Convenhamos: tudo o quê o país precisa neste momento é promover uma devassa na vida pública e particular do senador José Sarney. E mais: tudo o quê o país precisa atualmente é duma CPI da Petrobrás. Eis o discurso da chamada “oposição” – muito mais que ao governo, mas a Lula e tudo o quê este simbolicamente representa – que se empenha truculentamente nestas duas questões, como se de vida ou morte, como essenciais para a vida pública brasileira, como se fundamental para continuar sendo brasileiro implicasse pulverizar a família Sarney da face da terra, isto é, de Brasília, especificamente na figura de seu patriarca, José, como presidente do Senado, aliado ao presidente Lula.
Certo?
Já a Petrobrás, naturalmente para se continuar tendo orgulho de ser brasileiro, é preciso expurgar, devassar todos os desmandos, negociatas, mutretas e esqueletos no armário, enfim este antro de corrupção estatal, este dinossauro, que melhor seria vender e privatizar para a gente internacional e muito mais eficiente, sem dúvida, que deixar na mão de políticos brasileiros historicamente corruptos, consabidamente ineficientes: devassemos e expurguemos pois tudo o que aí está com um ar subdesenvolvidamente: 1)brasileiro; 2)pobre; e 3)popular; que estes três são sinônimos de mais a mais.
Certo?
Tranquemos pois a pauta e os destinos do país (que vão para o diabo!) desde que expurguemos estas duas abantesmas, estes dois cataclismos, estes, digamos, enfim, tsunamis – para sermos mais modernos e atuais – político-institucionais, Sarney e a Petrobrás, eis a hecatombes que assolam presentemente a pátria-amada-Brasil, da qual nós, da “oposição”, somos os fiéis e legítimos defensores. Protetores. Proprietários. Senhores.
Certo?
Entrementes, de passagem por Paris, o presidente Lula, em entrevista ao Le Monde, ressaltou a importância do G-20 como mais representativo do que o G-8, o que faz aquele estar “mais próximo” das exigências da crise que ora assola o mundo financeiro e todo mundo. Sublinhou que na reunião do G-20 em abril, em Londres, foi a primeira vez que uma cúpula dessa natureza colocou todos os participantes em pé de igualdade durante as discussões.
Em parte, atribuiu essa nova disposição à realidade da crise, que jogou por terra as “soluções prontas e peremptórias” que o FMI e o Banco Mundial traziam logo que as crises assolavam os países pobres.
Mas agora, disse o presidente, a crise assolou os países ricos. “Isso deixou todo mundo bem mais humilde”, disse ele aos jornalistas Alain Frachon e Paulo Paranaguá.
Na entrevista (ed. 08/07/09) o presidente abordou ainda a questão do protecionismo de países do norte em relação a produtos agrícolas, a complicada questão da substituição ou não do dólar como moeda de referência no comércio internacional e a reforma da ONU, sempre no sentido de favorecer os fóruns amplos e multilaterais, o que tem sido uma marca da diplomacia brasileira já há muito tempo, o que, sem dúvida, ajudou o país a se tornar, dentro de suas possibilidades, uma referência “a ser levada a sério”, como disse recentemente o conservador Financial Times.
Para renovar o desespero daqueles brasileiros que acham que a única coisa que importa no Brasil são os horários de vôo para os países do hemisfério norte – os ricos,é claro. Além, é claro, de fritar Sarney e a Petrobrás. As demais, são questões de somenos.
Certo?
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