Márcia Denser*
Não bastassem várias gestões do PSDB no governo do estado de São Paulo, ao que tudo indica vai dar PSDB novamente, com José Serra podendo se eleger já no primeiro turno, segundo as pesquisas. Isso prova mais uma vez que, apesar da conscientização maior e dos avanços democráticos, o eleitor brasileiro ainda vota essencialmente em indivíduos, não em partidos ou programas de governo. E isso também vale para o governo federal.
Incidentalmente, o voto personalista, neste momento e contexto político-histórico do país, parece contrariar as teses do sociólogo Francisco de Oliveira expostas no Rio, dentro do controvertido ciclo de debates "O Esquecimento da Política", que se realiza neste mês de setembro, organizado pelo jornalista Adauto Novaes. Para Chico, a política está se tornando irrelevante, pois sua "colonização" pela economia acaba com a sociedade e com os indivíduos, além de minar a capacidade que o conflito político sempre teve de corrigir as desigualdades sociais e de poder criadas pelo capitalismo.
Na ausência da política, o que fica? Uma sociedade de "mônadas", menos que indivíduos, sem capacidade de intervenção. E o maior exemplo desse esvaziamento foi o fato, festejado por muitos, de a crise política, que já dura mais de um ano, não ter afetado a economia. E ele pergunta: se uma crise política não pode afetar a economia, para que serve a política?
Ao contrário do que reza a cartilha marxista, é na política, e não na fábrica ou no ambiente de trabalho, que ocorre a luta de classes, bem como a possibilidade de se restringir o processo de acumulação capitalista. Com o crescimento das empresas em poder, para além dos Estados nacionais, essa arena local de conflito fica enfraquecida para fazer frente às transnacionais. Chico conclui que estamos nos encaminhando para uma sociedade sem controle, salvo o único que escapa ao controle, o mercado. Os partidos já não representam as classes sociais. Assim, o conflito e as propostas alternativas se enfraquecem, e a política gira em falso.
Catastrofismo distópico à parte é bom botar as barbas de molho, prevenir-se, começando por questionar que grupos de interesse os candidatos representam, qual o programa de seu partido político, de que ações podem ser responsabilizados como homens públicos (pois como empresários ou gerentes de banco, sujeitos privados, não precisam dar satisfações de nada a ninguém, logo não podem ser responsabilizados publicamente por coisa alguma, uma vez que o objetivo da empresa é tão-somente o lucro).
No caso do PSDB de José Serra, que é o olho do furacão da distopia em pauta, é bom ter em mente que o partido tem como bandeira o modelo neoliberal do Estado mínimo, um Estado hiperprivatizado que consequentemente se propõe a dar o mínimo de satisfações ao distinto público, as tais possíveis futuras "mônadas sociais".
Que já não sendo mais indivíduos, não mais precisarão ter garantidos seus direitos humanos, não é mesmo?
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