Edson Sardinha e Renata Camargo
Os senadores que usaram a verba indenizatória em janeiro alegam que recorreram ao benefício porque trabalharam normalmente em seus estados durante o recesso parlamentar. Um dos três a utilizar integralmente a cota mensal de R$ 15 mil, Raimundo Colombo (DEM-SC) disse que não parou de circular por Santa Catarina um só instante em janeiro porque é pré-candidato nas eleições de outubro.
“Esse negócio de que político trabalha pouco é um mito. O senador não pára um minuto no estado, está circulando o estado inteiro em atividade política”, afirma a assessoria de Colombo.
“O senador viajou janeiro inteiro. A verba de representação não tem nada a ver com o recesso em Brasília. Aqui não é gasto nada. Político que tem carreira não tem recesso. Provavelmente vai ser candidato a governador, então não tem férias”, afirma o gabinete.
Segundo a assessoria do catarinense, o Senado faz um controle rígido sobre a prestação de contas dos senadores. “Nós temos extrema preocupação de as coisas serem exatamente dentro dos limites legais. Ele trabalhou. Ele é pré-candidato ao governo, ele não pode parar. Político não tira férias.”
Raimundo pediu ressarcimento de R$ 12.056,59 por gastos com a divulgação do mandato. Foi o segundo maior valor registrado entre os senadores. O dinheiro, explica a assessoria, foi usado na confecção de um jornal com as ações do senador. “Ele tem de mostrar para o eleitorado o que está fazendo. Ele ganhou um prêmio ano passado, de mérito legislativo. Se não fizer a divulgação do mandato, o cara não sabe que ele existe.”
Colombo ainda recebeu R$ 2.713,26 para cobrir despesas com locomoção e outros R$ 230,15 por causa de duas contas de energia do escritório político.
Demóstenes Torres (DEM-GO), que também usou o benefício integral em janeiro, atribui as despesas ao escritório em Goiás. “A verba idenizatória foi utilizada no mês de janeiro com despesas relacionadas a atuação parlamentar no estado de origem que não cessam durante o recesso no Congresso, como o aluguel do escritório por exemplo. O senador Demóstenes também tem contratos para a produção de programas de rádio e televisão em Goiás que permanecem em execução no referido mês”, afirmou a assessoria.
Demóstenes gastou R$ 9,98 mil com a contratação de uma empresa de propaganda. O senador ainda teve despesa de R$ 2,39 mil com um posto de gasolina, de R$ 2,44 mil com imóvel, R$ 124,40 com uma empresa de limpeza e R$ 44 com um buffet.
Prestação de contas
Outros dois senadores que figuram na lista dos cinco que mais gastaram com a divulgação do mandato também argumentaram que usam do benefício para prestar contas ao eleitorado. Papaléo Paes (PSDB-AP), que gastou R$ 7,5 mil, e Rosalba Ciarlini (DEM-RN), que foi reembolsada em R$ 2,6 mil, ressaltam que agiram de acordo com as regras do Senado.
“A senadora Rosalba Ciarlini utilizou a verba indenizatória para divulgar a atividade parlamentar conforme prevê norma do Senado. O uso da verba em janeiro refere-se também a uma prestação de contas do seu trabalho como senadora e como presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado”, informa o gabinete da senadora.
Por meio de sua assessoria, Papaléo Paes disse que sua explicação é a mesma dada pelo tucano ao site em janeiro, quando figurava na relação dos senadores que mais gastaram com a divulgação do mandato em 2009.
“Infelizmente, os meios de comunicação no Amapá pertencem a grupos com os quais eu não tenho ligação. Por isso, preciso fazer minha própria divulgação parlamentar. Para mim, é um problema os eleitores não saberem o que estou fazendo. Não quero passar em branco diante da opinião pública. É sempre com muito sacrifício o que faço”, disse Papaléo, que recebeu R$ 63,60 mil ano passado para cobrir despesas com a divulgação do mandato.
Viagens pelo interior
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) foi o senador que mais gastou com locomoção em janeiro. Foram R$ 9.917,22 no mês de recesso. Por meio de sua assessoria, o peemedebista disse que trabalhou no período tanto na capital federal quanto no Acre. “O gabinete em Brasília também trabalhou o tempo todo”, afirma a assessoria. “Ele foi visitar a população para saber o que ela estava querendo”, acrescenta.
O gabinete também responsabilizou as dificuldades de acesso no interior do estado pelas despesas. “Em alguns municípios, só se vai de avião. Estrada na Amazônia é rio”, ressalta a assessoria. Na prestação de contas do senador, consta um pagamento de R$ 6,8 mil para uma empresa de táxi-aéreo.
Após a publicação da reportagem, o senador Neuto de Conto (PMDB-SC) procurou o Congresso em Foco, por meio de sua assessoria, para dizer que a maior parte dos R$ 6,91 mil que gastou com locomoção teve como destino o aluguel de dois veículos que usou para percorrer Santa Catarina, e não a compra de combustível, como equivocadamente chegou a publicar este site.
Marconi Perillo (PSDB-GO), que obteve o retorno de R$ 2,98 mil, também atribuiu os gastos às viagens que fez pelo interior de Goiás. Segundo a assessoria, o tucano esteve duas vezes no Senado durante o recesso e, muitas vezes, tira do próprio bolso dinheiro para cobrir os gastos com combustível. “Ele esteve o tempo todo em serviço”, informou o gabinete.
O aluguel de veículo também foi apontado pelo senador João Durval (PDT-BA) como responsável pela maioria de seus gastos em janeiro. Ele foi ressarcido em R$ 8.087,94 apenas com locomoção em janeiro. De acordo com o gabinete, Durval, de 79 anos, não dirige e usa a verba indenizatória para pagar o aluguel de dois carros – um em Feira de Santana e outro em Salvador.
“Ele aluga um terceiro em Brasília, mas com recursos próprios, porque só usa o carro oficial para se deslocar de casa para o Senado”, informa a assessoria. “Durante o recesso ele fez várias viagens no estado. É um contrato anual, ele paga esse aluguel todo mês”, explica.
O suplente Giovane Borges (PMDB-AP), que usou integralmente a cota de R$ 15 mil, não retornou o contato da reportagem. Também não retornaram os senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG), Tião Viana (PT-AC), Efraim Morais (DEM-PB), João Claudino (PTB-PI), Valdir Raupp (PMDB-RO), Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Eliseu Resende (DEM-MG), procurados pelo site desde a quarta-feira (23).
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