Daniella Borges
Tradicional ocupante da Mesa Diretora da Câmara, o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE) também é conhecido pelo apego com que dirige as sessões da Casa e pela forma abrupta com que interrompe os oradores que não se curvam às suas ordens. Por duas vezes este ano cortou o microfone do deputado João Fontes (PDT-SE), outra figura de estopim curto e discurso incendiário. Mas, neste mês, Inocêncio desceu da Mesa e partiu para a briga.
Veja como foi:
Inocêncio Oliveira x Arlindo Chinaglia
O mais recente dos embates em plenário envolveu duas lideranças políticas da base governista na sessão que marcou o enterro da Medida Provisória 252/05, a chamada MP do Bem. O primeiro-secretário da Mesa Diretora, Inocêncio Oliveira (PL-PE), e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), chegaram a trocar “barrigadas”, durante a tentativa frustrada de votação da MP há duas semanas. Armaram punhos para partir para a briga, mas, antes do soco na cara, foram contidos pelo deputado Sarney Filho (PV-MA).
Assim que o líder do governo disse que era preciso ser homem para atacar a MP do Bem, Inocêncio tomou uma atitude inusitada. “Essa é a MP do Bem, sim. Quem não é homem para cumprir os acordos, que assuma com suas bases”, provocou o italianíssimo Chinaglia. Sentindo-se ferido em seu orgulho, o colega pernambucano deixou a mesa e tomou o microfone instalado no centro do plenário.
“Este governo não gosta dos aposentados. O de Fernando Henrique também não gostava, mas esse é pior. Essa não é a MP do Bem. Se não é a MP do Mal, é a MP do Mais ou Menos”, disse um exaltado Inocêncio, de Serra Talhada (PE), terra natal do cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião.
“Se acham que é do mal, que digam isso em suas bases e não venham com esse tom demagógico!”, retrucou o líder do governo, com o dedo em riste para o colega.
Estava armada a confusão.
“Esse líder está muito nervoso! Leve esse nervosismo para outro lugar, aqui não! Não admito ser tratado assim, me respeite”, esbravejou Inocêncio, partindo para cima do petista.
A sessão pastelão levou o comunista Aldo Rebelo (PCdo-B-SP) a apelar à intervenção divina para evitar a troca de socos: “Pelo amor de Deus, parem com isso. Se não pararem vou suspender a sessão”.
Conhecidos pelo pavio curto, os deputados João Fontes (PDT-SE) e Ronaldo Caiado (PFL-GO) se viram, de repente, na figura de apaziguadores, sob o olhar assustado de José Dirceu, que também tentava apartar os colegas. Contido pelos três, Inocêncio ameaçou partir novamente pra cima do petista. “Vou lhe quebrar a cara, seu moleque”, gritou. “Por Pernambuco, Inocêncio, não agrida!”, apelou o deputado Carlos Batata (PSDB-PE). A sessão foi suspensa, e a MP do Bem arquivada, por decurso de prazo para votação.
Inocêncio Oliveira x João Fontes
Quem assistiu de perto, jura que foi tudo jogo de cena, pois a votação do salário mínimo já estava acordada entre os líderes da Câmara. Resultado combinado, era a vez de a oposição aproveitar os holofotes e fazer suspense para apavorar o governo antes de votar pelo salário mínimo de R$ 300. O resultado: mais briga no plenário da Câmara.
Após a votação, o deputado João Fontes, aos gritos, pedia: “Verificação! Verificação (de quorum). Houve uma manobra para não contar os votos. O governo ganhou no grito e na tora”.
“Vossa Excelência será levado ao Conselho de Ética”, berrou Inocêncio. “Já está no Conselho de Ética”, esbravejou o pernambucano, enquanto cortava o microfone do colega.
Esse não foi o único embate entre os dois. Dias antes, ao presidir uma sessão da Câmara, Inocêncio já havia ameaçado Fontes com a abertura de um processo de cassação por quebra de decoro. O pedetista mostrou para o plenário uma ratoeira para, segundo ele, “pegar os 300 picaretas” do Congresso. Diante da negativa do ex-petista, o pernambucano gritou: “Temos que manter a ética! Retire esse instrumento da tribuna!”.
E cortou o som do microfone de Fontes.
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