Talvez tenha sido por causa das festas de fim de ano. Ou devido à preguiça que o calorento mês de janeiro provoca em todos nós. Mas pouca gente se deu conta de que se dissiparam as incertezas que até recentemente cercavam a definição dos futuros presidenciáveis tucano e petista. Deu a lógica. Os favoritos confirmaram o seu favoritismo.
No campo oposicionista, a desistência formal do governador mineiro Aécio Neves em dezembro abriu caminho para que o governador paulista José Serra já possa ser considerado como o candidato ao Palácio do Planalto não apenas do PSDB mas também de uma aliança de partidos de oposição ao governo. Os maiores trunfos do governador Serra são o seu excelente desempenho nas pesquisas de intenção de voto, o seu elevado patamar nacional de recall, e a sua excelente avaliação no governo do mais populoso estado da federação.
Na base aliada do governo, o reconhecido sucesso do tratamento de saúde a que se submeteu a ministra Dilma Rousseff igualmente afastou definitivamente do cenário as especulações sobre a possibilidade de o PT vir a indicar algum outro presidenciável que não seja ela. A titular da Casa Civil deverá também ter o apoio formal da maioria dos partidos da coalizão governista. A ministra Dilma terá a seu favor a popularidade do presidente Lula, um cenário econômico benigno no resto do ano, e a maior fatia do horário eleitoral gratuito nos meios de comunicação.
Essa configuração específica do tabuleiro sucessório confirma a aposta que fiz em coluna que publiquei há cerca de seis meses aqui mesmo no Congresso em Foco (“Prognósticos para a sucessão presidencial” – 3 de junho de 2009). Naturalmente, não tenho nenhuma bola de cristal. Mas a experiência de analista me ensinou que o processo de escolha dos candidatos a presidente costuma obedecer a um sistema de “pontos corridos” (e não de “mata mata”) dentro de cada partido. Ganha quem acumula mais pontos, em vez de mais vitórias isoladas. Olhando em retrospecto, até parece ser simples: o governador mais importante do país contra a principal ministra do governo federal. Não haverá azarões.
Baseados em décadas de observação da experiência eleitoral internacional, os manuais de ciência política costumam dizer que os candidatos governistas tendem a sair vitoriosos quando os governantes já são muito populares e/ou quando a conjuntura econômica favorece o crescimento e o consumo. O candidato de oposição tende a ser vitorioso quando essas duas variáveis aparecem com sinais trocados – como na recente eleição de Barack Obama nos Estados Unidos. Mas essas relações não são determinísticas, e as exceções também são abundantes.
Para aqueles que se interessam em antecipar com maior grau de precisão para qual lado penderá a sucessão presidencial brasileira, recomendo fortemente que acompanhem o segundo turno das eleições presidenciais chilenas, que será realizado neste domingo (17). A mesma coalizão partidária governa o Chile há vários mandatos presidenciais, e a atual presidente também é bastante popular. A economia chilena é talvez a mais aberta e estável de toda a América Latina, e taxas positivas de crescimento econômico são uma constante. Mas a campanha eleitoral chilena tornou-se uma das mais emocionantes de todos os tempos. No primeiro turno, o candidato oposicionista obteve 44% dos votos, contra apenas 30% do candidato governista. E agora as pesquisas têm apontado empate técnico, com chances de vitórias para os dois lados.
Se o governismo chileno for vitorioso no domingo, os manuais ganharão mais um caso para ilustrar a tendência apontada dois parágrafos acima. E a campanha da ministra Dilma Rousseff poderá ficar mais confiante. Entretanto, caso a oposição chilena seja vitoriosa, será a campanha do governador José Serra que ganhará um importante e animador precedente. Para quem gosta do assunto, as eleições chilenas serão um ótimo programa de domingo!
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