Daniela Lima
O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), voltou a reinar graças ao fiel eleitorado. O político que ganhou fama como o “rei do baixo clero” e defendia o nepotismo e os deputados sem grande expressão, parece muito à vontade no cargo de prefeito de João Alfredo, município pernambucano em que nasceu e onde iniciou sua trajetória política há 42 anos.
Severino deu entrevista pelo telefone ao Congresso em Foco. Confessou empregar a nora Olga Maria Cavalcanti como secretária de Fazenda e Administração. Contou também ter indicado dois filhos para cargos públicos em Recife.
Questionado sobre a súmula do Supremo Tribunal Federal que veda a prática do nepotismo, Severino mira sua artilharia para o Senado Federal. “Aqui não tem crime nenhum. Ela (a nora) trabalha. Escândalo é o Senado, com 181 diretores. Eu conheço aquela Casa, não precisa disso”, criticou.
A justificativa de hoje é a mesma de quatro anos atrás, quando já defendia o nepotismo: “Quem é parente de político não pode ser alijado por isso. Ela é uma pessoa competente, é a minha salvação aqui. O que não pode é dar emprego para filho, parente parasita, aquele que come e dorme, não trabalha. Isso aqui eu não admito”, sustentou.
Olga tem um longo histórico de colaboração com a carreira política de Severino. Enquanto ele foi deputado, ela atuou na Coordenação de Registro Funcional da Câmara, recebendo um salário de R$ 7.503,00, o mais alto entre os cargos de natureza especial (CNEs) da Casa. Agora, como secretária de finanças, é o braço direito de Severino.
Os parentes de Severino têm sorte. João Alfredo tem problema crônico de desemprego e 48 % da população é analfabeta.
Indicações de confiança
O prefeito de João Alfredo também se orgulha das indicações políticas que fez para levar dois de seus filhos a cargos políticos em Pernambuco.
José Maurício Valladão Cavalcanti ocupa desde 2005 a chefia da Superintendência do Ministério da Agricultura em Recife.
A filha, Ana Cristina Cavalcanti, ex-deputada estadual, ocupa hoje a presidência do Instituto de Recursos Humanos (IRH) do estado. “O Zé Maurício é muito querido e respeitado por todos lá. Tanto que entra ministro sai ministro e ele continua no cargo. A Ana também. Pegou o Instituto com seis meses de déficit e hoje está tudo quitado”, falou, defendendo a cria. “Ela é quem cuida da saúde dos servidores do estado de Pernambuco. Tenho filhos competentes e dei sorte que minha nora também é boa”, ressaltou.
Saudades de Brasília
O ex-deputado admite que vem a Brasília com freqüência. “Não dá para se gerenciar um município sem ir a Brasília”, disse. Entre as prioridades nas visitas, ele conta, está a captação de recursos para transformar João Alfredo em um pólo industrial, resolvendo o desemprego na cidade.
Questionado sobre a possibilidade de tentar nova eleição para a Câmara, ele diz que não leva muita fé. “Acho que para Brasília não volto mais. Estou com 78 anos. Com mais quatro anos de mandato, estarei com 82 anos. Não sei se agüento outra campanha”, explicou. “Além disso, tenho um compromisso de muita responsabilidade com João Alfredo. Vou mudar a fisionomia do município”, ressaltou.
Ainda falando sobre a capital federal, Severino confessa: “Eu gostava muito de ser deputado. Tinha tanto gosto pela coisa que passei por vários cargos na Mesa Diretora. E sempre fui muito bem votado. Na minha eleição, recebi mais votos que o Temer (Michel Temer, o atual presidente da Casa).”
Saudades da imprensa
Até hoje Severino credita sua renúncia à perseguição da imprensa. Ele desistiu do mandato após protagonizar escândalo que ficou conhecido como “mensalinho”. Foi acusado de cobrar R$ 10 mil de propina do proprietário de uma das lanchonetes da Casa.
“Os jornais do Sul não me aceitavam como presidente da Câmara. Mas nos oito meses em que a presidi, ela funcionou plenamente. Eu levava os ministros em meu gabinete para ouvir os deputados”, detalhou, com uma boa dose de saudosismo.
Ainda assim, Severino diz que sente falta dos holofotes. “É aquela coisa, né? Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, justificou.
Entusiasta de Dilma
Quanto ao governo federal, apesar de reclamar do corte no Fundo de Participação dos Municípios (FPM) – que ele garante, chegou em João Alfredo a 40% –, Severino é só elogios. “Tenho certeza que Lula é a grande esperança para o Nordeste. Votaria nele outra vez”, declarou.
Mas, como a possibilidade de um terceiro mandato está afastada, pelo menos por enquanto, o que o prefeito acha da ministra da Casa Civil Dilma Rousseff como candidata à sucessão? “Poderia votar nela, mas ela teria que mudar um pouquinho a intransigência. Se bem que ela está se esforçando. Fez plástica, mudou a fisionomia. Se eu não fosse um sexagenário sem esperança…”, concluiu, aos risos.
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