Na semana passada, na quinta-feira (29), a gente publicou aqui no Congresso em Foco reportagem que mostrava como o PSDB tinha lido a pesquisa que encomendou ao consultor de marketing Antônio Lavareda, e que estratégias estavam sendo montadas a partir das leituras desses dados. Como mostramos, um resumo da leitura era que o partido pretendia “isolar” José Serra e “incensar” Aécio Neves, na premissa de que o tempo de Serra havia passado e que as possibilidades de futuro concentravam-se em Aécio.
Confira:
PSDB trabalha para isolar Serra e incensar Aécio
Bastou um dia para os fatos comprovarem o que a gente já dizia aqui. Na sexta-feira, o senador Aloysio Nunes Ferreira postou em seu Twitter diversos comentários em que demonstrava claramente a sua insatisfação com o fato de ele e Serra terem ficado de fora do programa do PSDB em São Paulo. Num dos comentários, ele assumia que estava, de fato, “passando recibo”.
Panos quentes foram rapidamente providenciados. As explicações dadas a Aloysio davam conta de que o partido perdera na Justiça parte do tempo do programa, e que era por conta dessa limitação que ele e Serra tinham ficado de fora. Promessas foram feitas de que tal “falha” seria corrigida no futuro.
Mas o fato é que o programa do PSDB em São Paulo era a demonstração clara da estratégia que se opera de dar menos visibilidade a Serra. Aloysio Nunes acabou pegando carona no ocorrido. Durante os últimos anos, desde que deixou de ser poder, o PSDB julgou que poderia replicar o fato de ter relativo domínio do quadro político no maior estado do país na sua estratégia nacional. Ignorou que, nesse período, o país mudou muito. Tornou-se economicamente menos dependente de São Paulo e menos centralizado. Os novos centros de produção econômica geraram também novos centros de decisão política. O país descentralizou-se em todos os sentidos, e o que era bom para São Paulo não era necessariamente bom para o restante do país.
Essa é uma das sinalizações da pesquisa. Por conta dela, funcionou muito pouco para Serra, nas suas duas campanhas perdidas, e para Geraldo Alckmin, na sua tentativa em 2006, repetir nos seus programas eleitorais o que eles fizeram por São Paulo. A isso se somou a estratégia – que a pesquisa também demonstra ter sido errada – de centrar suas campanhas no que fizeram escondendo do eleitor o que eventualmente poderia haver de positivo na experiência que os tucanos de fato tiveram no comando do país, com Fernando Henrique Cardoso. A pesquisa ratifica o que a cúpula tucana já sentia intuitivamente: Serra teve duas chances, perdeu nas duas, e seu tempo se esgotou – qualquer tentativa de renovação tem que passar por longe dele.
O problema é que seria ingenuidade imaginar que Serra – e aqueles que estão com ele – iriam aceitar pacificamente as consequências práticas de tal constatação. Daí, a reação de Aloysio. E outras reações assim certamente virão. Dificilmente, seja por seu temperamento seja pela forma como as coisas sempre se deram no PSDB, Serra vai aceitar pacificamente assumir uma posição subalterna e passar a trabalhar como mero colaborador coadjuvante da nova ordem tucana.
Eis aí o que tem sido o grande problema do PSDB desde que deixou o poder: sua total incapacidade de traçar suas estratégias sem atropelar derrotados e deixar sequelas que, no final, acabam dividindo, diminuindo e dificultando a vida do partido. Desde 2002, tem sido assim. Nenhum disputa interna no ninho tucano acontece sem que voe pena pra todo lado.
Em 2002, Serra, ao impor-se, passou por cima de Tasso Jereissati, que era pré-candidato como ele. Magoado, Tasso resolveu despejar os votos que tinha no Ceará – que não eram poucos – na candidatura de seu amigo e antigo aliado, Ciro Gomes, que era então candidato à Presidência pelo PPS.
Em 2006, foi Alckmin quem atropelou Serra. Na ocasião, Serra hesitava em ser novamente candidato, Alckmin adiantou-se e pôs seu bloco na rua, a partir de uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no qual anunciou que era candidato à Presidência da República antes mesmo que os entrevistadores perguntassem algo. E aí foi Serra quem fez corpo mole na campanha de Alckmin.
Em 2010, Serra fez tudo o que pode para evitar que houvesse uma prévia no partido entre ele e Aécio Neves. A prévia poderia ter sido uma boa estratégia para o PSDB. Ela aconteceria num período em que o partido, na oposição, não tinha como criar fatos para se colocar diariamente na imprensa. Resultado: o então presidente Lula pegou sua candidata, Dilma Rousseff, pelo braço e saiu com ela inaugurando obras pelo país. Se tivesse havido a prévia no PSDB, elas disputariam a atenção da cobertura jornalística com as inaugurações de Lula e de Dilma. Além disso, internamente, desta vez foi Aécio quem fez corpo mole na campanha de Serra.
Se quer realmente mudar sua estratégia, uma coisa que o PSDB poderia buscar aprender com o PT é a ter mais disciplina interna. Os petistas, com as suas várias correntes e tendências, brigam feio entre eles internamente. Mais feio até que os tucanos. Mas, tomada a decisão, quem perde se recolhe. Ou então acaba expulso do partido, caso dos que saíram para fundar o Psol. É verdade que essa situação no PT decorre muito da posição privilegiada de Lula nesse contexto interno. A grande maioria dos petistas jamais ousou contestar sua vontade. Os que ensaiaram ou foram convidados a sair – como Luiza Erundina e Cristovam Buarque – ou foram condenados a uma situação marginal – como Eduardo Suplicy.
O resultado negativo disso é que o PT não foi capaz de construir uma opção política a Lula ao longo da sua existência. Mas, na prática, isso foi um problema? Não. Lula inventou Dilma e o PT continua no poder. O PSDB tem mais de uma alternativa e continua fora dele.
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