Muito bom o artigo neste site de Osvaldo Martins Rizzo, “O fiasco do modelo liberal”, com uma advertência final de que a mídia estaria se desviando de tratar da verdadeira crise para apenas se concentrar sinistramente na questão da falta de alimentos, promovendo o medo, a paralisia da ação na população, que é o que interessa a ela, como soe ocorrer, etc. etc. etc. É isso, perfeito.
Lembro apenas que a crise de alimentos tem tudo a ver com a crise financeira, mas como a população é caolha e absolutamente desinformada, nada mais me resta senão tentar estabelecer tal conexão, até porque globalização, num sentido amplo, significa que tudo se liga com tudo, tudo está interligado, queiramos ou não.
A primeira pergunta seria: que fatores concorreram para esgotar a fase expansiva dos Estados Unidos baseada na famosa Nova Economia (aqui me reporto a um texto dos economistas René Baéz e Alai Amlatina)? E a resposta é que além da queda da demanda solvente, a inflexão do crescimento no início desta década precisa ser explicada pela progressiva perda de competitividade dos Estados Unidos com respeito à Europa, ao Japão e à China, tendência que, nos últimos anos, tem se traduzido em déficits comerciais da ordem dos 400-600 bilhões de dólares e numa espiral de endividamento de Washington, provocando devastadores efeitos nos índices de emprego e de renda na metrópole.
Da mesma maneira, um fator de contração da economia dessa potência mundial deve ser localizado na orientação capital intensiva das tecnologias de ponta, orientação que tem retroalimentado a queda da demanda e que gerou um desemprego de características estruturais e não apenas conjuntural (o grifo é meu).
A extrapolação dessas condições para a economia internacional estaria na base da fenda de dimensões siderais entre a opulência e a miséria em escala mundial. Segundo as Nações Unidas, três "homens-corporação" detêm uma riqueza que supera o PIB total dos 48 países mais pobres (600 milhões de habitantes). Como poderia se reproduzir normalmente um capitalismo que pulveriza o mercado consumidor a esse ponto?
A segunda pergunta seria – passando por cima de explicar o processo de financeirização e de como foi possível edificar uma colossal “economia de papel” – por que estourou a bolha financeira na conjuntura 2000-2001?
Em primeiro lugar, porque a financeirização oculta a abissal dissociação entre capital financeiro e capital produtivo (e é aí que entram os alimentos), o que determina que, em qualquer momento, os títulos fiduciários começam a perder seu valor de troca e transformar-se em lixo. É o que constataram amargamente, no início da década, milhões de investidores americanos (e de outros países). Como explicar essa espetacular queda dos valores bursáteis? Resposta: devido à confrontação que cedo ou tarde ocorre entre economia financeira e economia real.
A pretensão de esquivar-se das causas estruturais da crise por meio do descolamento das bolsas de valores promovido na década de 1990 nos EUA chegou ao seu limite. Na verdade, durante essa década o valor das ações cresceu 1.000%, mas a economia real cresceu apenas 50%", segundo a Declaração do Comitê Equatoriano contra a Alca, 2002.
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