Fui abordada pelo CQC, da Band, nos corredores do Congresso Nacional, e o material foi ao ar. Venho, desde então, recebendo uma série de cumprimentos, fruto da excelente audiência e numa demonstração do recall do programa. Surpreende-me, porém, a principal razão das felicitações dos colegas: não fui ridicularizada. É mais uma manifestação da tensão latente imprensa-políticos, fruto do conturbado histórico no relacionamento mútuo.
Não devia ser assim.
Há questões que precisam e devem ser abordadas. Desde o ano passado, a título de exemplo, trabalho para trazer de volta a necessidade de diploma no exercício da profissão de jornalista. É tema espinhoso porque, aparentemente, vai de encontro à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que extinguiu essa exigência. Não é bem isso. Conseguimos, após contato com o então presidente daquela Corte, ministro Gilmar Mendes, obter o entendimento de que o objetivo da decisão é preservar a livre manifestação do pensamento. E isso pode muito bem – e deve! – ser contemplado numa legislação nova e que mantenha a exigência do diploma de curso superior na formação do profissional jornalista.
Trabalhamos lado a lado com entidades representativas, como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), para mostrar aos colegas parlamentares que esse é um ponto de convergência entre o Congresso e a categoria.
Quando há clareza nos papéis que cada parte deve exercer, as coisas ficam mais razoáveis. A imprensa tem a obrigação de fiscalizar os atos dos três Poderes da República e seus reflexos junto à sociedade. Os políticos devem promover a boa administração pública, no Executivo, e aprimorar as normas de convivência, no Legislativo, cabendo ao Poder Judiciário o julgamento do desempenho legal de cada um.
Quando a imprensa denuncia atos de corrupção e corruptos, está ressalvando os não-corruptos. É duro, reconheço, porque a opinião pública tende a colocar todos os políticos num mesmo balaio de gatos, como se agissem por osmose, diante das facilidades que são comuns ao exercício dos cargos.
O vai-e-vem desse relacionamento tenso, porém, produziu conquistas. A imprensa e diversos nomes do Congresso ou da luta nas ruas estiveram juntos para que, após 22 anos, o Brasil extinguisse o regime de 1964. Agora, no período de aprimoramento da democracia, os salários ganharam teto, o recesso diminuiu de três meses para 55 dias/ano, o candidato precisa de ficha limpa para se candidatar, a Lei Maria da Penha de combate à violência doméstica está em vigor e… há muito por fazer.
É duro manter 24 horas de vigilância sobre a própria imagem. De perto, todos são normais ou, como quer Caetano Veloso, de perto, ninguém é normal. Político tem que equilibrar o direito à privacidade com a publicidade da imagem de quem aceita as regras da vida pública. É assim que a democracia se fortalece.
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