Marcos Magalhães |
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Muita água ainda vai rolar antes das eleições, mas já começa a ser desenhado na base governista um novo cenário, estimulado pelos índices de recuperação econômica, queda do desemprego e de popularidade da atual prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. A eventual consolidação do favoritismo da prefeita na disputa pela reeleição, segundo esse novo quadro, garantiria o sucesso de Marta em 2004, ajudaria a reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e, se tudo ainda correr bem, poderia levar ao Palácio do Planalto, nas eleições de 2010, a própria Marta Suplicy. A exposição e o peso do comando da maior cidade do país certamente poderão colocar a prefeita na lista dos presidenciáveis, dentro de seis anos. Mas curiosa é a combinação de fatores que têm garantido aos políticos paulistas uma longevidade nunca antes experimentada, com tanta intensidade, na história do país. Os planos dos dois maiores partidos brasileiros não parecem reservar muito espaço para políticos de fora do estado, nos próximos anos. Depois de oito anos com Fernando Henrique Cardoso na presidência e de apresentar o ex-ministro José Serra como candidato em 2002, o PSDB tende a adotar o nome do atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, nas eleições de 2006, para o Palácio do Planalto. O PT pensa mais longe. Projeta a reeleição de Lula em 2006 e a sua sucessão por um outro político de origem paulista – possivelmente a própria prefeita – em 2010. Enquanto as eleições não chegam, o poder federal sente igualmente o peso do maior estado da federação. Neste momento, a Casa Civil e o comando das duas principais pastas da área econômica – Fazenda e Planejamento – estão seguramente nas mãos de políticos e técnicos ligados ao estado. O segundo estado mais bem aquinhoado parece ser o Rio Grande do Sul, que emplaca três ministros na área social. Algumas unidades da federação de importância política relativa no passado, como o Rio de Janeiro, sequer detêm um ministério. Os novos projetos de poder começam a ser traçados no mesmo momento em que governadores de diversos estados menos desenvolvidos pedem ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para suspender os efeitos de uma lei estadual que, na prática, zera as vantagens obtidas por empresas que decidiram se instalar em outras partes do país, atraídas por incentivos fiscais. O governo paulista insiste em condenar a guerra fiscal – argumento com o qual concorda o governo federal. Essa guerra, sob o argumento de Alckmin, provocaria perdas não só a São Paulo, mas a todo o país. Os secretários de Fazenda dos estados menos desenvolvidos, por sua vez, lembram que os incentivos são o único mecanismo capaz de atrair investimentos e de gerar empregos. Por trás dessa briga está a falta de uma política verdadeiramente nacional de desenvolvimento, que de fato contribua para a redução das desigualdades regionais. Em 1930, uma revolução chegou a ser feita para acabar com a alternância no poder das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. O país mudou, industrializou-se, aprofundou a sua democracia e o poder fugiu das mãos dos grandes fazendeiros. A política mineira anda à procura do tempo perdido, agora sob o comando do governador Aécio Neves. Enquanto isso, São Paulo projeta pelo futuro a manutenção de sua atual e ampla hegemonia. A qualidade de um político não se define, certamente, apenas pela origem de sua carreira – embora as reivindicações do estado do presidente da República tendam a ser sempre analisadas com carinho especial. Mas uma dose mais elevada de federalismo parece ser a regra em países grandes como o Brasil. Bom exemplo são os Estados Unidos, onde representantes de estados tão diferentes como Arkansas, Texas e Massachussetts têm disputado a cadeira mais importante do planeta. |
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