Ronaldo Brasiliense
Ex-secretário-geral do Partido dos Trabalhadores (PT), Silvinho Land Rover Pereira, em crise ou não, jogou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva outra vez no meio da fogueira. Enquanto estava calado, era herói. Como abriu a boca, foi chamado de "desequilibrado" e "traidor" por dez entre dez lideranças petistas.
Não é bem assim. Aquela conversa entre Silvinho, Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério de Souza na qual este analisa as hipóteses para contar tudo o que sabe é de extrema gravidade. As opções postas à mesa: Valério contaria tudo o que sabe e derrubaria o governo; ficaria calado e correria o risco de ser assassinado, numa queima de arquivo; e, uma terceira via, a que prevaleceu: um acordo de cavalheiros, o conto de carochinha dos empréstimos bancários para o caixa dois petista.
Na entrevista a O Globo, Silvio Pereira desconstruiu aquela conversa mole de que Lula não interferia em assuntos do partido. Deu nome aos bois e apontou claramente quem mandava no PT: Lula (presidente da República), José Dirceu (ministro-chefe da Casa Civil), José Genoino (presidente nacional do PT) e o senador Aloizio Mercadante (líder do governo no Senado).
O esquema corrupto para arrecadar R$ 1 bilhão montado por Marcos Valério e Delúbio trouxe à memória entrevista que fiz para o Jornal do Brasil, no final de 1992, com o delegado Paulo Lacerda, hoje diretor-geral da PF, àquela altura presidente dos inquéritos sobre o esquema PC Farias. Lacerda dizia que PC já podia se aposentar e que o esquema corrupto de achaque aos empresários montado no governo Fernando Collor buscava alcançar o equivalente hoje a R$ 1 bilhão, número, ao que parece, cabalístico para colloridos e lullistas.
Como que para mostrar à população que Lula não é Collor, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) rejeitou, por 25 votos a sete, a proposta de impeachment do atual presidente sob a acusação de envolvimento no escândalo do mensalão. Mas, numa política de assopra e morde, a OAB decidiu, por 17 votos a 15, encaminhar ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, a peça acusatória favorável ao impeachment elaborada pelo advogado Sergio Ferraz, pedindo o aprofundamento das investigações sobre o envolvimento de Lula com o mensalão e o valerioduto.
O presidente Lula, que nunca mais acordou invocado e ligou para o presidente Bush na Casa Branca, acha que não há nada de novo nas declarações do Silvio Pereira. Não viu, não ouviu, não leu, mas parece que não gostou do fogo amigo. Lula, com razão, acha que, como o ano é eleitoral, tudo vai ter muita exploração por parte da oposição. Mas não vê na bomba detonada por Silvinho nada que possa mudar o curso da história.
A oposição bem que tenta chamar Lula para a briga. Sofrendo para crescer nas pesquisas, o chuchu tucano Geraldo Alckmin clama para que o presidente da República se manifeste. "É inaceitável ele dizer que não viu nada, que não leu nada e que não sabe de nada", atacou Alckmin. Lula se faz de morto. O deputado federal Roberto Freire, pré-candidato do PPS à Presidência da República, bateu na mesma tecla. "Aquele argumento de que Lula não sabia de nada virou piada nacional", aponta o parlamentar pernambucano.
Roberto Freire faz a constatação com atraso. Antes dele, Delúbio Soares previu que, no futuro, o mensalão e o valerioduto se tornariam piadas de salão. Puro escárnio.
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