deste país”, disse Mão Santa.
O senador afirmou ainda que não sabe quantos carros têm em seu escritório do estado, mas confirma que os automóveis também usam recursos da verba indenizatória. Mão Santa disse que não sabe quanto gasta com combustível, pois quem “resolve isso” é o seu secretário. “Ele é que cuida dessa parte. Eu estou preocupado é com o Brasil. Estou me preparando para a Presidência da República”, declarou.
O Congresso em Foco entrou em contato por e-mail e por meio dos gabinetes e celulares disponíveis dos senadores que mais gastaram com combustível. O site aguarda retorno dos senadores Jayme Campos, Marconi Perillo, Cícero Lucena (PSDB-PB), Augusto Botelho (PR-RO), Romero Jucá (PMDB-RR), Efraim Moraes (DEM-PB), Romeu Tuma (PTB-SP) e Magno Malta (PR-ES).
A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), que apresentou uma nota de R$ 6.146 no mês de dezembro, respondeu, por meio de sua assessoria, que o valor foi referente a gastos acumulados. Segundo sua assessora, a parlamentar gasta muito viajando de carro pelo estado. Lúcia gastou R$ 18,81 mil com combustíveis, entre abril e dezembro do ano passado.
Deixe um comentário