Heitor Peixoto*
Quem é jornalista ou está se formando para tal em que pese o pouco peso do diploma sabe que o cão morder o homem não é notícia, mas que o homem morder o cão, é.
A propósito, notícia não é apenas o fato novo dotado de algum interesse público (o que quer que isso signifique hoje em dia). É também o inusitado, o diferente, o pouco habitual.
Pois eis que o ano começou na Câmara dos Deputados com uma boa notícia: sim. O homem mordeu o cão.
Esse homem é José Antônio Reguffe (PDT-DF). Eleito com a maior votação proporcional do país 18,95% dos votos válidos do DF, ou 266.465 ele assustou seus pares tomando uma atitude ímpar: abriu mão de uma série de benefícios e regalias oriundas da vitória nas urnas.
Logo de entrada, seu cartão de visita foi abdicar de salários extras (14º e 15º), de parte da verba de gabinete (pediu R$ 10 mil em vez de R$ 13 mil), de parte dos assessores aos quais tem direito (reduzindo a cota de 25 para 9) e ainda da verba indenizatória. Para completar, na condição de parlamentar do Distrito Federal, dispensou também o auxílio-moradia e as passagens aéreas.
O próprio deputado calculou que, com as medidas, seu gabinete deve gerar nos quatro anos do mandato uma economia de quase R$ 3 milhões.
Mas será que, ao morder o cachorro, o homem não teme o quão raivosos podem ficar os seus colegas? Eu sei que é difícil trabalhar num lugar onde a maioria o odeia, disse Reguffe à revista IstoÉ.
E tome dentada no totó. Além de defender a redução da Câmara (de 513 para 250 deputados) e do Senado (dos 81 para 54 senadores, caindo de três para dois por estado), Reguffe apresenta agora projeto de lei para obrigar o ensino da disciplina Cidadania no ensino médio de todo o país.
No texto, ele defende que os alunos tenham acesso a noções de democracia, educação ambiental e de trânsito, direito constitucional e do consumidor.
A propósito, a leitura de jornais é outro item que o deputado vincula à disciplina. Decerto, páginas que tragam menos mordaças e chapas-brancas, e mais cachorros mordidos. E que de tão comuns, tais exemplos deixem de ser notícia, por não mais se tratarem de algo inusitado, diferente, pouco habitual.
P.S.: nenhum bicho foi maltratado no feitio do texto acima e o jornalista que ora se apresenta é árduo defensor dos direitos dos animais (literalmente falando, claro!)
*É repórter da TV Assembleia MG. www.twitter.com/heitor_peixoto
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