O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Maurício Corrêa, classificou de “totalmente absurda” a declaração do juiz João Carlos da Rocha Mattos de que o magistrado, quando ministro da Justiça do governo Itamar Franco, teria pedido a Paulo Lacerda que desviasse as investigações a respeito da holding Casa Forte.
A empresa, segundo o juiz João Carlos da Rocha Mattos, preso em São Paulo acusado de liderar um esquema de venda de sentenças judiciais, pertenceria a um aliado político do governo Itamar. “É uma história sem pé, nem cabeça”, disse o presidente do STF ao assessor de imprensa do tribunal, Renato Parente.
Corrêa respondeu, por meio de sua assessoria, que teve importante participação na queda de Fernando Collor, já que foi vice-presidente da CPI que levou à renúncia do ex-presidente.
O senador Romeu Tuma, acusado por Rocha Mattos de interceder para que o empresário Antonio Celso Cipriani, ex-agente da PF e diretor da Transbrasil, fosse absolvido em um processo por sonegação, disse que não iria comentar o caso.
Já o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, negou todas as informações por meio de sua assessoria de imprensa.
Uma nota assinada pela Divisão de Comunicação Social da PF afirma que as acusações “carecem de fundamento” e são “inconsistentes e levianas”, inclusive em relação a outros policiais citados pelo juiz no depoimento. Segundo a assessoria da PF, o depoimento de Rocha Mattos é uma “clara tentativa de mudar o foco das apurações reveladas pela operação Anaconda, na qual o juiz é um dos principais suspeitos”.
Paulo Lacerda confirma, porém, um trecho do relato do juiz. O diretor da PF admite que procurou Rocha Mattos em 2001 para tratar do pedido de prisão contra o empresário Ari Natalino da Silva, investigado pela CPI do Roubo de Cargas, da qual era assessor.
Como assessor da CPI, Lacerda, na época, deu entrada, no protocolo da Justiça Federal em São Paulo, a um pedido firmado pelo presidente da comissão, Romeu Tuma, para que o empresário fosse conduzido coercitivamente de São Paulo a Brasília. Como o pedido foi parar nas mãos de Rocha Mattos, Lacerda conversou pessoalmente com o juiz, que concedeu o mandado dias depois.
O subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro Marcelo Itagiba, acusado por Rocha Mattos de participar da operação que resultou no fim da candidatura da hoje senadora Roseana Sarney à presidência da República em 2002, disse por meio de sua assessoria que a insinuação não tinha fundamento.
De acordo com Itagiba, a intenção de Rocha Mattos é chantagear a polícia.
O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, também mencionado por Rocha Mattos, disse não ter a menor idéia do que o juiz pretende falar sobre ele. No depoimento, Mattos diz ter reservado um capítulo especial a Fonteles e insinua que o procurador serviu indiretamente ao regime militar no início dos anos 70, ao dar aula em um curso preparatório para policiais federais.
Fonteles admitiu ter sido assistente do procurador Henrique Fonseca de Araújo no curso de Direito do Centro Universitário de Brasília (Ceub), em 1971, logo depois de ter saído da faculdade. O atual procurador da República disse que entrou para o Ministério Público apenas em 1973, por meio de concurso público.
O delegado Marco Antônio Veronezzi, que teria pedido ao juiz a absolvição do empresário Celso Cipriani em um processo de sonegação, não quis comentar o caso – depois de contactado pela assessoria da Polícia Federal em São Paulo.
O delegado Renato Porciúncula, superintendente da Polícia Federal em Santa Catarina, negou as acusações feitas por Rocha Mattos no depoimento. O juiz acusou o delegado de envolvimento em contrabando de cigarros junto com o irmão dele.
“É uma coisa tão ridícula que não tem nem o que se comentar”, disse o delegado. Porciúncula conta que participou da operação que resultou na prisão do juiz e Rocha Mattos, na ocasião, teria pensado ser ele o chefe das investigações. “Meu irmão tem uma empresa de consultoria e, mesmo se estivesse envolvido em algo ilegal, o que eu tenho a ver com isso?”, perguntou.
A corregedora da Polícia Federal em Brasília, delegada Neide Alves Alvarenga, apontada pelo juiz como envolvida em desvio de dinheiro de uma associação de delegados, foi contactada por meio da assessoria de imprensa da entidade e não deu resposta até o fechamento desta edição.
O juiz disse no depoimento que ela e o marido estariam envolvidos no desvio, mas não disse o nome do marido, nem o da associação supostamente lesada, e sequer detalhou como funcionaria o esquema.
Já o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, disse que as acusações de Rocha Mattos contra três delegados paulistas estão sendo investigadas pela Corregedoria da Polícia Federal. Sem mostrar provas e nem apontar que crimes, concretamente, teriam sido cometidos, Rocha Mattos disse que a informação do caso partiu do delegado João Carlos Sanches Abraços. Abraços nega.
“Estou o mais eqüidistante possível do caso para não influenciar o trabalho da Corregedoria”, disse Baltazar ao Congresso em Foco.
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