Oswaldo Rizzo*
“O capitalismo sempre funcionou assim: ocorrem períodos de grandes ganhos, e depois se faz uma correção que pode ser dolorosa”.(John K. Galbraith).
No ocaso do século XVIII, em uma abastada família da alta burguesia judia de origem holandesa, nasce o londrino David Ricardo que acabou se interessando pela teoria econômica por mero capricho do destino.
Quando desfrutava de fartas férias em uma estância termal, na indisponibilidade de leitura mais eficaz para atrair o sono, o entediado burguês debruçou-se sobre o livro “A Riqueza das Nações” do liberal Adam Smith.
Curiosamente, aquele digno representante da conservadora classe burguesa britânica acabou despertando seu interesse intelectual por assuntos econômicos, vindo a publicar vários artigos sobre o tema na imprensa londrina.
Anos mais tarde, incentivado por amigos, escreveu sua mais notável obra intitulada “Princípios da Economia Política e Tributação”, onde formula de maneira sistemática e corrente o pensamento econômico clássico.
Uma de suas importantes contribuições para o desenvolvimento da teoria econômica foi descrever o comportamento dos contribuintes que, diante da perspectiva de recolherem mais impostos no futuro devido ao presente aprofundamento do endividamento do governo, reduzem o consumo aumentando a poupança como forma de transferir ao setor público, futuramente, parte do seu patrimônio pessoal poupado, visão que passou a ser conhecida como ‘Equivalência Ricardiana’.
Essa interpretação, por exemplo, se presta a explicar a atitude do povo japonês de poupar mais quando a dívida pública do governo nipônico suplantou os 110 % do PIB nacional, no início desta década. Também ajuda a entender a disposição atual do cidadão norte-americano médio em consumir menos e guardar mais haveres como forma de se defender do sideral aumento do déficit do novo e já desacreditado governo Obama, freando a locomotiva que puxava os vagões do comercio mundial e agudando a recessão global.
Por sua parte, como expressivo instrumento para o entendimento da presente recessão têm-se os ensinamentos do economista norte-americano Hyman Minsky que, após aprofundar os estudos do seu colega inglês John Maynard Keynes, concluiu que nos períodos de expansão (quando o faturamento das empresas supera o endividamento) surge uma euforia especulativa no mercado, com a oferta de crédito crescendo muito além da real capacidade de pagamento dos tomadores dos financiamentos. Os banqueiros toleram riscos de crédito inaceitáveis em outras épocas, passando a falsa idéia sobre a perfeição do sistema capitalista.
Quando a ilusão acaba, volta o doloroso martírio da escassez e da exploração que o regime capitalista impõe ao cidadão comum, com o aparecimento da fase seguinte do ciclo caracterizada, segundo Minsky, pela eclosão de outra crise que retrai a concessão de empréstimos com a conseqüente e abissal queda da atividade econômica.
Os provedores de crédito, que no período de prosperidade agiam movidos pela gananciosa busca de mais lucros, se amedrontam passando a ter aversão ao risco e privilegiando ativos com maior liquidez. Com isso, seca a oferta de crédito; o nível de atividade econômica despenca e o desemprego explode ameaçando o frágil equilíbrio social.
No presente quadro, alguns governos tentam substituir os bancos como fornecedores de crédito, desempossando a liquidez para incentivar o consumo. Querem fazer isso aumentando o endividamento público o que, pela ‘Equivalência Ricardiana’ é um equivoco, pois governo mais endividado não aumenta a propensão a consumir, ao contrário, a reduz.
*Osvaldo Martins Rizzo é engenheiro e ex-conselheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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