João Bosco Leal *
Ontem (30) recebi uma ligação dizendo que poderia buscar, na agência de trânsito local, a Agetran, minha licença de estacionamento em vaga especial, que ficara pronta. Passaram-se vinte dias desde a minha solicitação, para me entregarem uma licença, federal, que é emitida na hora em diversas cidades do país.
Nesse local, quando fui solicitá-la, observei que não havia sequer um estacionamento para deficientes físicos, para o qual estava solicitando a licença. Na oportunidade, falei com o chefe da seção, reclamando da inacreditável e inaceitável inexistência de tal estacionamento, exatamente na agência de trânsito de uma capital, responsável pela implantação dessas vagas em toda a cidade e pela emissão da permissão de uso das vagas especiais, que eu então pleiteava.
Quando fui buscar a licença, lá estavam duas vagas, uma destinada aos portadores de deficiências e outra aos idosos, com o devido símbolo internacional pintado no solo, as placas sinalizadoras verticais, enfim, tudo certo, tudo muito bonito, o que mostra a boa intenção e o reconhecimento do erro por parte da pessoa com quem eu havia conversado. Mas, pasmem, as vagas foram colocadas dentro de um estacionamento restrito aos funcionários do órgão.
O portão frontal do estacionamento, que possui inclusive uma guarita para o controle de entrada e saída dos veículos, permanece fechado, trancado, e sem ninguém na guarita a quem se possa solicitar a abertura, para acesso às vagas especiais.
Diante da impossibilidade de acesso, deixei o veículo na própria avenida, que na realidade ainda é praticamente uma rodovia, por se tratar da principal entrada da cidade, sendo justamente ali onde deveriam existir essas vagas, por ser a entrada principal do prédio, e me dirigi, à pé, dando voltas distantes por dentro do prédio, até atingir o local onde deveria retirar a licença, que fica bem próximo das vagas especiais colocadas dentro do estacionamento.
Questionando sobre o fato, fui informado que realmente aquele estacionamento era de uso exclusivo dos funcionários, mas que, se quisesse utilizá-lo, poderia, desde que continuasse o trajeto do portão fechado por mais uma quadra de distância, pois a primeira rua era contra mão, e fizesse o contorno até atingir o estacionamento pelos fundos do prédio e, aí, na guarita que lá está em funcionamento, me identificar como deficiente, que sem dúvida teria o acesso permitido para estacionar na vaga especial, próxima ao local de destino.
Fiquei então me questionando se aquilo era realmente muita ignorância e incompetência dos responsáveis por isso, ou mais uma prova da verdadeira exclusão social que o país impõe a seus filhos que possuem qualquer tipo de deficiência, seja de locomoção, visual, auditiva ou mental, e aos idosos.
Se no prédio do próprio órgão responsável pelo trânsito e, consequentemente, pelas vagas para os deficientes e idosos e pelas licenças emitidas para usá-las, isso ocorre, imaginem como esse órgão funciona no restante da cidade, seja no centro ou na periferia. Um atraso cultural inadmissível, num país que luta para fazer parte do primeiro mundo. Um crime contra os cidadãos que possuem qualquer tipo de dificuldade, atitude de desrespeito e de verdadeira exclusão social, promovida exatamente por quem deveria cuidar da acessibilidade de todos.
Nunca seremos do primeiro mundo sem respeitarmos nossos próprios cidadãos, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos, sadios ou deficientes. Até porque, amanhã, após um simples acidente nesse país onde nem os órgãos responsáveis respeitam as leis de trânsito, o deficiente pode ser você ou um dos seus.
* Produtor rural, articulista e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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