Marcelo Mirisola*
Esta eleição me fez lembrar de um passatempo infantil que consistia em associar pessoas ou coisas a cores e objetos e vice-versa. A linha do lobo mau teria seu destino na casa dos três porquinhos. Carro na garagem. A linha de Gabeira direto do Posto 9 para o Bofetada (antes da reforma e sem nenhuma conotação sexual). Já a linha do Kassab teria início na sede social do Clube Pinheiros, passaria pelo vestiário masculino das quadras de tênis (também sem nenhuma conotação sexual) e chegaria a um escritório de advocacia na Av. Faria Lima. Uma pequena pausa para o almoço no Rubaiyat. Logo depois, a linha do Kassab viraria a primeira direita e pegaria a Av. 9 de Julho (via corredor da Marta) em direção ao Viaduto do Chá, onde se localiza a reeleição. A conferir.
A linha dos evangélicos não foi suficiente para levar Crivella ao segundo turno, mas continuará indicando o caminho do inferno sem escalas. Tudo ok, remetentes e destinatários devidamente correspondidos.
O problema é Marta Suplicy nesse liga-liga. Quando penso que a linha da Marta leva ao Jardim Ângela, alguma coisa não se encaixa. Como pode?
Não consigo entender a relação de uma perua da Oscar Freire com as quebradas dos manos na zona sul. Além de quatrocentona e branquela, ela é antipática, e trocou o dulcíssimo pai do Supla por um argentino sinistro (essa equação não é minha). Marta Favre fez os Céus, o bilhete único, e aquele túnel inútil na Rebouças. Eu me pergunto: seria o suficiente para ganhar o voto do mano que mora do lado de lá da ponte João Dias? Em tese, não.
Só
Não devia conferir. Mas confere. Algo está fora de lugar. Não existe verossimilhança nessas conexões. Daí talvez se explique o mergulho no vazio. A falta de identidade. O botox que jamais vai preencher almas trôpegas. Como se o beiçola da Marta saísse das bochechinhas do Kassab. São Paulo é mesmo uma cidade monstruosa. Vai ter o prefeito que merece. E o Rio continuará lindo e bagunçado, apesar da bala perdida disparada lá no Pavão-Pavãozinho que cumprirá sua trajetória impecável e cinematográfica: atingindo em cheio o pôr-do-sol atrás das pedras do Arpoador. Boas eleições a todos.
*Marcelo Mirisola, 42, é paulistano, autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô, O azul do filho morto (os três pela Editora 34), Joana a contragosto (Record), entre outros.
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