Ronaldo Brasiliense*
É difícil para um simples mortal acreditar: nos últimos 11 anos, o Brasil pagou mais de R$ 750 bilhões de juros da dívida externa. Coube ao senador Osmar Dias (PDT-PR) revelar que somente o governo Lula, nos seus pouco mais de mil dias, pagou quase R$ 300 bilhões de juros, engordando as contas dos grandes agiotas internacionais: os banqueiros, o FMI e o Banco Mundial.
Durante o primeiro governo do tucanato, do imperador Fernando Henrique Cardoso, o gasto com juros da dívida foi de R$ 197 bilhões. Já no segundo governo FHC, outros R$ 268 bilhões foram gastos com a mesma finalidade. O governo paga a dívida com a fome do povo, com a exploração do trabalho escravo, da mão-de-obra infantil, com o pífio salário mínimo, com aposentadorias de vergonha, com estradas esburacadas e com o analfabetismo que persiste e se amplia nas regiões mais pobre do Brasil.
São esses agiotas cretinos que garantem ao Maranhão ter 83 entre os 100 mais pobres municípios brasileiros, fornecendo o grosso da mão-de-obra escrava utilizada para promover os gigantescos desmatamentos na Amazônia, para a implantação de fazendas de gado, que garantiram ao Brasil o tristemente famoso título de país que mais derrubou florestas em todo o planeta. De cada dez árvores cortadas no mundo, quatro foram abatidas na floresta amazônica.
O PT cresceu em seus primórdios defendendo com unhas e dentes a decretação da moratória da dívida externa. Passou décadas criticando as políticas entreguistas dos governos José Sarney e Fernando Collor e as administrações neoliberais de Itamar Franco e FHC. Lula assumiu o poder e fez a mesma coisa que os outros. Até pior…
Que país é este que paga em menos de três anos cerca de R$ 300 bilhões de juros da dívida externa e, no mesmo período, não investe nem um décimo disso em programas sociais? Que governo é este que pretende incluir 11 milhões de famílias na Bolsa-Família, pagando um mensalinho de R$ 95 por mês, mas sem grantir cidadania, emprego, educação, saúde decente e segurança pública?
Lula e seus comissários podem ter certeza de que, em 31 de dezembro de 2006, milhões de brasileiros continuarão sem ter café da manhã, almoço e janta. Uma bela imagem para Duda (Dusseldorf) Mendonça trabalhar no horário de propaganda eleitoral. Mas uma promessa que, mesmo que seja reeleito ano que vem, Lula não conseguirá cumprir até 31 de dezembro de 2010 enquanto tiver as amarras dos juros escorchantes da dívida externa para pagar e manter a política neoliberal herdada de FHC e tocada com maestria pelo enrolado escudeiro Antonio (Leão & Leão) Palocci.
Perdi há alguns anos um amigo jornalista que defendia que todo repórter deveria perguntar até a exaustão sobre determinado assunto até ter clareza para escrever sobre ele, o tema. A pergunta que não quer calar, no caso, é: se o Brasil, em 11 anos, pagou mais de R$ 750 bilhões em juros da dívida externa, de quanto é o principal dessa dívida? Até quando o Brasil terá que pagar R$ 100 bilhões/ano (média do governo Lula) para ficar livre dessa praga? Até quando a fome do povo brasileiro pagará essa excrecência?
Bons tempos aqueles em que os hoje detentores do poder ganhavam as ruas, conquistando corações e mentes, defendendo aos gritos, em altos brados retumbantes, as palavras de ordem atualmente sepultadas pelo limbo da história: “Moratória, já!, Fora FMI!”.
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