Uma certeza tenho, quem perde. Com o golpe branco dado pela direita paraguaia, perde a democracia paraguaia, a Unasul, o Mercosul e, principalmente, o povo paraguaio. Povo sofrido e maltratado pelos seus governantes. Povo que sonha, mas cujo sonho é adiado. Sempre jogado para frente, para cada vez mais longe.
Horas depois do golpe foi possível visualizar as reações de vários governantes: Rafael Correa, do Equador; Hugo Chávez, da Venezuela; Cristina Fernandez, da Argentina, e Evo Morales, da Bolívia, veementemente condenaram o golpe e disseram não reconhecer o novo (muito antigo) governo do Paraguai. Antigo no modo de chegar ao poder: golpe na democracia. O “novo” governo chega como os de antigamente sempre chegaram: nos braços da elite (políticos, fazendeiros e empresários). Federico Franco (sobrenome sugestivo), o vice que assumiu, é membro de confiança da oligarquia local. A mesma oligarquia que deu suporte à ditadura de Alfredo Stroessner (1954-89). Não é do mesmo partido, mas o que interessa é que é da mesma classe.
O Brasil reagiu com muita cautela (tinha que ser um pouco mais agressivo), como é próprio da diplomacia brasileira, dizendo que ia analisar que posição tomar após ouvir os países que compõem a Unasul. Disse também que “não tomará medidas que prejudiquem o povo irmão do Paraguai”. Importante e louvável preocupação. Mas como impor sanções aos golpistas sem prejudicar o povo? Há que buscar meios.
Quem ganha são os Estados Unidos
Os EUA, como fizeram por ocasião do golpe em Honduras, imediatamente colocaram panos quentes para tentar tirar proveito do impeachment de Fernando Lugo. Primeiro, negam que tenham estimulado o golpe. Negarão, até o dia em que os arquivos serão abertos para os estudiosos, ou antes, se alguém vazar para o Wikileaks. Negam ter estimulado o golpe, mas foram os primeiros a reconhecer o “novo” governo.
É sabido que nos últimos anos os EUA perderam influência na América do Sul e hoje vivem esperando uma brecha para agir. O golpe na democracia ocorrido no Paraguai pode ser a brecha esperada. Conforme afirma o jornalista Luiz Carlos Azenha, “não é pouco o que Washington pode obter: um parceiro dentro do Mercosul” (“O que os Estados Unidos podem ganhar com o golpe no Paraguai”, Viomundo, 23 de junho de 2012).
Lembro aqui dois fatos (poderia lembrar mais) que demonstram o interesse da elite paraguaia de se entregar nos braços dos ianques. O Paraguai está localizado no coração da América do Sul e nesta região, chamada Chaco, os EUA tem um aeroporto em Mariscal Estigarribia. Muito recentemente, o Paraguai permitiu manobras militares americanas usando este aeroporto.
Após os parlamentos de Argentina, Brasil e Uruguai aprovarem a entrada da Venezuela no Mercosul, o Congresso paraguaio, dominado pela elite de direita, sempre de olho no que pode levar vantagem, segurou por quatro anos o acordo, não o votando até o momento. Há informação de que o acordo foi segurado a pedido dos EUA.
Lembro novamente o artigo “O que os Estados Unidos podem ganhar com o golpe no Paraguai” (23 de junho de 2012), de Luiz Carlos Azenha. Ele chama a atenção para um fato importante: há uma grande extensão de terra agriculturável na região do Chaco paraguaio. Região totalmente vazia e na qual Washington pode obter condições favoráveis para a expansão do agronegócio. Uma das preocupações das empresas multinacionais, como Monsanto, Cargill, Bunge, Basf, entre outras, é a segurança jurídica. Segurança jurídica para essas empresas não é sinônimo de democracia, mas sim de garantia de seus negócios. As ditaduras garantem melhor esse tipo de negócio. Ditaduras impedem contestação. “Elas querem a garantia de que seus investimentos não correm risco. É óbvio que Fernando Lugo, a esquerda e os sem-terra do Paraguai oferecem risco a essa associação entre o agronegócio e o capital internacional”, explica Azenha.
Vários golpes no mundo, principalmente na América do Sul, foram patrocinado pelos EUA, para ajudar suas empresas. Não é impossível que outro tenha ocorrido. Neste caso não só para ajudar empresas privadas norte-americanas, mas também para interromper o processo de integração sul-americana com grande hegemonia política do Brasil.
Luiz Carlos Azenha, em outro texto (“El Pulpo trocou de nome, mas continua atacando”, Viomundo, 24 de junho de 2012) afirma que “do ponto de vista de Washington, o Paraguai é um valioso peão para colocar pedras no caminho do Mercosul, da Unasul e de todos os organismos multilaterais regionais que excluam os Estados Unidos…”.
Tenho certeza: se os países do Mercosul e da Unasul não souberem jogar esse jogo, quem mais ganhará serão os Estados Unidos.
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