Edson Sardinha |
Um dia após a mais acirrada disputa pela presidência da Câmara dos últimos anos, o mistério continua. Candidato a presidente que recebeu apenas dois votos, o deputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ) procura nas fotos da bancada do Piauí aquele que se identificou como seu único eleitor na votação que impôs ao governo Lula a sua maior derrota no Congresso Nacional. A curiosidade se justifica, pois, por pouco, o procurado não foi autor do único voto do candidato. “Pensei em votar no Severino (Cavalcanti) já no primeiro turno, mas percebi que seria constrangedor não ter nem o meu próprio voto”, admite Bolsonaro. Cinco horas após a votação em primeiro turno, o eleitor solitário até se apresentou ao deputado, mas para cometer uma inconfidência: admitiu que se atrapalhou na hora do voto, imaginando que o pefelista disputava um cargo secundário na Mesa Diretora. O segundo voto obtido por Bolsonaro foi resultado de um equívoco. “Mas o deputado disse que não lamentava o erro e que compartilhava das posições que assumi em discurso”, diverte-se o deputado fluminense. O problema é que Bolsonaro não consegue se lembrar do nome do colega. “Só sei que era do Piauí”, confessa. A pedido do Congresso em Foco, Bolsonaro viu e reviu, por dez minutos, uma relação de fotos da bancada piauiense na Câmara. “Pela cara, parece que é este: o Júlio César”, diz, sem muita convicção, apontando para um deputado de seu próprio partido, o PFL. A reportagem não conseguiu localizar o deputado Júlio César (PI). Assessores do deputado informaram que ele não comentaria em quem votou, porque a votação foi secreta. Depois de lançar sua candidatura com a exclusiva intenção de atacar o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), Bolsonaro viveu uma terça-feira em estado de graça. O sorriso estampado no rosto do pefelista refletia a decepção dos petistas. “Só o deputado Severino Cavalcanti passou um dia mais feliz do que eu. Demos um soco no PT e, agora, podemos respirar aliviados”, provoca. Durante os dez minutos em que discursou antes da votação, Bolsonaro pediu aos colegas que votassem nos demais adversários de Greenhalgh, a quem atacou duramente. Acusou o candidato petista de defender, como advogado, os seqüestradores do empresário Abílio Diniz e de ter prejudicado as investigações sobre o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT). “Na campanha adverti aos meus amigos: como prova de amizade, não votem em mim. Minha candidatura foi vitoriosa. Greenhalgh começou a perder a eleição após o meu discurso, que foi duro e objetivo”, considera. A virulência do discurso arrancou vaias dos petistas e aplausos da oposição. Como protesto, parte da bancada feminina, reforçada por deputados do PT, manteve-se de costas para a tribuna, enquanto o parlamentar discursava. No ano passado, Bolsonaro ameaçou agredir a deputada Maria do Rosário (PT-RS) em pleno Salão Verde da Câmara. O episódio rendeu ao deputado um processo interno. O caso ainda não foi encerrado. Aos 49 anos de idade, Bolsonaro é conhecido por abraçar idéias polêmicas, como a adoção da pena de morte e a redução da maioridade penal. O militar pára-quedista ganhou as páginas dos jornais, em 1999, ao declarar, em um programa de televisão, que “30 mil corruptos, a começar pelo presidente FHC” deveriam ter sido fuzilados durante a ditadura. Na ocasião, também sugeriu o fechamento do Exército. Polêmica, a família Bolsonaro tomou gosto pela política. Os filhos Flávio e Carlos ocupam cadeiras na Assembléia Legislativa e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em dezembro passado, o ingresso do clã, até então filiado ao PTB, foi saudado pela cúpula do PFL. O presidente nacional do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), e o prefeito do Rio, César Maia, prestigiaram a solenidade de filiação. |
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