Ernani Pimentel *
A imprensa noticiou que no dia 29 de setembro iria ser votada no plenário da Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 471/05, um novo e indecoroso “trem da alegria”, visando efetivar 5 mil responsáveis por cartórios sem o devido concurso público.
À tarde, recebo um telefonema urgente de um senhor pedindo o apoio da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), da qual sou presidente, porque estava na Câmara para defender a Constituição, que prevê o preenchimento de todos os cargos públicos via concurso, e os deputados enfrentavam enorme pressão para a aprovação da referida PEC. Pressão essa estimulada, logicamente, por pessoas organizadas e incentivadas pelas vantagens financeiras dos interesses individuais e não coletivos.
Infelizmente, como eu estava em manga de camisa e distante fisicamente da Praça dos Três Poderes, não poderia chegar a tempo nem entrar no plenário daquela Casa, o que me entristeceu profundamente. Disse-lhe que, se tivéssemos sido informados com antecedência, teríamos estado lá juntos e que das próximas vezes poderemos e queremos fazê-lo, pois o objetivo mais alto da Anpac é o fortalecimento dos processos seletivos públicos, que devem dar oportunidades a todos, não apadrinhar quem quer que seja, numa postura de retidão, transparência e legalidade.
Mas a tristeza e a insegurança me acompanharam para casa e passei a noite pensando no comprometimento de muitos políticos com a continuidade dos erros do passado e a falta de visão da realidade brasileira, que se vem transformando para melhor. De manhã fui atrás de saber o desfecho da votação e felizmente a matéria foi retirada de pauta. Que ótima notícia! Vejam a manchete de 11 sílabas (onze é número mestre): as forças do bem paralisam o trem.
Aliviado, agora posso dizer ao senhor que me ligou, cujo nome não consegui ouvir: “Meu amigo, parabéns pela luta. Ligue-me de onde estiver e vamos trabalhar juntos para que não haja mais trilho para esse trem e outros semelhantes. Que em nosso país não haja mais trilho, estrada ou qualquer acesso à corrupção ou ao desrespeito aos direitos de todos”.
Os recentes escândalos, longe de serem ruins, foram e têm sido benéficos na medida em que vão mostrando ao eleitor quais os políticos comprometidos com os bons valores e que trabalham pela evolução da sociedade a patamares mais harmônicos.
Pensando bem, quais são eles? Quem pode prestar esse enorme serviço social de levantar esses dados? Respostas para presidência@anpac.org.br.
*Ernani Pimentel é presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac).
Deixe um comentário