Cláudio Versiani*, de Nova York
No final de seu mandato, em 1955, o presidente Dwight Eisenhower fez um pronunciamento à nação e alertou: “Fomos impelidos a criar uma indústria de armamentos permanente de grandes proporções… Reconhecemos a necessidade imperativa desse desenvolvimento, mas não devemos deixar de compreender suas sérias implicações”.
A sociedade americana parece não ter dado ouvidos ao alerta do presidente. De lá para cá, os EUA continuam invadindo países pelo planeta afora e exportando democracia e liberdade para o mundo “não civilizado”. Eles adoram meter o bedelho mesmo onde não são chamados. Todos os presidentes que vieram depois de Eisenhower, independentemente do partido, interferiram na vida ou invadiram países em vários continentes.
Não convém generalizar e dizer que os americanos são um bando de alienados, que apóiam tudo o que os presidentes fazem. É bom lembrar que esse país tem momentos históricos memoráveis. A luta pelos direitos civis, o movimento negro e a geração paz e amor que a guerra do Vietnã desencadeou são alguns bons exemplos.
Agora vivemos um momento em que a indústria bélica e o presidente George Bush dão as cartas. Mas, a cada dia que passa, o cacife deles diminui e a resistência à guerra do Iraque aumenta.
Em agosto de 2006, o apresentador do programa "Scarborough Country”, da rede de TV MSNBC, Joe Scarborough, colocou no ar uma seqüência de dez minutos com o presidente Bush falando um monte de bobagens. A mais hilária é quando Bush declara: “Eu sei que os seres humanos e os peixes podem coexistir pacificamente”. Ainda bem, melhor para os peixes. Veja o vídeo aqui…
Joe Scarborough, um ex-deputado republicano pelo estado da Florida, pergunta se George Bush é um idiota ou só inarticulado. O debate que se segue é se Bush é mesmo um idiota ou, ao contrário, se ele é muito esperto. O fato é que George Bush deu mais um golpe nos americanos com a história de mandar mais 21.500 soldados para o Iraque.
Bush tem contra si a opinião pública americana e mundial. Se isso não fosse pouco, seu plano de aumentar o efetivo americano no Iraque, 132 mil soldados, enfrenta resistência dentro de seu próprio partido e de seus generais, ou pelo menos da maioria desses. E, óbvio, do Partido Democrata, que agora controla as duas casas do Congresso.
No primeiro ano da guerra, os generais clamavam por mais tropas e pelo melhor aparelhamento delas. A resposta do então secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, foi ridícula. Disse ele: “Vai-se para a guerra com o exército que se tem, não com o exército que se deseja”. Em se tratando da única superpotência mundial, a frase é patética ou pateta. O resultado é este que vemos nas páginas dos jornais e revistas e nas telas das TVs e computadores: pura carnificina. Os americanos estão patrulhando o Iraque em guerra civil. Bush ainda acredita que pode vencer a guerra. Mas que guerra? Os soldados americanos são como patos num stand de tiro ao alvo de um parque de diversões. Não fazem a menor idéia do que estão fazendo lá.
Bush está pedindo a aprovação do Congresso para mandar os novos soldados, mas dificilmente conseguirá. O presidente mandou dizer que ele é o comandante-em-chefe e que vai despachar as tropas, com ou sem autorização. Ele é o “decider”, segundo suas próprias palavras. O comandante da nação também pede mais US$ 7 bilhões. Os democratas estão com a batata quente na mão. Não querem ser acusados de sonegarem o dinheiro para as tropas que já estão lá na terra de Saddam, aquele que foi enforcado num porão qualquer do Iraque. O vídeo da execução do ex-ditador iraquiano é um retrato fiel do Iraque, uma esculhambação total.
O novo contingente teria o objetivo de estabilizar e garantir a segurança de Bagdá e da província de Anbar, reduto sunita. Bush acredita ou diz acreditar que até novembro isso poderia acontecer. Mas alguns especialistas afirmam que as tropas precisariam de 18 meses para conseguir o objetivo. Faça as contas e descubra que o pepino vai ficar para o próximo presidente, possivelmente um democrata. Candidato a candidato é o que não falta. Como se vê, Bush não é tão idiota assim. A indústria militar agradece. O Iraque precisa ser estabilizado, o petróleo iraquiano continua lá. As grandes companhias petrolíferas estão afiando as garras. Contratos de 30 anos de exploração começam a ser oferecidos.
Bush deu o golpe e apostou alto, talvez alto demais. Essa pode ter sido a sua última cartada. Se der errado, ele está solitário. Ou melhor, ainda lhe sobram alguns poucos correligionários. Até o pronunciamento em que ele avisou que estaria mandando mais tropas foi feito solitariamente. Em circunstâncias normais, o presidente se rodeia dos amigos e aliados, para mostrar que tem apoio e faz um discurso solene. Não foi assim dessa vez.
Nem os fotógrafos credenciados da Casa Branca foram autorizados a documentar a cena, contrariando uma prática tradicional dos presidentes americanos. Só uma foto oficial foi feita. Para deixar claro o protesto contra a quebra da tradição, os jornais americanos preferiram usar uma reprodução do vídeo (de pior qualidade) em suas capas do dia 11 de janeiro. O Daily News, de Nova York, usou a foto da Casa Branca juntamente com outra de um soldado americano. O título da capa foi: “Sinto muito… Mas eu estou mandando mais 21.500 de vocês para a guerra”. A revista New Yorker fez uma capa antológica. Quem disse que uma imagem não vale mil palavras?
Veja as imagens:
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Bush trocou seus generais, seu secretário de Defesa e os embaixadores em Bagdá e na ONU. Junto com sua antiga turma, Dick Cheney e Condoleezza Rice, eles saíram viajando e dando entrevistas dentro e fora dos EUA, tentando vender a idéia do aumento de tropas americanas no Iraque. Não acharam muitos compradores nem aqui, nem acolá. A secretária
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