Márcia Denser*
Manter uma posição apartidária mas não apolítica, situar-se ao lado do homem comum (que é meu próprio lado), do trabalhador, do eleitor, do oprimido, sem deixar de criticar-lhe o conformismo, a omissão, os (fatais mas inevitáveis) erros de julgamento (que é ao mesmo tempo exercer a autocrítica), ora se não é se meter numa saia justíssima, como andar no fio da navalha. Como agora, neste janeiro escaldante, em que me pergunto como abordar a questão das privatizações? Afinal, o ano começou muito mal, com declarações (que mais me pareceram ameaças) de políticos do PSDB e PFL dizendo que “é preciso retomar as privatizações”.
Quem precisa, cara pálida?
A quem interessam? Quem ganha com as privatizações?
Segundo Chico de Oliveira (Brasil de Fato, 11/7/05), “no governo FHC ocorreu uma enorme transformação na sociedade, no capital e na propriedade, e portanto na relação com o Estado. FHC botou o país de cabeça para baixo ao privatizar 15% do PIB, uma escala sem comparação na experiência mundial. Só a Argentina fez uma coisa semelhante e deu com os burros n’água. Do ponto de vista do Estado brasileiro, da correlação de forças, as privatizações foram um fato grave. Com elas, mudou a estrutura da propriedade econômica no interior da burguesia, mudou a relação da burguesia com os trabalhadores e com o Estado, e o Estado perdeu uma arma poderosa de fazer política econômica.”
“As Parcerias Público-Privadas defendem a ficção de que a taxa interna de poupança é insuficiente, então se traz capital privado e ele se une ao Estado para fazer certos empreendimentos. Essas parcerias vão privatizar o resto do Estado, mas de uma forma engraçada, com financiamento público. Quer dizer, está-se pagando para o outro levar. Foi o que o BNDES fez com as privatizações. Ele emprestava para privatizar a empresa estatal. Politicamente, isso tem muito importância. A relação público-privado mudou com as privatizações. O privado avançou sobre a coisa pública. Retirou-se do Estado elementos que lhe possibilitavam fazer política econômica, industrial, de investimentos.”
A sociedade se reformula, se corrige, atinge certos objetivos somente através da política, quando esta é anulada ou colonizada pela economia, se perde todo o horizonte de justiça social. No ideário capitalista, a participação do Estado na gestão da sociedade deve se restringir ao mínimo, mas, uma vez que “o capitalismo não tem projeto social”, como ficamos, cara pálida? De forma que a questão, que não é retórica, ainda e sempre se coloca: a quem interessam as privatizações?
Deixe um comentário